PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

sábado, 3 de maio de 2014

POST ESPECIAL #scfinale

Agradecimentos


Bom, termino esta primeira jornada com orgulho de dizer que viajei com vários guardiões que me guiaram através de minuciosas leituras e críticas positivas e negativas sobre o que eu estava escrevendo.
Agradeço Thais de Camargo, Verônica Lacerda, Gabriel Folena, Melícia Oliveira, Fernanda Fernandes, Eduarda Michaelle, Alynie Maria, Mariane Tomazzi, Lucas Campos, Gabriel Martins, Taynara Lima, Lorena Rodrigues, Amanda Lima, e a todos que acreditaram (e ainda acreditam) neste projeto. 

Saibam que a jornada não terminou não, para falar a verdade, só está começando. 

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btw amigos, mto obrigado por terem acompanhado a historia de peter, eh uma honra saber q tive tanto apoio e ajuda para concluir essa historia.
nao fiquem triste por nd q aconteceu
ja temos novidades em breve
deixo logo p vcs um gostinho da proxima aventura de peter

http://acorridaespacial.blogspot.com.br/


estamos smp no twitter @starschronicles
e no facebook As cronicas estelares.
ate junho! :)
bjs estrelados.

CAPITULO 15 #scfinale

15 INTERROMPIDO

Quanto mais eu viajava usando os códigos, mais enjoado eu ficava cada vez. Esse era o fato. Não me acostumava com o solavanco no corpo de jeito nenhum. O estomago ficava enjoado em todas às vezes. Óbvio que ficaria, até porque todas as partículas do meu corpo estariam se movendo do espaço para a Terra, através de um simples comando de um celular.
Abri os olhos e percebi que estava em Washington novamente. Senti saudades do céu escuro, porém agora tudo o que eu via era o céu claro, o horizonte com algumas nuvens e muita neve. Estava quase clareando, provavelmente de manhã, e eu sabia onde estava. Só precisava pegar um ônibus.
Fiquei no ponto de ônibus tremendo, procurei nos meus bolsos algum dinheiro e finalmente achei, o suficiente para pagar duas passagens, porém só iria precisar de uma mesmo, olhei o celular e vi a bateria: 51%. A mágica do Universo tinha simplesmente acabado. Terra, você podia ter essa tecnologia também, pensei.
Entrei no ônibus e a cadeira preferencial que eu sempre usava estava ocupada por uma mulher cheia de sacolas de um hipermercado. Tive de ficar em pé.
Sai do ônibus e andei algumas quadras até chegar em casa, ao virar a rua, consegui ver minha casa. Um sobrado comum de dois andares, com uma varanda pequena e uma garagem e várias janelas.
Abri a porta e ouvi alguém na cozinha. Minha mãe. Ela apareceu com um grande sorriso no canto do rosto com uma panela na mão.
– PETER! – ela gritou e derrubou a panela no chão, pulando para não se queimar. Pulei junto e rimos.
– Oi mãe! – disse.
– Finalmente, estava sentindo sua falta! – ela falou.
Ela parecia alegre demais. Demais para uma mãe normal. Cadê o desespero? As ligações para a polícia? Os avisos de “você viu essa pessoa?”.
– Mãe, você não se preocupou enquanto eu estava fora não? – perguntei.
– Claro que sim, mas... – ela colocou as mãos nos cabelos. Percebi claramente suas linhas de expressões mais fortes. Ela estava ficando velha. – Precisamos ter aquela conversa.
Estremeci.

Sentamos na habitual mesa de madeira enfeitada com uma flor amarela no meio. Eu em um canto e minha mãe de frente para mim. Ela batia os dedos na superfície parecendo angustiada por dentro. Eu sabia.
– Hum, como eu começo a dizer isso? – ela disse.
– Pelo inicio é uma boa ideia – sugeri.
Ela fez uma careta.
– Eu já sabia que isso iria acontecer, quando seu pai estava no Universo, eu fiquei apavorada, mas depois ele me contou e disse que haveria uma chance muito grande de você ser o Descendente.
Ela parecia devastada ao citar o nome do meu pai.
– Mas ele também não era um? – perguntei com dúvida.
– Não – ela disse, secamente.
Eu fiquei pasmo. Mais uma coisa que eu não sabia. Eu estava cansado de ser o último, a saber, de qualquer coisa que envolvesse a minha vida.
– Peter, isso é bom – insistiu – Você voltou, ao menos isso! Senti tanto sua falta!
– É, eu também – menti.
Fiquei em silencio. Ela também. Passei as mãos pela mesa várias vezes, realmente estava me sentindo enganado por dentro e não queria mais dizer uma palavra sobre isso. Sorte a minha que minha mãe tem um certo sexto sentido quando se diz em Peter emburrado e sempre sabe o que dizer em seguida para quebrar o gelo, coisa que eu não herdei dela.
– Estava fazendo café da manhã!  Você quer algo? – ela perguntou.
– Acho que não, tenho que ir para a escola né?
– Sim, você faltou seis dias e perdeu uma prova surpresa de Física, ligaram aqui para casa e eu tive de dizer que você foi a um Retiro para Crianças com Distúrbios Sociais – ela disse e encarei-a com raiva – Mentira!
– O.k., vou pegar as minhas coisas e enfrentar tudo o que tem para hoje – eu disse me retirando da mesa.
– E aí, o que ocorreu lá? – ela perguntou ansiosa pela resposta.
– Quando eu chegar da escola eu te conto tudo, tudo bem? – prometi a ela.
– Tudo bem! – e vi que seu rosto assumiu uma expressão de tristeza.
Enquanto eu subia pelas escadas, ouvi várias risadinhas da minha mãe. Cheguei no corredor superior e na porta do meu quarto tinha uma folha impressa: “Bem vindo de volta, Peter”. Abri a porta e me deparei com o show que minha mãe tinha feito em meu próprio quarto.
Minha parede esquerda estava pintada de preto, e as três outras estavam com um papel de parede com várias estrelas, constelações, cometas, planetas e muitos astros que nem consegui contar. Minha cama com um cobertor escuro que lembrava o céu do Universo parecia muito mais confortável. Minha escrivaninha onde ficava meus materiais escolares estava arrumada (milagre) e um grande telescópio estava de frente para uma janela nova, enorme e transparente.
Ouvi um suspiro atrás de mim e lá estava a minha mãe, sorrindo como um anjo. Corri e nos abraçamos. Eu realmente tinha adorado o novo quarto.
– Te amo, mãe – disse.
Ela assentiu.
– Também te amo, Peter.

Sai de casa com duas blusas de frio e um cachecol. Peguei novamente o ônibus e rezei por toda a viagem que meus materiais ainda estivessem no almoxarifado. Desci do ônibus e pisei no gelo, dancei por um momento no gelo todo desengonçado e caí no chão. Algumas pessoas que estavam entrando na escola riram de mim.
– Brasileiros – disse uma voz feminina atrás de mim. Me virei e vi uma menina com cabelos cor de mel, e lindos olhos castanhos estendendo a mão para mim. Ela também estava cheia de blusas de frio e usava uma touca cinza que a deixava perfeita. Ela sorriu e tudo irradiou, não havia mais neve, não havia mais nada entre ela e eu, óbvio que tive que aceitar sua mão.
– Oi – disse – Sou Peter. Obrigado pela ajuda.
– Sou Claire – ela disse e sua voz soava muito alegre. Ela me lembrava de alguém, mas naquele momento não importava mais.
– Acho que eu já te vi na minha aula de história... – eu disse tentando me lembrar da sua fisionomia, mas tinha certeza que não era disso que eu lembrava.
– Sr. Chang? Sim! – ela respondeu.
Subimos as escadas da escola rindo e comentando sobre as aulas do Sr. Chang, óbvio que nenhum americano nos entendeu, o que era mais engraçado. Pedi um momento e entrei no almoxarifado e vi minha mochila amarela caída no chão. Parecia que ninguém tinha entrado ali.
– Claire, qual sua primeira de hoje? – perguntei pegando meu horário e vi que teria Física.
– Artes, a segunda é História – ela disse.
– A minha também!
– Nos vemos na aula? – ela disse.
– Sim, nos vemos na aula – prometi.

Na aula do Sr. Gallagher se resumiu em ele explicando o funcionamento de um eclipse solar, enquanto eu fazia uma prova sobre eclipse Lunar. Os boatos que ouvi de ele estava tão fascinado pelo universo desde que os meteoritos caíram no dia que fui convocado se espalharam pela sala até chegar a mim. Alguns quiseram me dar cola sobre como um eclipse funciona, mas recusei, eu sabia.
Terminei a prova em alguns minutos e assisti a explicação do Sr. Gallagher desejando muito que o sinal tocasse para que a aula do Sr. Chang começasse, não pela aula, mas sim pela Claire, minha nova amiga.
O sinal bateu e sai correndo para a outra sala, algumas pessoas me chamaram – talvez para perguntar o motivo de eu ter tido tantas faltas-, mas ignorei e corri.
Cheguei à sala e encontrei Claire em uma mesa guardando lugar para mim. Nunca em anos estudando nos Estados Unidos, nem no Brasil ninguém tinha guardado um local para mim. Me senti honrado.
– Cheguei atrasado? – perguntei.
– Não, ele ainda nem fez a chamada – ela respondeu.
A aula foi chata, e a melhor parte disso é que eu já sabia que ela seria. Suspirei várias vezes ouvindo Sr. Chang reclamar sobre tudo, o tempo, os alunos e muitas coisas que preferi não escutar.
Eu e Claire jogamos jogo da velha e assim passamos uma das três horas semanais que tínhamos de História.
O resto do dia nós dois passamos tendo as mesmas aulas: Biologia e por fim, Inglês. Almoçamos na escola mesmo e resolvemos voltar para casa.
Pela primeira vez eu estava voltando para casa querendo voltar e não querendo chegar em casa o mais rápido possível para dormir. Na volta para o ponto de ônibus descobri que Claire morava somente há uma quadra da minha e fomos juntos.
Também pela primeira vez sentei junto com alguém no ônibus que não fosse minha mãe em dias de reuniões, acho que eu estava realmente de uma companhia. Mesmo só algumas horas longe do espaço, eu já estava superando as despedidas.
– Hum, Claire, Amanhã é que dia? – perguntei, pois não sabia realmente que dia era, mas meu subconsciente queria muito que fosse um dia onde tivesse aula para eu poder ver Claire de novo.
– Sexta – ela respondeu – O melhor dia da semana, com certeza.
– Pode ter certeza – concordei.
O ônibus parou. Olhei para frente e vi um grande engarrafamento. Carros estavam parados em nossa frente, formando uma fila enorme. A neve havia cessado e algumas pessoas estavam descendo do ônibus para ir para suas casas andando.
– Sua casa é muito longe daqui? – ela perguntou.
– Não, quer ir andando? – sugeri.
– Vamos!
Descemos do ônibus e andamos pela calçada. Passamos por um cinema e tiramos algumas fotos com alguns pôsteres que Claire achou muito engraçado. Esbarramos em algumas mesas e cadeiras que estavam do lado de fora de uma cafeteira e zuamos alguns hipsters que estavam tirando fotos de si mesmos com copos de café.
– Há todo tipo de pessoa no mundo – murmurou Chloe e demos boas risadas.
Depois de dez minutos de caminhada, Claire reclamou de frio. Ela veio de uma região do Brasil onde fazia muito calor, não me disse qual, mas quando ela citou as praias e sua viagem para Fernando de Noronha e Porto Seguro, desejei estar no Brasil no exato momento.
A rua estava muito animada, várias pessoas corriam, vários repórteres também, carros com grandes antenas apontando para satélites estavam fazendo suas transmissões.
– O que será que aconteceu? – perguntou Claire.
– Não faço à mínima – respondi.
Andamos em direção a nossas casas e mais bombeiros passavam com as sirenes ligadas. O trânsito estava péssimo, e todas as pessoas perguntavam umas para as outras o que estava acontecendo. Presumi que poderia ser algum incêndio.
– Você ouviu isso? – disse Claire animada apontando para uma repórter que estava com um microfone na mão olhando com uma expressão séria para a câmera.
– Não, o que ela disse?
– Mais um meteoro caiu! Washington está sendo presenteada – ela bateu palminhas.
Meu coração palpitou no momento que vi os lábios dela abrindo e fechando para me dizer a palavra meteoro. O mundo se fechou imediatamente, tudo o que passava em minha mente fora os problemas que tive no espaço envolvendo esse perigoso astro.
Meteoros, como o que matou Haro em Vitória, Meteoros, como o que destruiu Caronte e causou o dizimo de Plutão. Meteoros que nos atacaram enquanto saímos da órbita do Planeta.
O pressentimento ruim veio.
Meus ouvidos latejavam enquanto eu andava depressa. O vento frio batia em meu rosto e queimava, mas algo dentro de mim dizia que nada estava bem. Minha visão estava ficando embaçada e não sei se eram lágrimas.
– Peter! – ouvi Claire gritar atrás de mim.
A ignorei.
Sai correndo por meio dos carros parados e alguns repórteres. Cheguei à entrada do bairro habitacional e entrei na primeira quadra e vi uma multidão vinda do segundo bloco. O meu.
Cambaleei entre a multidão expulsando alguns do meu caminho e consegui chegar a calçada, onde algumas pessoas só estavam paradas e foi mais fácil de passar por entre elas.
Enquanto cortava caminho, ouvi várias pessoas dizendo coisas horríveis em inglês, porém minha mente traduzia tudo automaticamente:
– Gente, que desastre.
– Washington está sofrendo!
– Ele está voltando!
– Mais uma família que se vai!
– Voltem para dentro de casa!
– Se escondam em seus porões.
– É o aquecimento global que está fazendo isso!
Virei à rua e entrei no bloco. A terceira casa estava pegando fogo. Minhas pernas ficaram fracas e cai na calçada. Minha visão estava escurecendo. A rua estava lotada de bombeiros, policiais e vizinhos curiosos. Se eu desmaiasse naquele momento, seria pisoteado.
Claire chegou atrás de mim arfando e me segurou. Eu suava e mesmo limpando, brotavam gotas em todas as partes do meu corpo. Eu não conseguia falar, meus lábios pareciam ser feitos de chumbo. Eu não conseguia chorar, não havia água suficiente para isso.
– Peter – disse Claire, me virei, olhei para seu rosto e ela entendeu o que eu queria dizer com toda aquela situação – Meu Deus!
Respirei com dificuldade, sai dos braços de Claire e empurrei muitas pessoas. Ultrapassei a linha posta pela policia e um guarda qualquer me segurou, não olhei para seu rosto, mas dei um soco tão forte que ele me largou. Cheguei a calçada da minha casa e cai de joelhos no chão.
Não sabia gritar, não sabia fazer nada. Só consegui contemplar a minha casa pegando fogo e uma grande pedra partindo ela no meio. Um meteoro com anéis, eu conseguia ver. Eu sabia de onde tinha vindo aquilo, eu sabia.
– Mãe – ululei sem forças e bati as mãos no chão. As lágrimas vieram descendo como se meus olhos fossem uma cachoeira.
Os policiais agarram meu braço e me retiraram a força do local me jogando na rua. Claire gritou com um e avançou e levou um soco no rosto, caindo também no chão. Os moradores que estavam ali rodeando o perímetro gritaram desesperados, alguns correndo, outros criticando o sistema de segurança.
 Meu celular vibrou no meu bolso, não quis atender, não quis fazer nada. Só queria ficar ali, parado, tentando entender o que tinha acontecido. Eu estava caído no chão, olhando para a minha casa destruída, um meteoro a fazendo pegar fogo e fora Deimos que enviara ele.
A voz de deboche dele flutuou em minha cabeça: “Monica? Ela vai entender”.
Meu celular ainda vibra no meu bolso. Consegui força para pegá-lo. Ainda com a visão turva, consegui ler “RESTRITO” na tela principal. Atendi.
– Alô?
– Peter, acho que achamos ele! – disse a voz de Chloe.
– Chloe? – perguntei.
Claire olhou para mim e perguntou quem era, eu não respondi.
– Chloe? Você está me ouvindo? – gritei agoniado limpando as lágrimas dos meus olhos.
– Achou quem, Chloe? – ouvi um barulho ensurdecedor, um bipe muito forte que me fez largar o celular. 
Tateei no chão com o coração doendo tentando achar o aparelho, finalmente Claire me entregou e coloquei na minha orelha que já estava quente.
– Chloe? – berrei e ninguém respondeu. Olhei para o visor do celular, rachado, mostrando a minha tela inicial. Uma foto minha com minha mãe no meu aniversário de dez anos.
A ligação tinha caído.




FIM DO LIVRO UM



CAPITULO 14 #scfinale

14 BONANÇA

Fiquei por mais uns dias na Base. Após o acontecimento envolvendo a morte de Sky, depois de umas horas conseguimos nos mover. O eclipse tinha acabado e a iluminação voltou ao normal, menos ela. Chloe ficou um dia e meio sem dizer uma palavra. Brandon e eu tentamos arrumar a Base, mas não conseguimos.
Andávamos pelos corredores sem dizer uma palavra. A única ideia que tivemos foi de convocar as plêiades para levar os corpos dos mortos que ficaram jogados pela Lua. Elas se recusaram a levar todos os corpos de vez, mas acabaram aceitando depois que Brandon informou que todos os habitantes de Plutão mortos depois da destruição do Planeta não precisariam da ajuda delas.
Limpamos o chão dos corredores, os vidros das lâmpadas quebradas e as portas de metais que Chloe havia explodido quando chegamos naquele dia, estava tudo quase voltando ao normal, quase.
A primeira vez que Chloe disse algo foi enquanto mexíamos em uma fiação estranha que tinha se soltado da parede.
– Venham comer! – ela gritou.
Sentamo-nos à mesa transparente que Brandon e eu tentamos consertar, não ficou totalmente boa, porém conseguimos nos apoiar sem quebra-la novamente.
Foi naquele momento que conseguimos contar tudo o que tinha acontecido depois que nos separamos. Eu contei para Brandon o nós fizemos antes que ele aparecesse e assim ele também fez.
– Depois que eu pedi para vocês irem, fiquei por uns minutos segurando na base do banco esperando minha morte, sim, eu achei que iria morrer. Porém vi sua bandeira e fui me arrastando até tocá-la. Mas e o medo de largar o banco e descer direto para as águas violentas que estavam destruindo o metal? Eu tinha feito o teste, tentando por a água no recipiente de metal que continha água e o metal tinha derretido, mas no plástico não. Se o metal estava sendo derretido com aquilo, imagina meu corpo! Mas consegui acumular coragem e com um pulo encostei-me à bandeira, ela simplesmente se fragilizou e a nave caiu nas águas, as duas partes. Sim, perdemos tudo. Eu rezei a Plutão para não morrer, e dito e feito. Sua pulseira me transformou em um plástico ambulante. Meu corpo ficou totalmente coberto de plástico, eu estava parecendo uma garrafa. Assim flutuei pelas águas e cheguei à margem junto com a garrafa que tinha enchido. Vi o prédio e vim correndo. Vi vários corpos e o corredor cheio de destroços e percebi que não estava acontecendo algo legal, entrei aqui e vi tudo escuro e consegui ver tudo perfeitamente. Uma das vantagens de morar em Plutão. Ataquei a única pessoa que era estranha no momento e ao menos acertei né?
E assim ficamos ali sentados comendo comida espacial dentro de embalagens de pasta de dente.
Depois de algumas horas, resolvemos arrumar o local.
– Eu vou arrumar a maquete que destruí – sugeri e os dois riram, eu havia arruinado Saturno e seus anéis.
Levamos um tempo para arrumar tudo. Coloquei os planetas em ordem, porém não mais no teto, Chloe disse que não podíamos por mais os planetas no centro de tudo, não mais. Os planetas ficaram rodeados no puff onde eu sentei pela primeira vez que estive aqui e Haro e Herbig. Agora, os dois estavam mortos.
Comecei a pensar na quantidade de pessoas que morreram nesta jornada, Haro, Herbig, Sky, Austin, alguns habitantes da Lua, e a população de Plutão. Se fosse para continuar assim, não queria nunca mais voltar.
Mas no fundo eu sentia a obrigação de que o Universo estava errado, que algo estava totalmente estranho e que era eu que era o responsável por isso.
Balancei a cabeça tentando me livrar destes pensamentos e me concentrei no momento. Estávamos arrumando tudo, alegres por fora e abalados por dentro.     
Por um momento pensei no que eu iria fazer agora. Voltar para casa? Continuar aqui? Acho que não tinha pensado no que fazia depois dessa jornada. Eu tinha avisado minha mãe, mas ela respondeu tão secamente que eu não considerei como mensagem passada.
– Gente! – Chloe disse e nós dois olhamos para ela ao mesmo tempo, ela suspirou antes de abrir a boca novamente – Precisamos organizar tudo.
Após arrumarmos a Base ela ficou apresentável. Não do jeito que vi antes, mas não havia mais corpos, vidros, lâmpadas quebradas, mesas e computadores com fios soltos. Estava normal.
Chloe trouxe um quadro como os que os professores escreviam na escola, eu e Brandon nos sentamos em puffs prateados e ficamos de frente ao quadro e a Chloe. Ela pegou uma caneta e ao apertar o botão, o bico brilhou vermelho. Laser.
Ela desenhou rapidamente o sistema solar. Ela era destra, eu também. O sol no meio e os planetas. Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno. Do lado esquerdo, colocou o nome Deimos e Imperador, lado a lado e escreveu Perigo em cima dos nomes.
– Este é o sistema solar, ou sei lá, era – ela começou – Deimos veio de Marte, então irei por este em zona de perigo também.
Ela circulou marte com outra caneta laser de cor azul.
– O imperador, sabemos que é de outra galáxia, Andrômeda para ser mais direta – disse ela escrevendo o nome no quadro – Outro inimigo.
­– Plutão foi dizimado – ela disse, e anotou: sem plutão no quadro.
Brandon assentiu e pigarreou.
– Mais alguma informação? – perguntou.
– Creio que não – eu disse olhando para Brandon.
– Não – ele confirmou.
– Então acabamos nossa jornada – ela finalizou.

Houve um dia que Chloe nos levou para a superfície da Lua e nos fez deitar em um pano. Deitamo-nos nós três e ela parecia muito animada. Era melhor vê-la desta maneira do que triste. 
– Vocês vão amar! – ela dizia batendo palmas.
Depois de uns minutos, um ponto branco surgiu no céu estrelado. Se mexeu rapidamente e desapareceu. Um meteoro.
– Lirídeas? – sugeriu Brandon.
– Exatamente.
Mais meteoros surgiram no céu. Em cima de nós eles passavam com toda a rapidez e graciosidade do Universo. Quando sumiam, deixavam um lindo rastro por onde haviam passado: um rastro azul.
Chloe suspirava cada vez que via um meteoro e Brandon estava animado. Era muito lindo de se ver o céu da Lua, no fundo, eu via a Terra, vários satélites não naturais e infelizmente muito lixo espacial. Aquilo doeu meu coração.
– Isso é ruim demais? – eu perguntei.
– Os detritos? Sim, é pior do que você imagina –respondeu Chloe.
– São vários pedaços de satélites desativados que os humanos mandam para o céu só para nos vigiar. O propósito inicial é de transmitir sinal, mas é tudo mentira – disse Brandon.
– Não tem como destruir tudo isso não? – falei.
– Você realmente não os conhece – disse Chloe.
E continuamos deitados na superfície aproveitando a chuva de meteoros e fingindo ignorar a poluição cósmica que estava logo a nossa frente.

No outro dia, Brandon teve de ir procurar por seu pai. Acompanhamos ele até o hangar e um veículo que só cabia uma pessoa (como uma moto espacial) estava disponível.
Houve uma sessão de abraços e nos despedimos.
– Você vai voltar? – perguntei.
– Você vai voltar? – ele respondeu com uma pergunta.
Rimos.
Apertamos as mãos e antes de ele entrar no veículo ele voltou e disse:
– Muito obrigado, Chloe, devo uma a você.
– De nada – a voz dela soou tímida e frágil.
Ele entrou no veículo e acelerou. Em questão de segundos bateu na parede, mas depois desviou e tomou rumo.
– Ele pilota muito mal – confessou Chloe e rimos.

Voltamos para dentro da Base e Chloe pediu para que eu a seguisse. Assim eu fiz. Viramos alguns corredores, e entramos em uma sala que dizia: biblioteca.
As prateleiras metálicas carregavam vários livros que brilhavam. Os livros do Universo não eram nada parecidos com os da Terra. Normalmente as bibliotecas eram recheadas de livros antigos com capas de cores mortas e poeira, mas aqui não, todos os livros eram de metais, lustrados e muito bonitos.
Menos um.
Ele tinha a cor diferente dos demais. Era preto. Aproximei-me e Chloe não disse nada. Tirei ele da prateleira e senti algo diferente dentro de mim. Era desse livro que todos falavam.
Abri e li a primeira página.
Extraído da estrela Sirius
James Allister, 1014”
Eu tremi.
Larguei o livro no chão e olhei para Chloe. James Allister. Descendente de Júpiter. Com o mesmo sobrenome que o meu.
A voz de Brandon ecoou em minha mente em alerta.
– James, o descendente de Júpiter, procurou por toda a galáxia uma estrela especial, uma que sabia o futuro, e ao achar, sugou todo o conhecimento que possuía e escreveu tudo em diários, cadernos, papéis. Dizem que citava um novo descendente que viria de um Planeta muito desenvolvido e que ele iria varrer o Universo com suas próprias escolhas.
Chloe me fitava estudando a minha reação. Ela sabia.
– Você não tinha dito que isto tinha sido queimado? – perguntei.
– Não posso mentir não?
Como isso era possível? Mil anos depois um novo descendente ser chamado com o mesmo sobrenome do antigo. Senti novamente agulhas geladas picando minha nuca.
– Qual sua opinião sobre isso? – ela perguntou.
Comprimi os lábios.
– Assustador.
Abri o livro em uma página qualquer. E realmente, eles não tinham mentido quando tinham dito sobre códigos. Páginas e mais páginas estavam codificadas com símbolos que eu nunca tinha visto na vida. Mas umas estavam normais, escritas em português.
“Primeira Jornada da Última Geração
Observei que ele, Sirius, contou muito pouco sobre ela. Localizei pontos escuros nesta jornada, o que significa mortes, muitas mortes, e um ponto mais escuro ainda. Irá acontecer algo muito ruim. O inimigo está próximo, repetia Sirius todas as horas e tive a obrigação de por aqui. No fim, não espere que tudo tenha acabado. Não espere paz. Não espere as páginas se decodificarem sozinhas, corra atrás.
James Allister, 1014, 03/05/1014”
Chloe ficou atônita e quis ler. Ela leu e olhou para mim com os olhos arregalados.
– Peter, isso é muita coincidência – disse com toda a sinceridade do Universo.
– É... – concluí – Mas o que podemos fazer quanto a isso?
– Nada – ela respondeu.
Saímos da biblioteca atordoados e resolvi que era a hora de ir embora. Disse isso a Chloe e seus olhos quase marejaram. Eu estava deixando-a sozinha. Ela cruzou os braços e contei a ela sobre minha mãe e principalmente a escola. Ela ficou com dúvida, mas no fim, cedeu.
A porta dupla de metal se abriu e dei olá para o solo lunar novamente. Tateei em meu bolso meu celular e segurei com muita força. Uma parte de mim queria voltar o mais rápido possível, mas a outra queria que eu continuasse ali, com Chloe. Mas acho que a saudade de casa estava me corroendo por dentro.
– Chloe – chamei – Será que Austin realmente... Hum... Ahn... – gaguejei.
– Sim – ela disse, abalada.
Fiquei pálido. De todos os seres que tinha conhecido nesta jornada, Austin foi o mais especial. Ele nos salvou na prisão em Mercúrio, teve a ousadia de vir escondido em nosso ônibus espacial. Ele era engraçado e querido. Dava para perceber em Chloe o quanto ela sentia falta de Austin, talvez até mais do que de Sky.
– Desculpa pelo o que ocorreu em Plutão – ela disse – De novo...
– Tudo bem – eu falei.
– É que realmente, eu já gostei dele. Mas não posso ter sentimentos. Não sou humana e nem quero ser...
Assenti mesmo sabendo que era mentira o que ela estava dizendo. Não tínhamos como negar que éramos todos feitos de sentimentos e de poeira estelar.
– Chloe – chamei novamente – Por que você não vem comigo? 
– Eu não posso, você sabe.
Hesitei.
– Acho que é a hora de eu ir – eu disse.
Me aproximei de Chloe e abracei-a. Não do jeito que abracei após a morte de Sky, mas de um jeito diferente, agora realmente com sentimentos.
Desbloqueei o celular e abri o discador enquanto ela estava andando para a Base novamente.
– Chloe? Ahn? O código? – perguntei.
Ela se virou e colocou a mão na testa.
– Você nos salva várias vezes e destrói um planeta e não sabe como voltar para a Terra? *01#
– O.K., Qualquer coisa me chama, estou sempre sem fazer nada.
Na verdade eu sabia o código. Só queria ouvir sua voz novamente.

E digitei o código e liguei, fechando os olhos. 

CAPITULO 13 #scfinale

13 ECLIPSE

Chloe se jogou do chão para a nave pulando e entrando desesperadamente. Seus movimentos estavam rápidos, adrenalina correndo em suas veias e seus olhos arregalados. O medo estava visível.
Brandon quis pilotar, porém Chloe pisou no acelerador antes mesmo de sentar no banco. A nave flutuou por um momento e partiu em disparada. Dei sorte que corri um pouco rápido e consegui entrar, porque duvido muito que Chloe iria me esperar.
– Chloe – alertou Brandon e ela gritou um cala a boca e ele ficou paralisado.
Sentei-me no canto que estava quando fui salvo pelos dois em Plutão e esperei a viagem acabar. O tempo passava devagar. Eu tentava entender o que Chloe estava sentindo, não sabia se era agonia, angústia, raiva, ódio, irritação, mas algo muito forte estava pairado sobre ela. Eu também estava com sensações estranhas, agora, Sky estava em perigo e estava se mostrando vulnerável para toda a galáxia, porém no fundo do meu coração, eu sabia que parte disso era minha culpa. Eu sabia.
Chloe batia os pés na estrutura de metal da nave com raiva e balançava as pernas.
– Brandon, tem água aqui? – perguntei e percebi que não havia bebido água nenhuma vez desde que pisei na Lua. Era estranho. Eu não sentia mais sede de beber água, de verdade, porém eu sentia que eu deveria beber.
– Tem uns recipientes ali no canto – ele respondeu e voltou a olhar para Chloe pilotando. Ele parecia aflito, como se não confiasse a ela sua nave.
– Chloe – disse Brandon mais uma vez e ela ignorou-o.
Levantei e fui até o final da nave. Havia um compartimento lateral, puxei e vi litros de água. Litros e mais litros de água gelada. Abri uma garrafa e bebi. O líquido desceu pela minha garganta e a sensação foi maravilhosa. Beber água na Terra era bom, mas beber água no Universo era melhor ainda.
– Estamos chegando! – anunciou Chloe.
– Chloe... – repetiu Brandon.
– O que é Brandon? – ela perguntou.
– Estamos sem combustível, agora, de verdade.
Chloe acelerou a nave, porém ela soltou barulhos parecidos com um engasgo de bebê em questão de segundos. Nos três nos entreolhamos e percebemos mais uma vez que não ia dar certo.
– Chloe, a Lua é seu território! – eu gritei antes da nave parar completamente no vácuo.
Ela me olhou e achei que ela tinha entendido o que eu tinha dito, mas não. Ela continuou me encarando e subitamente, a nave desceu como descemos para a Terra na banheira.
Fomos jogados para o teto da nave rapidamente. Bati minhas costas em uma estrutura de metal que doeu a coluna e comecei a gritar. Brandon se agarrava no banco do piloto e Chloe gritava, berrava e se debatia.
Seu rosto estava multicolorido, passando de vermelho para roxo, depois uma espécie de azul amarelado. Ela deu um grito final que arrepiou minha nuca, poderia ser muito bem alguém prestes a morrer gritando de agonia, mas era só Chloe.
Senti uma pressão e a nave foi jogada para cima novamente como uma bola de pingue pongue. Fui jogado para baixo e cai no chão esticado. Chloe ainda gritava do nosso lado.
– Chloe! – berrei – calma, iremos conseguir! – tentei acalmá-la.
Ela revirava os olhos. Fechava e abria os punhos e batia-os no chão. Os dentes dela colidiam uns com os outros enquanto ela gritava entre os dentes. Ela estava fazendo algo muito diferente, algo que nunca tinha a visto fazer.
– Peter – chamou Brandon apontando para a janela.
Na pequena janela lateral da nave vi água. Água na forma líquida, balançando e borbulhando. Achei por um momento que estávamos submersos, mas não, não estávamos. Corri para a janela maior da frente da nave e vi mais água sustentando e nos elevando para a Lua. Havia um rasto enorme de água vindo da Terra, como uma enorme cachoeira espacial. Chloe estava sustentando a nave com sua força das marés.
Arrepiei-me com o poder que Chloe possuía. Eu a havia subestimado totalmente. Ela ainda gritava, porém agora estávamos mais próximos da Lua.
– Vamos Chloe! – gritei em apoio.
Brandon me encarou com uma expressão de desaprovação. Eu precisava passar o sentimento para ela que eu acreditava no que ela estava fazendo. Eu precisava fazer com que ela pegasse minha empolgação e transformasse isso em energia ou em poder para nos ajudar. Ela merecia isso.
– Só mais um pouco! Mais um pouco!
A nave subia rapidamente agora. Os berros de Chloe estavam sendo abafados por longas e ofegantes respirações. Eu batia palmas e a fazia acreditar que era possível.
Ela suavizou a expressão e a Nave caiu.
Olhei pela janela e vi uma grande rocha avermelhada, cor de vinho, bem próxima ao vidro, do outro lado também. Estávamos onde eu e Deimos tínhamos passado nos meus primeiros momentos na Lua.
O barulho agonizante de metal arrastando em pedra me fez por as mãos nos ouvidos. A nave tinha agarrado entre as duas montanhas: Monte Carpatus, lembrei o nome. 
– Chloe – chamei dando tapinhas em seu rosto. Ela abriu os olhos suavemente e piscou várias vezes olhando para mim.
Levantei para ir até a janela novamente para encontrar algum meio de sair da nave, porém Brandon alertou:
– Não se mexa.
Olhei para o chão e vi que quando a nave tinha sido pressionada pelas duas paredes de rocha, a superfície metálica tinha rachado. Uma grande linha cortava a nave em duas separando Chloe e eu de Brandon.
– Brandon – disse franzindo a testa.
Chloe acordou no canto e se mexeu. Virei o corpo e antes de por a mão na boca significando silêncio, a nave partiu do meio e descemos arrastando pelas paredes de rocha.
A linha que dividia a nave rachou completamente e a parte de Brandon ficou solta, descendo mais rápido. Ele gritava desesperadamente, sua expressão de medo era visível. Eu tentava me segurar no chão e Chloe, que tinha acabado de despertar, estava incrédula com a situação.
Lembrei-me da única coisa que poderia nos ajudar no momento: a pulseira. Toquei e pareceu que ela estava lendo meus pensamentos e vendo a nossa situação. A bandeira se ergueu novamente em meu braço e com o susto que tomei, joguei-a para Brandon.
Brandon abaixou-se desviando e a bandeira passou e ultrapassou a estrutura de metal furando a entrada da nave e fincando-se na rocha vermelha. A nave deu uma estancada forte levando Brandon para cima novamente e descendo.
Estávamos na situação mais difícil até agora: nossa nave, Chloe e eu, estávamos por cima da nave de Brandon e debaixo de nós, o mare de silício corria violentamente.
– Brandon, você está bem? – gritei.
– Acho que sim! – ele respondeu – Estou agarrado no banco, a nave está virada em quarenta e cinco graus e uma espécie de água prata está encostando e derretendo o metal.
– É silício! Não toque! – berrou Chloe atrás de mim.
– Se eu tocar, eu vou morrer? – perguntou ele.
– Não seja estúpido – ela respondeu.
– Mas tá quase nos meus pés! – exclamou – Há alguma chance de eu ficar sem pernas ao menos?
– Não é hora de piadinhas Brandon – advertiu Chloe e percebi que ela estava realmente preocupada.
– Vamos te ajudar, Brandon! Espera um momento – decidi procurando um meio de descer para ajuda-lo.
– Não! – ele disse – Vocês precisam ir e salvar Sky!
– Mas você precisa de ajuda – rebati.
– Mas eu não sou importante – a voz dele estava melancólica como se ele tivesse sem esperanças de nada. Olhei para Chloe e ela estava fitando o chão.
– Chloe, devemos...? – disse com a voz sufocada, odiava situações assim onde me faziam escolher entre uma e outra opção.
– Sim – ela me interrompeu. Sua expressão agora era de determinação, ela estava com os olhos fixos para as rochas vermelhas que estavam em nossa frente – Vamos escalar.

Escalar rochas lunares não é o tipo de esporte que ninguém deseja fazer. Sério, por um momento, elas possuem a consistência que você realmente pensa que irá conseguir chegar ao topo, mas por outro momento quando você as segura, acha que está segurando borracha. 
De minuto em minuto, Chloe reclamava sobre alguma coisa. “Eu nunca havia visto a Lua desse jeito”, “Sky deve estar correndo um grande perigo”, “Anda logo, babaca” eram as mais comuns.
Chegamos ao topo arfando, deitei no chão terroso e respirei forte umas vinte vezes, imitando a época que fiz natação no Brasil. Indo para baixo da água, respirando e voltando calmamente. Senti meu corpo todo relaxando, assim como meu coração parando de palpitar.
Chloe estava em pé olhando para o horizonte. Virei o rosto e vi o grande prédio que era a Base, ainda lembrando o pentágono americano, mas não nos seus melhores dias. Talvez lembrasse o pentágono no mesmo dia do ataque terrorista de onze de setembro.
A base estava destruída. Toda a estrutura de metal estava quebrada e jogada pela superfície lunar. Vários corpos jaziam no chão, sacrifícios pelo ataque falso de Caronte. Todas aquelas vidas inocentes tinham sido perdidas por uma pessoa. E ela iria pagar.
Chloe começou a correr descendo o monte. Levantei e vi o quão inclinado era, desci devagar, mas ela descia furiosamente, jurei ouvir gritos de agonia, mas nunca perguntei a ela se aquele momento ela realmente estava fazendo isso.
Pisei em falso e caí rolando pelo monte. Meu corpo doía e cada pedaço de rocha pequeno me furava enquanto eu descia sem coordenação motora nenhuma.
Quando cheguei ao plano e parei de rolar percebi que estava todo arranhado. Meu corpo todo doía e minhas roupas estavam rasgadas. As pedras lunares realmente eram afiadas.
Chloe estava a alguns metros na minha frente checando um corpo.
– Carter! Não! – ela berrava com o rosto no peito do corpo do astro. Ele tinha fisionomia de uma estrela, porém como eu não o conhecia, não disse nada. Mas assenti por dentro, todos os conhecidos de Chloe e habitantes da Lua pareciam estar mortos.
– Chloe – murmurei.
Ela olhou para mim e seus olhos estavam marejados de lágrimas. Seres do Universo podiam chorar e demonstrar sentimentos também? Fiquei pasmo. Senti vontade de abraça-la. Andei pelos corpos, alguns rostos eu reconheci do dia que cheguei à Base, mas outros não. Muitas pessoas viviam aqui e agora não haveria mais ninguém.
– Está todo mundo morto, Peter – ela disse olhando para os meus olhos.
Não soube o que responder. Lidar com mortes realmente não era o meu forte, ninguém na minha família na Terra tinha morrido ainda, porém ao pisar no Universo aquilo tinha se tornado comum, ou queria. Primeiro Haro ao meu lado, meu pai morto há muito tempo e eu acreditando em uma mentira, Austin, e agora todos os habitantes da Lua.
Virei o rosto e voltei a observar a destruição da Base. Meu coração palpitou novamente quando vi uma sombra dentro do local pela janela.
– Chloe! – alertei apontando.
Ela arregalou os olhos e saiu correndo pulando alguns corpos aleatórios. Fui atrás.
Entramos na mesma porta que entrei com Deimos no dia que cheguei à Base.
Estava tudo diferente. O chão ainda continuava a grelha de metal, mas as paredes gritavam explicitamente o horror que tinha acontecido ali: marcas de tiros, amassos e um líquido que jurei ser sangue. 
As luzes brancas no teto estavam piscando como em um filme de terror, algumas estavam explodidas no chão, os cactos de vidro espalhados no corredor. A claridade intensa tinha acabado.
– Apareça! – gritou Chloe pelo corredor e a voz dela ecoou.
Algo fez barulho na Base. Não estávamos sozinhos.
– APAREÇA! – berrou e começou a marchar.
Neste exato momento, o som de uma sirene explodiu nos alto falantes do corredor. As poucas luzes que estavam ainda funcionando trocaram a coloração para um vermelho intenso. 
– Desgraçado! – praguejou Chloe.
Na nossa frente, uma porta de metal desceu pelo teto, e percebi que não era só aquela. O barulho era assustador, várias portas estavam descendo ao mesmo tempo.
Olhei para Chloe e a única opção que nos restava era correr.
Saímos em disparada, passamos por uma porta, duas, três. Meu peito já pedia por mais ar, e tive a certeza que correr na Lua não era algo legal para humanos, só havia corrido uns dez metros e estava suando como se tivesse feito uma maratona inteira.
Ouvi um grito e parei subitamente de correr. Chloe estava no chão e uma porta a prensava no chão de metal.
– Calma – gritei olhando para todos os lados tentando achar algo que pudesse ajudar. As paredes não tinham nada e perto da porta não tinham algo que pudessem fazer a porta parar de descer e reverter. Coloquei a mão no pulso e lembrei que deixei a pulseira com Brandon prendendo a nave no monte Carpatus.
Chloe gritava e batia com a mão no chão e eu não conseguia pensar. A outra porta estava descendo também.
Um grito de desespero de Chloe eclodiu e a porta explodiu. Fui jogado para trás no mesmo momento, caindo e deslizando pelo chão metálico.
Chloe se levantou e estava irradiando uma aura prateada. Seu cabelo estava bagunçado e seus olhos exalando poder.
– Eu que mando aqui – disse.
A outra porta já tinha descido totalmente. Mas quando Chloe chegou próxima, ela subiu. Ela marchava pelo corredor e todos os obstáculos pareciam respeitá-la e se curvavam. Era assustador.
Andamos pelos corredores e chegamos ao grande local onde tivemos a primeira reunião. A maquete do sistema solar no teto estava destruída, todos os planetas caídos no chão, a mesa transparente partida no meio e também vários corpos. E sentado nos computadores digitando códigos estava uma figura muito conhecida: Deimos.
A expressão forte de Chloe se desmanchou na hora. Era ele. Tudo tinha sido causado por ele.
– Eu não acredito – ela disse e ele se virou como se estivesse esperando esse momento.
Os olhos pratas de Deimos brilharam entre as luzes vermelhas. Ele apertou um botão e a cor normal das luzes voltou: o branco intenso.
– Bem vinda de volta, desbravadora – ele disse com a voz arrastada.

Ficamos nos encarando por alguns momentos. Eu estava suando de nervosismo. Deimos me cumprimentou com a cabeça e não respondi.
– Como você pode? – disse Chloe batendo a mão na parede – Cadê Sky?
Ele não respondeu.
– Como você pode, Deimos? Depois de tudo que passamos!
– Que passamos? Ninguém nunca me tratou como eu deveria ser tratado! – ele falou.
Chloe olhou incrédula.
– Te abrigamos e você nos trai assim? Trabalhando para o Imperador? Suas palavras foram em vão?
– Trabalhe conosco também! – ele chamou – Alguns já perceberam que a Via Láctea está perdendo credibilidade e quando o Sol virar uma supernova, iremos todos morrer. Precisamos evitar isso!
– Não é por isso que você está se envolvendo com Andrômeda, seu mentiroso!
– É um dos motivos!
– Você é um traidor! Maldito! – berrou Chloe.
– Minha querida, se acalme! Venha comigo, o Imperador trouxe de volta para mim o que eu mais queria: o poder!
– NUNCA! – gritou Chloe.
– Você percebeu que há muitos corpos por aí, sim? Muitos dos que viviam aqui já estão em nossa colônia, trabalhando conosco.
– Espiões – sussurrei.
– Primeira coisa que você, descendente diz de sensato – senti o ódio por Deimos aumentando cada vez mais dentro de mim.
– E o que você ganha com isso tudo? – perguntei ao perceber que Chloe estava tremendo demais para dizer algo.
– A minha salvação, meu caro – respondeu – Daqui a alguns meses, Andrômeda e Via Láctea irão se colidir e se você quer saber, ninguém é páreo para o Imperador.
Lembrei-me da história que Sol e Brandon haviam contado. Era tudo verdade.
– E também trouxe a oportunidade de eu perceber que não preciso de ninguém para viver. Fui expulso de casa, mas isso não significa que perdi minha dignidade.
– Se você quer saber – a voz dela era trêmula – você a perdeu agora.
– Eu não vou perder nada, só vocês irão – ele disse e se levantou. Estava com uma roupa totalmente preta e não possuía nenhum brilho como costumava ter.
Ele saiu correndo e o medo me bloqueou totalmente. Fiquei paralisado e várias vozes eclodiram em minha mente, mas a de Sol falou mais forte: “O que conseguisse chegar a Plutão seria o escolhido e iria arruinar todo o plano de colonização e deu uma missão para Deimos, esperar o descendente voltar e mata-lo”.
Deimos pulou por cima da mesa transparente caindo próximo a nós. Ele levou o braço para trás fazendo o momento para dar um soco em nós, porém Chloe me empurrou para o lado. Deimos atacou Chloe e os dois se chocaram e uma pequena explosão ocorreu.
Deimos chutou Chloe e virou-se para mim. Eu levantei e corri.
Não era muito esperto de qualquer pessoa fugir de uma luta, mas eu não sabia o que fazer, e não sabia lutar, então o mais prático para mim naquele momento fora evitar.
O berro de Deimos invadiu todo o local e todas as luzes apagaram-se. Tentei localizá-lo, mas era impossível. Eu estava perdido, por dentro e por fora. Era o fim.
Senti algo batendo em minha coluna e caí no chão. Era ele. Ele subiu em cima do meu peito e me deu um soco no rosto. Não era só um soco, vi em sua mão algo muito escuro, brilhando e mexendo-se.
– Peter – ouvi Chloe.
Eu precisava me defender, não podia apanhar. Levei mais um soco e mexi a mão deferindo outro. Acertei algo duro: o rosto de Deimos, imaginei.
– Maldito! – berrou Deimos.
As luzes ligaram e vi Chloe nos computadores e Deimos caído no chão com as mãos no rosto. Ele se debatia e mexia as pernas freneticamente. Do seu lado, Brandon estava em pé com a bandeira dos Estados Unidos em sua mão e uma garrafa de silício aberta.
Deimos se virou e passou a perna em Brandon que caiu no chão. Ele tirou as mãos do rosto e vi: Seu rosto estava se deformando. Deimos se levantou para socar Brandon, mas me joguei em cima dele.
A adrenalina percorria em minha veia. Cai nas costas de Deimos e ele caiu em cima de Brandon ao mesmo tempo. Brandon gritou e pegou a bandeira e bateu no rosto de Deimos que estava se deformando. Ele se debateu como um touro e me desprendi dele, voei pelo ar e caí em cima da representação de Saturno na maquete.
– Eu vou te matar, descendente!
– Não vai mesmo! – a voz de Sky ecoou no ambiente.
– Sky! – ele disse.
– Deimos.
Ele correu os olhos pelo local. Brandon estava no chão caído com a bandeira no chão. Eu caído em cima de Saturno. Chloe próxima aos computadores e Sky adentrando na sala.
Ele chutou Brandon e pegou a bandeira de sua mão, e esfregou a haste na estranha escuridão que eu vi enquanto ele estava em cima de mim, as luzes falharam novamente e todo o teto acima de nós explodiu.
As mais estranhas estrelas desceram flutuando pelo ar, todos nós nos espantamos. Chloe se encolheu de medo e Brandon se arrastou para trás se escondendo atrás de um armário.
– Andrômeda traz o recado: Iremos voltar – ele gritou e lançou a bandeira na direção de Sky. O chão e o prédio rimbombaram e as estrelas explodiram soltando fumaça negra.
Tossi e tentei ver algo balançando a mão no ar, nada. Nem um palmo a minha frente eu conseguia ver. Ouvi somente um gemido e um corpo caindo no chão. Do outro lado ouvi outro.
– NÃO!
Engoli em seco. O pressentimento tomou conta do meu pensamento. Tínhamos falhado.  
Chloe explodiu novamente e a luz intensa iluminou todo o local e vi a cena. Sky estava caída no chão com as mãos no peito. A bandeira dos Estados Unidos estava dentro de seu corpo, passando de um lado a outro. Chloe correu desesperadamente e se jogou do lado de Sky.
– Não, não pode ser.
Sky olhou com piedade para Chloe.
– Chloe...
Chloe tentava tirar a bandeira do corpo de Sky, porém não saia. Levantei de cima de Saturno e fitei o chão. Não queria ver mais uma morte.
O choro de agonia de Chloe doía meu coração. Sua irmã estava morrendo em sua frente e não podíamos fazer nada. Morrendo por culpa de alguém que confiaram por tanto tempo, cuidaram e abrigaram. Elas e nós estávamos de mãos atadas e surpresos com o que tinha acontecido.
– Agora eu consigo ver – dizia Sky, mas Chloe não a deixava terminar a frase.
– Você não vai ver nada – relutava Chloe – Vai ficar aqui, comigo.
A mão de Chloe tocou a mão de Sky e ela levou a mão da Imperatriz Lunar em seu rosto.
– Eu consigo sim – disse entre gemidos – Está tudo claro, irmã.
– Não – a voz de Chloe era fraca, triste e desesperadora.
– Chame elas – ela pediu.
Sky pedia pelas plêiades.
– Eu não vou chamar. Não vai ser necessário! – relutava Chloe.
– Peter... – pediu Sky.
Chloe olhou para mim e seus olhos estavam vermelhos, lágrimas desciam e seu nariz estava entupido. Eu me senti paralisado novamente. A decisão tinha sido posta em minhas mãos. Queria virar e fugir, mas não podia. Se esse era o desejo de Sky, assim eu faria.
– Que as estrelas sempre a acompanhem – eu disse baixinho.
O brilho forte vigorou e iluminou todo o local. Brandon apareceu ao meu lado quando as jovens meninas azuis desceram pelo teto de vidro quebrado. A aura angelical deveria nos acalmar, porém a situação não era propícia para o momento.
Chloe se levantou chorando, fraca e abraçou Brandon escondendo seu rosto do que estava prestes a acontecer.
Plêiades, levem esta jovem Lua de volta para o Universo e clame por justiça – disse.
As plêiades estudaram Sky, e soltaram um cochicho que eu não entendi, porém Sky conseguiu. Ela acenou com a cabeça e nos chamou para perto.
– Chloe, você foi a irmã que eu sempre pedi – ela dizia com dor na voz – Mil perdões pelas nossas brigas, nossos momentos que não conseguimos nos entender e por eu ter um dia segregado você da minha parte. Saiba que nunca tive a real intenção de te rebaixar ou de te expulsar da Lua, até porque ela é sua. Agora é sua. Nossa divisão de lado claro e lado escuro não acaba agora, porque ela nunca existiu – e parou para respirar por um momento – Eu te amo. Guarde bem nosso lar.
Chloe soluçou. Era a cena mais triste de todas que eu já tinha presenciado na vida.
– Brandon, eu sabia que seu papel era decisivo nessa jornada. Agradeço a você por ter salvado Peter, e você não estava louco, tudo é verdade. Eu a vi.
Brandon assentiu. E Sky olhou para mim.
– Peter, eu sei que você será um ótimo guardião, mas não se esqueça dos verdadeiros aliados. Não acredite em nada que te disserem a não ser que você consiga ler sobre isso antes. Você irá nos salvar, esperei tanto tempo por alguém como você.
Respirei forte. Não sabia o que responder, e entendi que o silêncio é a resposta mais concisa para estes momentos.
– Meu avô vai me cobrir no meu último suspiro – ela disse apontando para a janela.
Da parte que consegui ver da janela, o universo parecia triste. A terra em nossa frente tampando a Lua, apagando ela totalmente. Estava ocorrendo um eclipse lunar.
Ficamos em silêncio por um momento e assim que voltamos, Sky tinha fechado os olhos. Chloe soluçou e pôs o rosto em meu ombro. Sky tinha ido, mas eu não deixaria Chloe ir também. Uma lágrima brotou em meu olho e tentei segurá-la, mas não consegui.
As plêiades dançaram no ar irradiando um brilho azul e o corpo de Sky começou a se difundir no ar, assim como o de Haro. O pó colorido brilhava tão forte que todos nós fechamos os olhos.
Com os olhos fechados imaginei o que estaria acontecendo nesse momento se eu tivesse ficado na Terra. Não teria me envolvido em nada. Ninguém teria morrido, forças contrárias não estariam atuando dentro como espiões. Parte disso era exclusivamente minha culpa, e eu sabia.
Não tinha porque dizer nada naquele momento, não tinha porque discutir sobre um futuro incerto. O universo tinha se desalinhado, tudo tinha saído dos trilhos, não havia nem como dar uma olhada em volta, pois tudo estava errado, a função que um exercia há alguns dias, não exerce mais agora. Prometi a mim mesmo naquele momento vendo o corpo de Sky se desvanecer que não teria sido em vão. Nada iria nos impedir de continuar lutando pela nossa casa, a Via Láctea.
Continuamos ali no chão depois que o corpo de Sky se fora e somente o que sobrou foi a pulseira, que coloquei em meu pulso novamente. Chloe abraçou Brandon e depois eu. Ela tremia de tristeza. Tentamos acalmá-la, mas quanto mais o tempo passava, mais pesado o clima ficava.

E assim ficamos por um bom tempo, ajoelhados, cheios de tristeza, nervosismo, fraqueza e chocados com a morte de Sky, esperando o eclipse acabar.