PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

sábado, 3 de maio de 2014

CAPITULO 15 #scfinale

15 INTERROMPIDO

Quanto mais eu viajava usando os códigos, mais enjoado eu ficava cada vez. Esse era o fato. Não me acostumava com o solavanco no corpo de jeito nenhum. O estomago ficava enjoado em todas às vezes. Óbvio que ficaria, até porque todas as partículas do meu corpo estariam se movendo do espaço para a Terra, através de um simples comando de um celular.
Abri os olhos e percebi que estava em Washington novamente. Senti saudades do céu escuro, porém agora tudo o que eu via era o céu claro, o horizonte com algumas nuvens e muita neve. Estava quase clareando, provavelmente de manhã, e eu sabia onde estava. Só precisava pegar um ônibus.
Fiquei no ponto de ônibus tremendo, procurei nos meus bolsos algum dinheiro e finalmente achei, o suficiente para pagar duas passagens, porém só iria precisar de uma mesmo, olhei o celular e vi a bateria: 51%. A mágica do Universo tinha simplesmente acabado. Terra, você podia ter essa tecnologia também, pensei.
Entrei no ônibus e a cadeira preferencial que eu sempre usava estava ocupada por uma mulher cheia de sacolas de um hipermercado. Tive de ficar em pé.
Sai do ônibus e andei algumas quadras até chegar em casa, ao virar a rua, consegui ver minha casa. Um sobrado comum de dois andares, com uma varanda pequena e uma garagem e várias janelas.
Abri a porta e ouvi alguém na cozinha. Minha mãe. Ela apareceu com um grande sorriso no canto do rosto com uma panela na mão.
– PETER! – ela gritou e derrubou a panela no chão, pulando para não se queimar. Pulei junto e rimos.
– Oi mãe! – disse.
– Finalmente, estava sentindo sua falta! – ela falou.
Ela parecia alegre demais. Demais para uma mãe normal. Cadê o desespero? As ligações para a polícia? Os avisos de “você viu essa pessoa?”.
– Mãe, você não se preocupou enquanto eu estava fora não? – perguntei.
– Claro que sim, mas... – ela colocou as mãos nos cabelos. Percebi claramente suas linhas de expressões mais fortes. Ela estava ficando velha. – Precisamos ter aquela conversa.
Estremeci.

Sentamos na habitual mesa de madeira enfeitada com uma flor amarela no meio. Eu em um canto e minha mãe de frente para mim. Ela batia os dedos na superfície parecendo angustiada por dentro. Eu sabia.
– Hum, como eu começo a dizer isso? – ela disse.
– Pelo inicio é uma boa ideia – sugeri.
Ela fez uma careta.
– Eu já sabia que isso iria acontecer, quando seu pai estava no Universo, eu fiquei apavorada, mas depois ele me contou e disse que haveria uma chance muito grande de você ser o Descendente.
Ela parecia devastada ao citar o nome do meu pai.
– Mas ele também não era um? – perguntei com dúvida.
– Não – ela disse, secamente.
Eu fiquei pasmo. Mais uma coisa que eu não sabia. Eu estava cansado de ser o último, a saber, de qualquer coisa que envolvesse a minha vida.
– Peter, isso é bom – insistiu – Você voltou, ao menos isso! Senti tanto sua falta!
– É, eu também – menti.
Fiquei em silencio. Ela também. Passei as mãos pela mesa várias vezes, realmente estava me sentindo enganado por dentro e não queria mais dizer uma palavra sobre isso. Sorte a minha que minha mãe tem um certo sexto sentido quando se diz em Peter emburrado e sempre sabe o que dizer em seguida para quebrar o gelo, coisa que eu não herdei dela.
– Estava fazendo café da manhã!  Você quer algo? – ela perguntou.
– Acho que não, tenho que ir para a escola né?
– Sim, você faltou seis dias e perdeu uma prova surpresa de Física, ligaram aqui para casa e eu tive de dizer que você foi a um Retiro para Crianças com Distúrbios Sociais – ela disse e encarei-a com raiva – Mentira!
– O.k., vou pegar as minhas coisas e enfrentar tudo o que tem para hoje – eu disse me retirando da mesa.
– E aí, o que ocorreu lá? – ela perguntou ansiosa pela resposta.
– Quando eu chegar da escola eu te conto tudo, tudo bem? – prometi a ela.
– Tudo bem! – e vi que seu rosto assumiu uma expressão de tristeza.
Enquanto eu subia pelas escadas, ouvi várias risadinhas da minha mãe. Cheguei no corredor superior e na porta do meu quarto tinha uma folha impressa: “Bem vindo de volta, Peter”. Abri a porta e me deparei com o show que minha mãe tinha feito em meu próprio quarto.
Minha parede esquerda estava pintada de preto, e as três outras estavam com um papel de parede com várias estrelas, constelações, cometas, planetas e muitos astros que nem consegui contar. Minha cama com um cobertor escuro que lembrava o céu do Universo parecia muito mais confortável. Minha escrivaninha onde ficava meus materiais escolares estava arrumada (milagre) e um grande telescópio estava de frente para uma janela nova, enorme e transparente.
Ouvi um suspiro atrás de mim e lá estava a minha mãe, sorrindo como um anjo. Corri e nos abraçamos. Eu realmente tinha adorado o novo quarto.
– Te amo, mãe – disse.
Ela assentiu.
– Também te amo, Peter.

Sai de casa com duas blusas de frio e um cachecol. Peguei novamente o ônibus e rezei por toda a viagem que meus materiais ainda estivessem no almoxarifado. Desci do ônibus e pisei no gelo, dancei por um momento no gelo todo desengonçado e caí no chão. Algumas pessoas que estavam entrando na escola riram de mim.
– Brasileiros – disse uma voz feminina atrás de mim. Me virei e vi uma menina com cabelos cor de mel, e lindos olhos castanhos estendendo a mão para mim. Ela também estava cheia de blusas de frio e usava uma touca cinza que a deixava perfeita. Ela sorriu e tudo irradiou, não havia mais neve, não havia mais nada entre ela e eu, óbvio que tive que aceitar sua mão.
– Oi – disse – Sou Peter. Obrigado pela ajuda.
– Sou Claire – ela disse e sua voz soava muito alegre. Ela me lembrava de alguém, mas naquele momento não importava mais.
– Acho que eu já te vi na minha aula de história... – eu disse tentando me lembrar da sua fisionomia, mas tinha certeza que não era disso que eu lembrava.
– Sr. Chang? Sim! – ela respondeu.
Subimos as escadas da escola rindo e comentando sobre as aulas do Sr. Chang, óbvio que nenhum americano nos entendeu, o que era mais engraçado. Pedi um momento e entrei no almoxarifado e vi minha mochila amarela caída no chão. Parecia que ninguém tinha entrado ali.
– Claire, qual sua primeira de hoje? – perguntei pegando meu horário e vi que teria Física.
– Artes, a segunda é História – ela disse.
– A minha também!
– Nos vemos na aula? – ela disse.
– Sim, nos vemos na aula – prometi.

Na aula do Sr. Gallagher se resumiu em ele explicando o funcionamento de um eclipse solar, enquanto eu fazia uma prova sobre eclipse Lunar. Os boatos que ouvi de ele estava tão fascinado pelo universo desde que os meteoritos caíram no dia que fui convocado se espalharam pela sala até chegar a mim. Alguns quiseram me dar cola sobre como um eclipse funciona, mas recusei, eu sabia.
Terminei a prova em alguns minutos e assisti a explicação do Sr. Gallagher desejando muito que o sinal tocasse para que a aula do Sr. Chang começasse, não pela aula, mas sim pela Claire, minha nova amiga.
O sinal bateu e sai correndo para a outra sala, algumas pessoas me chamaram – talvez para perguntar o motivo de eu ter tido tantas faltas-, mas ignorei e corri.
Cheguei à sala e encontrei Claire em uma mesa guardando lugar para mim. Nunca em anos estudando nos Estados Unidos, nem no Brasil ninguém tinha guardado um local para mim. Me senti honrado.
– Cheguei atrasado? – perguntei.
– Não, ele ainda nem fez a chamada – ela respondeu.
A aula foi chata, e a melhor parte disso é que eu já sabia que ela seria. Suspirei várias vezes ouvindo Sr. Chang reclamar sobre tudo, o tempo, os alunos e muitas coisas que preferi não escutar.
Eu e Claire jogamos jogo da velha e assim passamos uma das três horas semanais que tínhamos de História.
O resto do dia nós dois passamos tendo as mesmas aulas: Biologia e por fim, Inglês. Almoçamos na escola mesmo e resolvemos voltar para casa.
Pela primeira vez eu estava voltando para casa querendo voltar e não querendo chegar em casa o mais rápido possível para dormir. Na volta para o ponto de ônibus descobri que Claire morava somente há uma quadra da minha e fomos juntos.
Também pela primeira vez sentei junto com alguém no ônibus que não fosse minha mãe em dias de reuniões, acho que eu estava realmente de uma companhia. Mesmo só algumas horas longe do espaço, eu já estava superando as despedidas.
– Hum, Claire, Amanhã é que dia? – perguntei, pois não sabia realmente que dia era, mas meu subconsciente queria muito que fosse um dia onde tivesse aula para eu poder ver Claire de novo.
– Sexta – ela respondeu – O melhor dia da semana, com certeza.
– Pode ter certeza – concordei.
O ônibus parou. Olhei para frente e vi um grande engarrafamento. Carros estavam parados em nossa frente, formando uma fila enorme. A neve havia cessado e algumas pessoas estavam descendo do ônibus para ir para suas casas andando.
– Sua casa é muito longe daqui? – ela perguntou.
– Não, quer ir andando? – sugeri.
– Vamos!
Descemos do ônibus e andamos pela calçada. Passamos por um cinema e tiramos algumas fotos com alguns pôsteres que Claire achou muito engraçado. Esbarramos em algumas mesas e cadeiras que estavam do lado de fora de uma cafeteira e zuamos alguns hipsters que estavam tirando fotos de si mesmos com copos de café.
– Há todo tipo de pessoa no mundo – murmurou Chloe e demos boas risadas.
Depois de dez minutos de caminhada, Claire reclamou de frio. Ela veio de uma região do Brasil onde fazia muito calor, não me disse qual, mas quando ela citou as praias e sua viagem para Fernando de Noronha e Porto Seguro, desejei estar no Brasil no exato momento.
A rua estava muito animada, várias pessoas corriam, vários repórteres também, carros com grandes antenas apontando para satélites estavam fazendo suas transmissões.
– O que será que aconteceu? – perguntou Claire.
– Não faço à mínima – respondi.
Andamos em direção a nossas casas e mais bombeiros passavam com as sirenes ligadas. O trânsito estava péssimo, e todas as pessoas perguntavam umas para as outras o que estava acontecendo. Presumi que poderia ser algum incêndio.
– Você ouviu isso? – disse Claire animada apontando para uma repórter que estava com um microfone na mão olhando com uma expressão séria para a câmera.
– Não, o que ela disse?
– Mais um meteoro caiu! Washington está sendo presenteada – ela bateu palminhas.
Meu coração palpitou no momento que vi os lábios dela abrindo e fechando para me dizer a palavra meteoro. O mundo se fechou imediatamente, tudo o que passava em minha mente fora os problemas que tive no espaço envolvendo esse perigoso astro.
Meteoros, como o que matou Haro em Vitória, Meteoros, como o que destruiu Caronte e causou o dizimo de Plutão. Meteoros que nos atacaram enquanto saímos da órbita do Planeta.
O pressentimento ruim veio.
Meus ouvidos latejavam enquanto eu andava depressa. O vento frio batia em meu rosto e queimava, mas algo dentro de mim dizia que nada estava bem. Minha visão estava ficando embaçada e não sei se eram lágrimas.
– Peter! – ouvi Claire gritar atrás de mim.
A ignorei.
Sai correndo por meio dos carros parados e alguns repórteres. Cheguei à entrada do bairro habitacional e entrei na primeira quadra e vi uma multidão vinda do segundo bloco. O meu.
Cambaleei entre a multidão expulsando alguns do meu caminho e consegui chegar a calçada, onde algumas pessoas só estavam paradas e foi mais fácil de passar por entre elas.
Enquanto cortava caminho, ouvi várias pessoas dizendo coisas horríveis em inglês, porém minha mente traduzia tudo automaticamente:
– Gente, que desastre.
– Washington está sofrendo!
– Ele está voltando!
– Mais uma família que se vai!
– Voltem para dentro de casa!
– Se escondam em seus porões.
– É o aquecimento global que está fazendo isso!
Virei à rua e entrei no bloco. A terceira casa estava pegando fogo. Minhas pernas ficaram fracas e cai na calçada. Minha visão estava escurecendo. A rua estava lotada de bombeiros, policiais e vizinhos curiosos. Se eu desmaiasse naquele momento, seria pisoteado.
Claire chegou atrás de mim arfando e me segurou. Eu suava e mesmo limpando, brotavam gotas em todas as partes do meu corpo. Eu não conseguia falar, meus lábios pareciam ser feitos de chumbo. Eu não conseguia chorar, não havia água suficiente para isso.
– Peter – disse Claire, me virei, olhei para seu rosto e ela entendeu o que eu queria dizer com toda aquela situação – Meu Deus!
Respirei com dificuldade, sai dos braços de Claire e empurrei muitas pessoas. Ultrapassei a linha posta pela policia e um guarda qualquer me segurou, não olhei para seu rosto, mas dei um soco tão forte que ele me largou. Cheguei a calçada da minha casa e cai de joelhos no chão.
Não sabia gritar, não sabia fazer nada. Só consegui contemplar a minha casa pegando fogo e uma grande pedra partindo ela no meio. Um meteoro com anéis, eu conseguia ver. Eu sabia de onde tinha vindo aquilo, eu sabia.
– Mãe – ululei sem forças e bati as mãos no chão. As lágrimas vieram descendo como se meus olhos fossem uma cachoeira.
Os policiais agarram meu braço e me retiraram a força do local me jogando na rua. Claire gritou com um e avançou e levou um soco no rosto, caindo também no chão. Os moradores que estavam ali rodeando o perímetro gritaram desesperados, alguns correndo, outros criticando o sistema de segurança.
 Meu celular vibrou no meu bolso, não quis atender, não quis fazer nada. Só queria ficar ali, parado, tentando entender o que tinha acontecido. Eu estava caído no chão, olhando para a minha casa destruída, um meteoro a fazendo pegar fogo e fora Deimos que enviara ele.
A voz de deboche dele flutuou em minha cabeça: “Monica? Ela vai entender”.
Meu celular ainda vibra no meu bolso. Consegui força para pegá-lo. Ainda com a visão turva, consegui ler “RESTRITO” na tela principal. Atendi.
– Alô?
– Peter, acho que achamos ele! – disse a voz de Chloe.
– Chloe? – perguntei.
Claire olhou para mim e perguntou quem era, eu não respondi.
– Chloe? Você está me ouvindo? – gritei agoniado limpando as lágrimas dos meus olhos.
– Achou quem, Chloe? – ouvi um barulho ensurdecedor, um bipe muito forte que me fez largar o celular. 
Tateei no chão com o coração doendo tentando achar o aparelho, finalmente Claire me entregou e coloquei na minha orelha que já estava quente.
– Chloe? – berrei e ninguém respondeu. Olhei para o visor do celular, rachado, mostrando a minha tela inicial. Uma foto minha com minha mãe no meu aniversário de dez anos.
A ligação tinha caído.




FIM DO LIVRO UM



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