PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

sábado, 26 de abril de 2014

capítulo 12 :´[

12 LUA VERMELHA

Meus pulmões arderam e cuspi tudo. Cuspi e voltou. Eu ainda estava debaixo da água gelada. Fogo descia como torpedos caindo em uma guerra, me toquei que infelizmente estávamos em uma.
Abri os olhos e vi que estava descendo. Não havia fundo. Plutão era como um enorme oceano somente coberto por uma camada grossa de gelo, mas depois do ataque todo o gelo foi retirado e todos nós caímos. Corpos flutuavam e passavam perto de mim, assim como destroços de casas e construções.
Nadei para cima forçando meus braços a empurrar a água para baixo e batendo os pés me dando impulso. Precisava respirar. Em cima de mim luzes dançavam passando por cima da superfície da água. Impulsionei mais um pouco, acreditando em mim mesmo.
Meus pulmões ardiam e minha mente estava ficando pesada, seria muito fácil desistir de tudo e afundar, mas eu precisava sobreviver, precisava fazer isso não por mim, mas por aqueles que estavam esperando por mim. Austin, Brandon e Chloe.
Cheguei à superfície e respirei tão profundo que revirei os olhos. Meus pulmões e meu corpo agradeceram. Após me reconstituir de ar – que não sei até hoje se era ou não oxigênio – que fui perceber o grande veículo que estava pairando em cima de mim. Era uma nave espacial do tamanho de um ônibus comum e flutuava no ar. Uma escada branca de madeira com corda caiu em minha direção. Agarrei-a e subi.
O ônibus flutuou por mais um pouco e levantou voo. Subi as escadas e abri o compartimento, e entrei.
O interior era todo feito de metal, alguns fios soltos e muitos computadores e monitores, além de várias luzes. Chloe estava enrolada em um cobertor toda molhada no canto. Ela sorriu. Olhei mais a frente e vi Brandon pilotando a nave.
Olhei para o outro lado. Nada.
– Cadê Austin? – perguntei desesperado.
– Não sabemos ainda, estamos procurando – Brandon disse.
– Não acredito que vocês o deixaram ir! Não acredito Chloe!
– Eu tenho que me preocupar com ele desse jeito? – ela disse impaciente.
– Ele não estava sob os seus cuidados? – rebati.
Chloe levantou e largou o cobertor no chão.
– Sim, ele estava sob meus cuidados sim, então é responsabilidade minha saber onde ele está. Eu estou preocupada, sim, e não preciso de você para aumentar essa precaução – ela disse.
– Eu achei que você era mais preocupada com ele. Percebo o jeito que você o olha – retorqui.
Meu rosto virou para a esquerda ardendo junto com a mão de Chloe. Coloquei a outra mão em cima da minha bochecha que pegava fogo, a água gelada deu uma sensação melhor. Chloe havia me dado um tapa na cara.
Olhei para ela incrédula. Meus olhos cerraram e todo o ódio que tinha no momento subiu a minha cabeça. Eu quis mata-la, mas não podia. Eu havia perdido Austin, meu pai, Haro, e tudo isso era exclusivamente por minha culpa. Lembrei-me do que Brandon tinha dito na sala vazia: “varrer o universo com suas próprias escolhas”.
Mais uma morte provocada por mim? Eu preferia evitar.
Virei-me e fui para o outro lado da nave. Chloe continuou parada com as mãos juntas. Evitei olhar e me sentei. Não havia cobertor para me secar, somente o silêncio que tive que apreciar sem dizer nada. Encarei o chão metálico e esperei algo acontecer, nenhum fio se mexeu.
O silêncio e a tensão no ar se tornaram palpáveis no momento. Chloe me olhava com um olhar estranho, não com raiva, mas com consciência do que ela tinha feito. Virei o rosto, não queria encará-la.
Eu realmente achava que Chloe e Austin tinham alguma coisa... E realmente achei que ela deveria estar preocupada, não enrolada em um cobertor. Ela conhecia Austin a um bom tempo, mais tempo do que eu e não demonstrava nenhuma aflição por não saber onde ele está.
– Vocês dois já fizeram as pazes? – disse Brandon.
Ninguém respondeu.
– Parece que estou lidando com dois humanoides que acabaram de nascer – só a voz dele ecoava na nave. Eu continuava fitando o chão e Chloe... não queria nem saber de prestar atenção no que ela estava fazendo.
A nave balançou e rodopiou. Segurei-me a um computador que estava acima de mim. Brandon apertava vários botões e girava desesperadamente algo que parecia um volante, porém não como o de um carro.
– Estão nos atacando! – gritou ele.
Chloe e eu levantamos e fomos para o painel de controle da nave, Brandon estava aflito demais, apertando tudo sem saber o que aconteceria. A escuridão estava a nossa frente, e usualmente, víamos meteoros menores passando perto da nave. Os mesmos que atacaram Plutão.
– Acelera! Precisamos sair de órbita – falou Chloe e no mesmo momento a nave tremeu, algo atingiu-a por baixo, como se alguém tivesse jogando meteoros em nós
– Precisamos salvar Austin! – disse.
– Peter, para de ser sonso. Austin não está mais entre nós! Precisamos nos salvar. Aliás, você precisa nos salvar – e em um instante Chloe estava dependendo de mim novamente.
Fulminei-a com os olhos, mas resolvi não criar mais intriga. Eu sabia que o tapa que ela havia me dado tinha um peso bem menor do que ser a sombra de Sky por tanto, tanto tempo.
– E se eu me recusar a te salvar? – rebati e a nave tremeu novamente. O chão metálico ribombou novamente, alguém estava nos atacando por baixo mesmo.
– Então, você, eu e o Universo deixamos de existir – ela respondeu.
Chloe tomou frente da nave empurrando Brandon fortemente para o chão que senti falta de uma delicadeza feminina. A nave virou para a esquerda e escapou de um meteoro relativamente grande que passou raspando.
– Eu sou um fracasso mesmo – choramingou Brandon.
– Não é não, cala a boca – falou Chloe concentrada pilotando a nave.
Brandon pôs a mão no cabelo e bagunçou um pouco. Nervosismo. Perguntei a mim mesmo se criaturas do Universo tinham o mesmo sentimentalismo que os humanos possuíam ou se eles invejavam tanto a raça que queriam ser iguais a eles, como Austin que estava virando um humano. Estava.
Talvez tivessem.
Chloe era bipolar, às vezes estressada demais e às vezes muito prestativa. Sky generosa demais. Deimos possuía inveja demais. Sol, preocupação com seus filhos aflorava. Algumas estrelas eram uma mistura de isso tudo. Realmente, a raça humana e os elementos do universo tinham algo em comum, algo mais forte que nunca será possível separar.
Saímos da órbita de Plutão e Chloe soltou um grito de alegria como se tivesse completado uma missão muito importante em seu videogame. Brandon se sentiu aliviado, pois ao menos ela conseguira realizar o que ele tinha em mente, mas parecia triste ainda, tanto que ficou por um bom tempo sentado no chão fitando fios e cabos metálicos.
– Brandon, me conte tudo que o seu pai tem haver com esse lance de Imperador – eu disse me aproximando. Sentei-me ao lado dele e ele virou-se e olhou fundo nos meus olhos.
– Sabia que você iria me perguntar isso – ele respondeu.
– E eu sei que você vai responder – Chloe falou.
– Eu não sei muita coisa não, porém irei te contar o que eu sei...
Ajeitei-me no chão metálico para ouvir ele dizer.
– Corre desde que eu era criança várias lendas e contos sobre o Universo, algumas verdades, outras mentira pura, tão mentira que o Sol poderia pegar gripe – ele fez uma pausa dramática esperando nós rirmos, mas não aconteceu, então continuou – A pior de todas é a do Imperador.
– Que demora – reclamou Chloe.
Limpei a garganta tentando fazer Chloe perceber que ela estava atrapalhando e ela fez o mesmo som.
– O Imperador não é nada mais nada menos do que um nome para o dono de uma galáxia vizinha, do mesmo jeito que o Sol é o dono daqui.
– Então, o Imperador é como o Sol? – perguntei e lembrei-me do meu encontro com meu avô. Ele fora legal, então o Imperador poderia também ser legal.
– Foi isso que eu acabei de dizer – respondeu olhando para mim com uma expressão esquisita. Percebi rapidamente que havia feito uma pergunta idiota.
– Mas o que mais preocupa nisso é que o Imperador é irmão do Sol, e os dois viviam brigando em um passado distante, você sabe né, ninguém quer que seu irmão more em seu quarto – Brandon tremeu – Caronte!
– Privacidade – completei.
– Sim – confirmou – Então, eles tiveram uma briga daquelas e se separaram em distância, porém a galáxia do Imperador não é nada organizada. Estima-se que há muitas estrelas de formatos estranhos, com brilhos estranhos, planetas aterrorizantes e astros piores ainda. Todos esses seres estranhos que já encontramos aqui na Via Láctea ou se refugiaram de intrusos para cá ou alguém os trouxe em missão.
– E o que isso representa de ameaça? – perguntei.
– O pior não é isso, o ruim é que a Via Láctea irá colidir com ele um momento. Será o reencontro do Sol com o Imperador e quem vencer essa batalha ficará com o novo sistema que será formado. Problemas familiares são as coisas mais comuns por aqui, acostume-se.
– E quando ocorrerá essa colisão?
– Ninguém sabe. Porém os habitantes em Ceres relataram que viram o braço espiralado da Galáxia. Meu pai tremeu só de saber, por isso foi para perto do Sol, para descongelar e tentar mudar-se para outro local, mas você já fez tudo o que queríamos e um pouco mais né?
Fiquei vermelho. Eu havia destruído Plutão enquanto eles só queriam virar um planeta telúrico e ter um pedaço de terra em vez de gelo.
– Eu acho que pensar nisso agora é besteira, há uma sequência de coisas que irão acontecer antes da colisão, está tudo escrito – exclamou – codificado – e a animação em sua voz se foi.
Lembrei-me do que Sol havia me dito. Deduzi logo que essa colisão tinha algo haver comigo, o descendente, porém fiquei calado.
– Mas quem é essa galáxia tão misteriosa? – finalmente perguntei.
 – É Andrômeda, nossa vizinha de berço – respondeu Chloe.

Brandon implorou para que pousássemos em Mercúrio. Chloe fez mil e quinhentas contra argumentações para todo problema que ele arrumou na nave. “Está sem combustível” “Vocês usam matéria escura como combustível”, “Precisa de reparos” “Se precisasse, já tinha se desintegrado há muito tempo”, mas por fim o argumento “Eu quero descer” venceu.
Ativei novamente o poder da pulseira e agradeci por ela estar em meu braço. Mercúrio me lembrou imediatamente Austin e sua louca ideia para nos salvar da prisão que agora nem eu sabia de quem era mais: Plutão ou do Imperador.
Para falar verdade, toda essa questão do Imperador me deu um nó enorme na mente. Por que Deimos estava servindo para ele? Por que ele tinha tanta influência em nossa galáxia?  Seria mesmo essa colisão prejudicante para a Via Láctea? E por que eu estava envolvido também?
– O que viemos fazer aqui? – Chloe perguntou.
– Faltou o “Alteza” – respondeu Brandon na maior naturalidade e Chloe olhou para ele incrédula.
– Quem você acha que é? – ela disse – Você pode esquecendo sua antiga posição em Plutão, porque tanto ela, quanto sua terra natal se foram. Espero que isso fique bem claro.
Encarei-a e achei que ela estava sendo um pouco grossa com ele. Pigarreei novamente, porém ela não se tocava.
– Brandon, nos explique o que viemos fazer aqui, por favor? – aprendi com minha mãe que educação não mata ninguém.
Brandon encheu o peito com tanta alegria para dizer que achei que ele iria gritar comigo, porém sua voz saiu suavemente em um tom de exaltação e muita festa:
– Eu quero ser diferente. Fazer mudanças. E aqui será o primeiro local.
Nada havia mudado, o mesmo local com aparência de deserto ainda continuava no fundo da lista dos Planetas que eu mais gostava. Ruim para eles. 
– O que você pretende fazer? – perguntei quando estávamos descendo da nave.
– Algo que sempre quis fazer – ele respondeu.

Entramos na Base que ficamos presos por algumas horas. O sol ainda penetrando nos corredores e fazendo tudo parecer laranja demais, passamos pela cela que ficamos e tremi. A sensação de ser preso é péssima, horrível e algo que nunca vou querer experimentar novamente.
Corríamos com pressa e fazendo muito barulho, porém ninguém ou nada pareceu se incomodar. Em termos comuns, alguém já teria aparecido atirando em nós ou nos atacando, mas nada aconteceu.
Brandon virava em um corredor e ia para outro. Ele passava a mão nas paredes e olhava para cada porta, tentando se familiarizar com o local.
– Você conhece aqui Brandon? – perguntei arfando. Estava cansado de correr e correr pelos corredores.
– Vim resolver uns negócios há alguns meses – disse ele passando a mão em uma porta – Eu só preciso encontrar a sala de comunicação.
Corremos mais um pouco e Brandon parou. Agradeci por dentro e percebi que Chloe estava cansada também, ou aparentava. Ela se encostou à parede e colocou as mãos no joelho jogando sua cabeça e seus cabelos prata em direção ao chão.
– Eu já volto – disse Brandon colocando sua mão em um leitor e a porta se abriu.
– Ok – Chloe e eu dissemos.
E sentei no chão esperando Brandon voltar.

– Você está ouvindo isso? – a voz de Chloe ecoou no corredor pela primeira vez. Eu estava ouvindo um barulho estranho, como o som que ouvimos quando assopramos no bico de uma garrafa de vidro, e as paredes vibraram por um momento.
Não respondi.
– Me desculpe – o som da voz de Chloe interrompeu o silêncio novamente. Passei o tempo todo tentando ignorá-la e tentando prestar atenção no chão metálico, porém tive que levantar a minha cabeça.
Olhei para ela. Ela estava coçando a mão com toda uma delicadeza. Chloe era uma incógnita, alguém difícil de entender, um astro diferente de todos, com certeza. Não sabia o que responder. Certamente se Chloe fosse humana entraríamos em guerra e ficaríamos dias, semanas, meses e talvez anos sem nos falar, porém ela é um astro do Universo e eu por enquanto só sou um intruso. Preciso mais dela do que ela precisa de mim, mesmo que ela ache que necessita de mim muito.
– Olha... – comecei a dizer, mas ela me interrompeu.
– Sério, desculpa por ter dado um tapa na sua cara. Eu nunca havia feito isso, vi isso dentro da caixa quando conseguimos um sinal estável com a Terra e esperei séculos para fazer isso com alguém. Não sei nem o que significa, porém você disse a mesma coisa que o homem disse para a mulher dentro da caixa que sai imagem – ela disse sem respirar.
– Televisão, você quer dizer – corrigi-a.
– Pode ser.
– O.k.
– Eu sei que estou errada – ela admitiu – Eu não deveria ter nenhum comportamento sentimentalista, igual vocês – ela balançou as mãos como se estivesse limpando lixo – Terrestres tem.
– A ofensa começa assim – eu rebati e ri.
Ela também riu.
– Não tinha pensado nisso.
– É muito difícil dizer que você nunca vai expressar nenhum sentimento, mesmo você sendo um Astro, sabe? – falei – Querendo ou não, somos feitos disso.
Ela assentiu. Mas sua expressão era de dúvida, eu conseguia ver em seus olhos que ela estava negando tudo o que eu estava dizendo, porém estava concordando por uma simples questão do momento: quero voltar a ser seu amigo e preciso concordar com o que você diz.
– O que você acha que Brandon foi fazer? – perguntei.
– Não faço a mínima – ela respondeu sinceramente.
– Onde vocês estavam?
Chloe se endireitou e se sentou no chão cruzando as pernas como um índio.
– Fomos para a linha de frente tentar evitar os meteoros de Deimos, na frente de Caronte. Eu estava com muita adrenalina então nem percebi a burrice que fiz em deixar você ir para o Castelo sozinho e permitir Austin subir em Caronte para lutar.
– Você o permitiu?
– Ele veio pedir para fazer algo útil na vida dele, e eu disse sim. A culpa toda é minha – ela olhou para seus dedos dos pés, refletindo. Imaginei que a cena estaria passando em sua mente – Ele parecia aterrorizado.
– Órion e seus irmãos estavam lá – falei – Eu os vi.
Chloe abriu a boca em surpresa.
– Você acha que Deimos está recrutando constelações para lutar ao lado do Imperador? – perguntei.
– Sim – respondeu ela friamente.
– Órion é uma delas?
– Não. Eles são muito tradicionais, nunca deixariam a Via Láctea ou nunca a trairiam, porém agora estou curiosa, o que eles estavam fazendo lá?
– Não faço ideia – respondi e realmente não fazia.
A porta abriu e Brandon saiu com um sorriso de canto a canto segurando um microfone. Ele parecia revigorado, como se tivesse tomado um banho muito relaxante ou dormido por mais de oito horas em uma noite.
– E aí? – perguntei me apoiando na parede para me erguer.
Ele não respondeu imediatamente. Pigarreou e começou a dizer com uma voz diferente que não era a do Brandon, o príncipe rebelde, mas sim de outro Brandon, um que seria um Rei um dia.
– Cidadãos de Mercúrio! Eu, Brandon, príncipe e representante de Plutão, clamo por sua atenção. A partir de hoje, este Planeta é livre. Falo em nome do Imperador e ele se desculpa por toda a opressão que o mesmo e Andrômeda causaram a vocês. Os habitantes deste lindo Planeta estão agora livres de impostos, auto alistamento e reclusão. Sejam livres. Construam uma nova nação.
Se eu não tivesse segurando na parede, teria caído com certeza. Ele havia mexido com coisas que não deveríamos nem por a mão. Minha expressão e a de Chloe eram de espanto misturado com medo misturado com surpresa. Eu estava pasmo.
Ele desligou o microfone e começamos a gritar com ele.
– Você está louco! – disse Chloe.
– O Imperador virá atrás de você! – alertei.
– Não estou acreditando!
– Não éramos para ter feito isso!
– Enquanto nós evitamos uma guerra com o Imperador, você apressa uma! Dou segundos para essa notícia chegar a Andrômeda e eles marcharem até nós. Será nosso fim – berrou Chloe.
– E se isso tudo estiver escrito? – rebateu Brandon – Eu acredito fielmente a tudo o que as anotações dizem.
– Até porque noventa por cento delas estão codificadas – respondeu Chloe com desdém.
– Esqueçam Andrômeda, esqueça o Imperador – eu disse e os dois viraram os seus rostos com expressões que eu não queria ver novamente – Precisamos ir para Lua impedir Deimos, não?
Os dois concordaram.
Corremos novamente até a saída do prédio e me arrepiei. O céu estava cinza em vez daquela cor azul-escuro normal. Eu não via nenhuma estrela. O sol, se escondia em algum local que não irradiava luz para nenhum local.
Chloe agarrou o braço de Brandon quando olhou para sua esquerda. Virei-me rapidamente e vi a Terra, enorme, fazendo seus movimentos normalmente. Mas o que me assustou foi o ponto vermelho que estava em cima dela, orbitando-a.
A lua.
– O q-q-que é i-isso? – eu gaguejei falando.
Brandon saiu correndo para a nave abrindo a porta desesperadamente. Chloe fez o mesmo correndo como se sua vida dependesse disso. Mas de fato, não era a vida dela que dependia disso naquele momento, mas sim a de outra pessoa.  
 – Isso é a Lua Vermelha, Peter – disse Chloe correndo – Sky está em perigo!



capítulo 11 =^.^=

11 UM ENCONTRO INESPERADO

Eu não estava molhado. Nem na água estava. Abri os olhos e pisquei algumas vezes para acostumar com a clareza do local. Tremi por um momento pensando na ideia de estar morto, pois tinha certeza que tinha caído na água quando o gazebo virou.
O suor brotava em minha testa e estava descendo pelas minhas costas, eu procurava algo para tentar entender onde eu estava, mas nenhum sinal. Nada.
As paredes eram brancas, as lâmpadas claras também e minhas roupas estavam às mesmas, porém limpas e sem nenhum rasgado.
Uma agonia surgiu em meu peito, eu não sabia o que fazer, o que falar, a quem procurar, não sabia onde estava, só sabia quem eu era, mas isso não era nada importante.
Peter Allister, descendente da Terra, que importância teria agora? Eu tinha caído em uma armadilha, tinha largado meus amigos e tinha dizimado uma população e destruído um Planeta por completo. Tudo por minha culpa.
Sentei no chão e coloquei a mão nos cabelos e baguncei-os por um momento. A vontade de chorar veio, porém não havia lágrimas o suficiente para isso. Engoli o choro forçado e tentei entender o que estava acontecendo. Austin, Chloe e Brandon deveriam estar mortos neste momento depois da explosão com o meteoro com anéis que Deimos tinha enviado.
Deimos.
Esse nome me trouxe uma raiva interna e tive vontade de socar o chão. Eu realmente fui muito burro de não ter percebido nada estanho nele e mais burro ainda para acreditar que estava tudo bem. Todos nós erramos. Agora tudo fazia sentido.
Fechei os olhos e revivi todo o horror de ver Plutão sendo destruído. As ruínas, os nativos azuis mortos no chão, os guardas guerreiros tentando atirar no meteoro em cima de Caronte e o próprio Plutão, que havia desaparecido.
Muitas dúvidas surgiram em minha mente. Onde Austin estava? Sua família havia o pego? Chloe e Brandon se salvaram? O que aconteceu com o Planeta? Estou morto ou não?
Agulhas geladas picaram minha nuca em câmera lenta quando ouvi uma voz diferente, ecoada, pesada, e antiga, acelerando meu coração.
– Não, não está.
Virei rapidamente e vi um homem ao meu lado. Ele parecia velho, mas seu cabelo era prateado como a maioria das pessoas que conheci no Universo, então não consegui julgar qual era sua idade. Ele vestia uma calça azul clara e camisa de linho branca, dando a impressão de que era um padre indo dormir de pijamas, e estava descalço.
Recuei para trás e ele avançou em minha direção.
– Calma! – ele disse.
– Quem é você? – as palavras doeram em minha garganta e percebi que estava seca demais. Engoli seco.
– Reconheceu não? – ele sorriu e seus dentes eram claros demais, fechei os olhos imediatamente para não ser cegado – Sou eu! Sol, seu avô.
Sol me deu a mão para eu conseguir me levantar e assim eu fiz, demos alguns passos em silêncio e um minuto depois ele parou e disse sem respirar:
– É muita informação para você? Eu sabia que não deveria ter dito à Terra para pegar pessoas tão jovens! Olha só, agora você está travado!  Não consegue nem pensar no que vai fazer! Sabia, eu sabia disso tudo, você acredita? Mas quando nós te escolhemos eu não sabia que você iria destruir a casa de um filho meu por completo, você sabia disso? Se sinta honrado poucos fizeram isso! Seu pai nunca destruiu um planeta, no máximo, ele subiu em cima de um cometa e guiou ele para um buraco negro, só isso. Você é bem melhor!
– Calma, o que você disse?
Ele riu.
– Viu? É muita informação para tanto pouco tempo. Peço mil desculpas. Senta aqui, vamos conversar – ele apontou para um sofá branco (que não estava ali) e se sentou.
Sentei e me virei para ele. Ele parecia muito jovem para alguém com bilhões de anos de idade. Ele sorria muito, porém parecia abatido demais, imaginei o quanto de problemas que ele tinha para resolver sobre seus filhos.
– Não temos muito tempo até que você acorde – disse ele – O que você gostaria de saber?
– Pera! Eu estou dormindo? – perguntei.
– Essa não é a primeira pergunta que um descendente fez para mim em milênios – e riu – Já vejo que você é especial, e sim, você está dormindo. Eu o pus para dormir até que nossa sessão se encerre.
– Ok, o que está acontecendo com o Universo? E o que está acontecendo com você, principalmente? Fui à Terra e locais tropicais estão congelando. Você deveria estar lá!
Sol abaixou a cabeça e começou a balançar as pernas, percebi que ele estava nervoso.
– Bom, eu tive de me afastar um pouco de alguns dos meus filhos para eles perceberem que sou a fonte para eles. Terra, apesar de tudo, esteve sempre ao meu lado, mas desobedeceu ao liberar seu nome para a chamada da Jornada. Não era isso o combinado.
– Existe um combinado? – indaguei.
– Pior que existe. Alguém muito antigo encontrou um astro especial e prescreveu tudo o que iria acontecer nos próximos milênios. Tudo aconteceu e seguimos a risca esses documentos, até chegar a sua parte.
–... Minha parte... – repeti.
– É, a sua parte é codificada. Ninguém sabe ler, ninguém soube decifrar, é uma incógnita – ele disse com tristeza – Pena que perdemos os documentos.
– Perderam ou alguém roubou? – percebi que o tom da voz de meu avô não tinha sido com certeza em sua última frase.
– As outras galáxias podem ser más, sabe.
– Existem outras galáxias?
Ele me deu um tapa no braço.
– Não admito você me perguntando isso – falou – Não estamos sozinho, você sabe.
Sol olhou para seu braço como se estivesse olhando as horas em algum relógio, porém não havia nada em seu pulso.
– Seu tempo está acabando – disse ele.
Mordi o canto da boca.
– Preciso de um resumo – pedi.
Ele sorriu marotamente.
– Geralmente eu não me intrometo na vida de nenhum descendente, porém como você é um caso atípico, tive a curiosidade de acompanha-lo pelo o que ocorreu nesses últimos momentos. – disse - Deimos é um caso muito especial, houve uma falsa briga com seu irmão Phobos e Marte resolveu escolher um dos dois para continuar orbitando. Phobos não é a pessoa mais legal com quem você deseja sair um dia, tanto que todos os astros evitam pisar em sua superfície e Marte achou isso mais atrativo para si mesmo, já que tendo Phobos em sua órbita impede que os humanos interfiram diretamente em Marte.
– Então é por isso que nenhuma sonda terrestre detecta nada em Marte? – perguntei.
– Exato. Phobos protege de tudo. Às vezes os humanos inventam histórias a cerca de habitantes em Marte, mas é tudo mentira. Todos os nativos vivem próximo ao Monte Olimpo, e os humanos não conseguem nem chegar perto. É algo legal ter uma barreira natural, mas nada convidativo. Não aceite nenhum convite para ir para Mart de um estranho, tudo bem?
– Tudo bem – disse.
– Continuando, Deimos é um ser muito ambicioso. Após ser chutado para fora de casa, planejou por anos e anos em conquistar a Lua, porém Sky e Chloe já estavam habitando lá com licenças oficiais como filhas da Terra, porém Deimos ainda continuava desejando cada vez mais poder. Em um momento de sua vida, ele começou a se envolver com Planetas maus e Astros piores ainda. Nunca vi um laço desse se desenvolver tão rápido como foi com Deimos e o Imperador...
– Pera! – interrompi – Deimos não é o Imperador?
– Não, Deimos seria no caso o estagiário, trabalhando e recrutando estrelas e astros para ele – e voltou a dizer – Deimos sabia que em algum momento, Plutão iria ceder seus habitantes para o Imperador colonizar alguns planetas e que Sky iria impedir isto, por ter fama de boazinha. Sky já sabia disto também e esperou anos e anos para agir. Esperou chegar à parte codificada, você, para agir.
– Então, por milênios Sky agiu em silêncio, pois tudo já estava registrado e caso ela intervisse, seria pior?
– Sim, e agora que tudo virou o código impossível de decifrar, ela e todos os seres podem agir do jeito que quiser. Vamos dizer que você desalinhou o universo, só.
Desalinhar o Universo. Tudo o que eu sempre quis. Tive de concordar com Sol, agora percebi que havia muita informação para digerir.
– Podemos continuar? – perguntou – Temos pouco tempo! Vamos lá!
– Sim – disse com desanimo já, eu estava realmente cansado disso tudo, queria acordar em casa, depois de chegar da escola e poder ir ao restaurante com minha mãe como planejamos.
– Sky e a Terra lançaram vários descendentes para o Universo, sabendo que Deimos ficaria louco por informações de que estes novos estariam fazendo, onde estariam indo e tudo mais. Todas as jornadas tinham o mesmo intuito, informar que o descendente iria a Plutão, porém era mentira em todas as vezes. Deimos fugia desesperadamente e encontrava o Imperador, pedindo reforços para quando o momento acontecesse de verdade, porque ninguém sabia o que iria acontecer devido aos códigos. Várias teorias sobre os descendentes surgiram, e Imperador propôs uma: O que conseguisse chegar a Plutão seria o escolhido e iria arruinar todo o plano de colonização e deu uma missão para Deimos, esperar o descendente voltar e mata-lo.
Estremeci.
– Eu vou ser morto? – perguntei levando do sofá. Minha cabeça foi a mil por hora. Saber sobre uma possível morte não é uma sensação boa.
– Calma, ninguém sabe. Está codificado lembra? – ele disse.
– Posso ficar dormindo para sempre? – perguntei com toda a sinceridade do mundo. Não queria enfrentar nada, não queria ajudar ninguém, já tinha muitos problemas com professores na escola, agora eu teria problemas codificados no Universo? Prefiro dormir.
– Não, você não pode – disse Sol.
– Droga.
– Talvez você possa mudar o destino que ninguém sabe o que está escrito – sugeriu ele.
– Deimos é a coisa que eu mais devo prestar atenção a partir de agora né? Como um inimigo – falei.
– Não. Há coisas piores. Mas você irá conseguir passar por tudo isso! – encorajou.
Ele esperou eu dizer algo positivo, como “quem sabe”, porém nada saiu da minha boca.
– Enfim, Sky enviou você para mais uma missão para ir à Plutão, porém esta era verdadeira. A mais verdadeira de todas e infelizmente, isto ocorreu. Plutão foi devastado, Deimos e o Imperador estão esperando você e uma estrela pode cair. – disse com toda a calma do universo.
– Como assim? A estrela velha aqui é você! Você que é a estrela caída. Ninguém vai cair, Austin está vivo! – eu disse com raiva, pois sei que ele se referiu a uma estrela pode cair para Austin que tinha caído de Caronte durante o ataque, e pelo pouco que sei cair pode significar morte também.
– Eu sou a estrela caída? – perguntou.
– Não é?
– Você acha que sim?
– Não sei.
– Você realmente não sabe de nada. Há várias estrelas caídas, tantas que eu não consigo contar, mas vejo várias em sua vida, pessoas que você ama e convive, estrelas caem do céu todos os dias e algumas caíram há anos.
– Pessoas que eu amo e convivo? – indaguei curioso.
– Infelizmente sim – falou – Você só irá perceber quem é a estrela caída quando ela se for.
Pensei por um momento. Não havia ninguém que eu desconfiasse, somente Austin, a única estrela que eu conhecia até agora.
Sentei novamente no sofá.
– Quanto tempo eu tenho agora? – perguntei.
– O tanto de tempo que você desejar – respondeu.
– Plutão está destruído lá fora, não está?
– Destruído pode ser um apelido. Você aniquilou um Planeta e uma raça.
– Eu vou ser perdoado? – ponderei.
– Não há local para perdão e ódio no Universo, Peter. Sentimentalismo é só na Terra, aqui nós temos nada. Você fez, e pronto. Acabou.
Eu não tinha pensado que o Universo podia ser tão frio com estes assuntos. No fundo do meu coração, eu me culpava por todas as cenas que vi alguns minutos atrás.
Fiquei em silêncio.
– Por que você não ajuda sua própria família? – perguntei.
Sol me fitou.
– Você realmente acha se eu ajuda-los, eles irão entender que não é mais para fazer isso? – respondeu com outra pergunta.
Tentei responder, porém nada saiu da minha boca.
– Você já foi criança, me diga então, quantas vezes sua mãe disse não para alguma coisa para você e você nem ouvidos deu?
– Muitas – admiti.
– É o mesmo pensamento.
– Mas eles não são crianças mais – argumentei.
– Mas agem como.
Franzi a testa.
– Isso eu não posso negar – admiti novamente – Falando nisso, onde está Plutão?
– Foi para Ceres, se exilar. Ele sabia que você iria causar algo em seu lar, então deixou Brandon responsável por tudo – Sol respondeu.
– Eles ainda estão vivos? Brandon, Chloe, Austin?
– Isso eu não sei, muito complexo lidar com vida e morte no Universo, muito mesmo.
– Mas eles sobreviveram? – insisti.
– Eu não sei, Peter – respondeu mudando de posição no sofá – Eu realmente gostaria de informar, porém não sei.
Ficamos em silêncio por mais um momento.
– O que achou dos meus espelhos da verdade? – ele interrompeu o silêncio.
– Os espelhos são seus? – perguntei.
– Sim, dei um para cada filho no meu primeiro bilhão. Mostra tudo o que você quer saber e dependendo de onde está, tem muito mais funções.
Lembrei-me do guarda roupa no lixão especial de Ison. Ele mostrou o que eu queria saber e trouxe roupas novas e da sala no Castelo que me abriu os olhos para o que estava acontecendo.
– É, tive experiências com eles.
– Acho que seu tempo já está acabando, mais alguma coisa? – perguntou.
– Sim, sobre meu pai!
Sol abaixou o rosto novamente.
– Ele se foi meu jovem, se foi mesmo – falou com tristeza em sua voz – Lamento.
– E como ele me ligou? – indaguei.
– Há astros que são capazes de fazer milhares de coisas, astros diferentes, especiais. Lançam meteoros para te alertar e podem imitar qualquer voz – ele disse jogando a resposta na minha frente.
– Lucy – sussurrei.
Ele assentiu.
Eu fui enganado.
A pior coisa era saber que eu tinha ainda uma ponta de esperança. Mas ela se foi, se apagou como uma vela de aniversário.
– Mais alguma coisa? – perguntou mais uma vez.
– Não, acho que eu estou preparado.
– Está?
– Estou – respondi com firmeza – Muito obrigado.
Sol sorriu e colocou as mãos nos meus olhos, fechando minhas pálpebras, dizendo calmamente palavras bem contraditórias com o que ele estava fazendo.
– Acorde, meu herói, acorde guardião.



domingo, 20 de abril de 2014

FELIZ UM MES DE STARS CHRONICLESS!!!!!

10 A ÚLTIMA VEZ

– Eu não sou o imperador, nem traidor, só fui tratar dos meus assuntos e infelizmente invadiu o espaço de vocês – explicou Plutão.
Chloe continuava caída no chão agora com a testa encostando-se ao gelo tentando pensar em algo. Ela se auto xingava e passava a mão em seus cabelos prata descontroladamente.
– Precisamos ir embora! – disse ela levantando seu rosto. Ela parecia desapontada consigo mesma.
– Eu não iria – avisou Brandon, o príncipe – Você sabe o que vai acontecer já.
Chloe relutou e deu um soco no chão.
– Merda!
– O que está acontecendo? – perguntei.
O príncipe franziu o cenho e olhou para Chloe, que assentiu.
– Tem muita coisa sobre o Universo que você não sabe, jovem descendente.
Ele virou para trás e voltou a subir as escadas. Olhei para o salão e não vi mais Plutão por ali.
– Me sigam – disse ele.
Apoiei-me em Austin e Chloe saiu do chão e subimos as escadas. Os degraus feitos de gelo eram escorregadios e nós três quase caímos muitas vezes, ao passo que Brandon subia como se fosse feito de material antiderrapante.
Subimos e demos de cara com um corredor enorme, cheio de portas que davam para vários cômodos – o que me lembrou um pouco a Base Lunar -, eu percebi que Austin estava agoniado já de ter que me levar, então tentei andar por mim mesmo. Dei dois passos e quase caí, ele me segurou e dei um sorriso retorcido meio que “Odeio precisar de ajuda”.
– Precisamos ir para uma sala vazia – disse Brandon.
Ele abriu uma porta de metal cinza e entramos em um cômodo não tão grande, mas sem nada. Nenhum móvel, nenhuma cadeira, nenhuma tecnologia, somente o chão e as paredes. Austin me pôs no chão encostado na parede e assim nos sentamos: nós três de frente a Brandon.
– Bom, peço perdão pela minha atuação lá em baixo – começou ele gesticulando.
– Ahn? – indaguei.
– Sim, atuação! Aprendi essa palavra com vocês terrestres. Não é assim que se diz? Como é? – ele fez uma cara de preocupado, mas curioso para saber a resposta.
– É atuação mesmo – respondi.
Ele suspirou em alivio.
– Bom, estou aqui para ajuda-los, contanto que vocês me ajudem.
– O que você quer? – falou Chloe grossamente.
– Eu estou cansado daqui, quero fugir, quero viver, quero parar de depender de meu pai. Odeio ficar em reunião, odeio ser de um Planeta que tenta todos os dias alcançar algo positivo, mas nunca consegue. Há anos que estamos tentando congelar o gelo daqui, mas nunca conseguimos.
– Ah, pelos anéis de Saturno! – disse Chloe e Brandon estremeceu – Vamos ir embora, não aguento mais essa baboseira.
E levantou.
– Você tem certeza que vai conseguir chegar à Lua a tempo? – disse ele com os olhos fixos no chão e Chloe parou de andar. 
Ele estava certo. Precisávamos de algo que nos levasse à Lua o mais rápido possível, agora que sabíamos que o inimigo era Deimos. 
– Se você for com calma, podemos salvar mais que uma pessoa, você sabe muito bem – ele falou.
– Do que vocês estão falando? – indaguei.
– Não sei se você vai acreditar, Peter, mas tudo o que está acontecendo já estava predestinado a acontecer, tudo isso sabe?
– Isso é mentira! – replicou Chloe e se sentou.
– James, o descendente de Júpiter, procurou por toda a galáxia uma estrela especial, uma que sabia o futuro, e ao achar, sugou todo o conhecimento que possuía e escreveu tudo em diários, cadernos, papéis. Dizem que citava um novo descendente que viria de um Planeta muito desenvolvido e que ele iria varrer o Universo com suas próprias escolhas.
– Varrer... – refletiu Austin.
Senti um arrepio na espinha.
– E no caso, sou eu? – perguntei.
– Eu não sei – respondeu Brandon mordendo o canto do dedo – Eu acredito que sim, porém há muitos descendentes que ainda não foram descobertos, só estão esperando o momento certo.
– E o que significa varrer?
– Eu preciso dizer? – disse ele.
Fiquei paralisado. Entendi muito bem o que ele tinha dito. Significava mortes, e seriam minhas escolhas que decidiriam cada vida que seria poupada ou ceifada.
– Como eu disse, precisamos voltar! – insistiu Chloe novamente.
– Somente se vocês me ajudarem – voltou a dizer Brandon.
Chloe olhou para Austin e os dois assentiram com a cabeça, como se tivessem chegado a um consenso, porém sem dizer uma só palavra.
– Levamos você junto conosco para a Lua, e de lá você decide o que você vai fazer da vida, tudo bem? – propôs Chloe.
O príncipe estudou a oferta.
– Eu quero fazer a diferença sabe? Só quero ser salvo agora, quero acreditar que o futuro sou eu que faço e não algo escrito sobre mim.
– E eu não quero saber disso – cantarolou Chloe.
– Ah, me deixa pensar um minuto – pediu o príncipe.
– Eu disse que era verdade, Peter, os arquivos existem sim! – disse Austin rindo como se tivesse descobrindo algo muito legal.
– Existem nada, eu não acredito nisso mesmo! – falou Chloe.
– Mas você nem leu – rebateu Austin.
– Quem disse que não? – retorquiu ela.
Os dois se encararam por um momento, senti a tensão no ar. Chloe de um lado com seu rosto firme e Austin com seu olhar de desaprovação.
– Eu vou! – exclamou Brandon.
– Você é filho de Plutão, certo? – perguntei para quebrar o gelo – Você não acha que ele irá atrás de você?



Brandon olhou para o chão por alguns segundos, provavelmente deveria estar pensando no quanto Plutão ficaria furioso se seu herdeiro fugisse. Olhei para Chloe e agora ela também estava pensativa. Este era um ponto fraco nosso, tínhamos de ir embora, mas não podíamos ir com outro fugitivo, já tínhamos Austin.
Um pensamento surgiu em minha mente, dando-me esperança. Era isso!
– Brandon, você irá nos levar para outra casa. Somente isso – disse.
– Como?
– Você vai informar para seu pai que irá nos levar para outro planeta para habitarmos.
– Do que você está falando? – perguntou Austin.
– De Ceres – falou Brandon com um brilho em seus olhos – Meu pai vai gostar muito da ideia de novas pessoas em Ceres, tudo lá está muito calmo para estar dando certo. Vamos!
Consegui levantar sozinho e dar alguns passos. Minha cabeça ainda doía, porém somente uma dor no fundo mesmo da mente, os efeitos da interferência solar em meu corpo tinham cessado. Toquei na pulseira e pedi uma proteção extra, algo que me ajudasse a não sofrer com isso novamente. Descemos as escadas de gelo e encontramos o local cheio de guardas azuis correndo para lá e para cá, preocupadíssimos e falando em uma língua muito estranha, inaudível e incompreensível.
– O que aconteceu? – perguntei a Chloe e Austin.
Os dois não souberam responder e vi a porta principal abrindo fortemente. Três habitantes azuis com conchas em suas mãos estavam parados ali, um levou a concha na boca e disse:
– Iremos ser atacados! Eles sabem que eles estão aqui! – e apontou para nós.
O som dos guardas azuis falando cessou no momento, todos olharam para os habitantes com as conchas e arregalamos os olhos. O caos tomou conta do salão, os azuis saíram correndo para fora e Brandon desceu as escadas desesperado.
– Venham! – gritou ele.
Descemos as escadas de gelo torcendo para não escorregar. Eu conseguia ouvir gritos em outros locais, súplicas e berros de agonia.
– BRANDON! – a voz grave de Plutão ecoou atrás de nós, virei-me e o vi parado no segundo andar – ATIVE TODA A PROTEÇÃO. 
– Ok pai! – gritou ele de volta.
Saímos do salão e vi como realmente Plutão era, já que estava com os olhos fechados. Havia um jardim muito sombrio, as flores congeladas e os projetos de árvores eram secos demais. Tudo parecia morto e triste. Austin me agarrou pelo braço e passamos o jardim e abrimos os portões de gelo. As ruas seriam bonitas, organizadas, o chão seria feito cuidadosamente com gelo em forma de paralelepípedos, se nada daquilo estivesse acontecendo.
Atrás de nós, havia o Sol, e graças às estrelas, não sofri novamente com nada, e na nossa frente um ponto enorme estava vindo, um ponto vermelho e brilhante. Brandon começou a correr para fora da fortaleza e o seguimos.
Na saída da fortaleza uma multidão de habitantes, tanto azuis tanto os normais, impediam a nossa passagem. Brandon, mesmo sendo o príncipe herdeiro de todo aquele Planeta e aquele povo teve de se espremer e pedir licença para conseguir sair. Chloe gritou: “Vou matar todos que estiverem em minha frente” e alguns saíram desesperadamente levando a mão na boca assustados. Aproveitei e segui Chloe e conseguimos sair, somente Austin que ficou preso na multidão, mas saiu em alguns segundos arfando.
– O que é isso? – dizia os Plutônicos.
Olhei para o céu e consegui ver o que eles estavam temendo tanto. O ponto vermelho era Caronte, o satélite de Plutão, seguido de um meteoro diferente. Ele era enorme, do tamanho de uma escola de ensino médio no mínimo e era rodeado por um anel, como os anéis de Saturno.
– Só tem uma pessoa que consegue realizar auras desse jeito – murmurou Chloe perplexa.  
– Deimos – completou Brandon.
O chão tremeu e vimos que pelos lados do Planeta, meteoros menores também com anéis estavam chegando. Estavam atacando Plutão de todos os lados.
– Peter, você tem que voltar para o castelo! São anéis magnéticos, vão quebrar a proteção de Plutão – falou Chloe, preocupada.
A descarga de desespero desceu pelo meu corpo novamente. Eu teria que voltar sozinho para o Castelo para me salvar e deixar meus amigos ali?
– Vamos todos juntos! – disse – Brandon, precisamos ir embora daqui!
O chão tremeu e nós quatro caímos e sofremos com outro tremor. Algo explodiu atrás de nós, virei o rosto e vi meteoros menores caindo em construções dentro da fortaleza. O fogo subiu em lareiras e os gritos voltaram. Deimos estava se vingando.
Levantei em meio ao tremor e voltei correndo para a fortaleza. O portão estava fechado.
– ABRAM PARA MIM! – gritei balançando o ferro gelado.
Os habitantes azuis olhavam para mim com ódio, deveriam saber que eu era da Terra e não queriam confiar em mim.
– ABRAM! NÃO ESTOU AQUI PARA ATACAR NINGUÉM – berrei.
Algo se chocou no muro da fortaleza explodindo o gelo. Todos nós fomos jogados deslizando pelo chão gelado pela força da explosão. Fechei os olhos e senti meu corpo mole. Estava começando novamente.  
 Caído nos destroços do muro havia uma mulher. Ela tinha as mesmas feições de Brandon e Plutão. Loira, cabelos caindo nas costas, olhos azuis e um lindo vestido vermelho. Reconheci pelo brilho que ela estava provocando no céu, Caronte.
– Caronte! – chamei tirando ela do chão.
– Quem és tu? – a voz dela era uma mistura de melancolia e depressão.
– Peter Allister, descendente da Terra – falei.
– Ah, foste tu que estavas na Lua durante nosso ataque a Deimos? – ela perguntou.
– Como você sabe disso? – ela estava olhando para o céu com um olhar desesperador.
– As estrelas falam meu jovem – respondeu.
Outro tremor.
– Preciso voltar para o castelo – eu disse.
– Vos precisa voltar para Lua, urgente – ela disse, preocupada – Sky.
Somente o nome de Sky me deu a clareza de tudo que estava ocorrendo. Sky estava em perigo. Deimos era o braço direito da Base Lunar, e nosso inimigo no momento.
– Brandon irá guia-los, volte para o Castelo e procure a sala dos espelhos!
Pulei por cima dos destroços do muro e comecei a correr pelas ruas de Plutão tentando chegar ao castelo o mais rápido possível. Cada explosão em algum local eu tremia de medo e desesperado. Eu não ouvia minha respiração. Corria somente entre os destroços de várias casas sendo explodidas por meteoros e soltando fogo para o alto. Alguns habitantes azuis estavam caídos no chão, alguns mortos ou simplesmente com feridas enormes e queimaduras. Era uma cena triste.
Uma fagulha de fogo caiu em meu cabelo e uma explosão ocorreu do meu lado. Voei para o alto, meu corpo todo queimando e cai na água. O chão havia explodido e embaixo do gelo, havia água gelada. Meu corpo foi de calor infernal para gelo glacial. Meu olho ardeu ao entrar em contato com o líquido gelado. Mergulhei e senti todo meu corpo queimando de frio.
Uma mão me pegou e me puxou para cima.
Deitei no gelo escorrendo água e abri os olhos, era Austin, ele estava totalmente fora de si. Seus olhos estavam arregalados e sua roupa totalmente queimada, ele parecia ter lutado em uma guerra que no mínimo durou uns vinte anos. Ele caiu no chão do meu lado e ouvi sua respiração forte, ele estava respirando! Pesadamente, mas estava.
Dei um tapa em seu rosto e ele piscou algumas vezes e caiu na real. Ele estava começando a criar sentimentos e sensações humanas, como medo e desespero, as quais nenhuma estrela possui.
– Austin! – chamei, mas ele ainda estava longe.
Ele olhava para trás toda hora, levantei e me sentei no gelo para ver também. Caronte estava em sua forma natural de satélite. Ela era enorme e estava na frente da Fortaleza Plutônica, protegendo sua casa. Vindo correndo pelo universo, o grande meteoro com anéis mostrava seu poder.
Alguns habitantes plutônicos azuis estavam subindo em cima de Caronte e levando consigo armas cinza, parecendo bazucas. Enquanto isso, ao nosso lado, meteoros pequenos continuavam destruindo a cidade por dentro e o grande xeque-mate viria com o ser enorme.
– Cadê Chloe e Brandon? – perguntei.
Austin não respondeu. Ele ainda respirava pesadamente, tossindo às vezes como se tivesse bebendo água e se sufocando com a mesma. Ele devia ter visto algo muito ruim para se desabilitar assim. Abracei-o e ele chorou.
– O que aconteceu? Austin?
Suas lágrimas desciam pelo meu ombro, fiquei em silêncio. E vi.
Brilhava como holofotes de shows, vários pontos grandes flutuavam pelo ar, diminuindo e aumentando a iluminação de propósito. Reconheci pelo alinhamento de três. As três Marias.
No meio, havia uma estrela enorme, o triplo das outras que brilhava espetacularmente. Órion.
O pai de Austin.
– Vem comigo – disse puxando ele pelo braço.
– Não posso – ele disse baixo e distante, mas mesmo assim consegui senti toda a dor que a voz dele proporcionava: medo, desespero, angústia, agonia, tudo junto em só um tom – Ele veio me buscar.
– Você não precisa ir agora, Austin, vamos, irei te salvar! – falei com pouca certeza, realmente eu não estava conseguindo lidar com ter que guiar uma jornada, quanto mais resolver problemas familiares.
– Eu prefiro morrer a me entregar – disse ele se levantando e pondo sua cabeça em pé.
E saiu correndo.
– AUSTIN! – gritei até o ar se expelir todo de meus pulmões.

Austin sumiu ao virar a esquina e não o segui, talvez ele fosse procurar Brandon e Chloe, que eu não fazia nenhuma noção de onde estariam no momento. Eu precisava ir ao Castelo visitar a sala dos espelhos antes de ir, como Caronte indicou.
Levantei do chão gelado e fui correndo para o Castelo, vi mais destruição e desespero. Ruas estavam interditadas com destroços de casas, prédios caindo, árvores secas impedindo a passagem e diversos corpos flutuando em águas geladas nos buracos abertos.
Atrás de mim, Caronte estava protegendo ainda a fortaleza, esperando o meteoro com anéis chegar, e vi Austin subindo nela, como os outros habitantes de Plutão. Ele parecia determinado, subia e encaixava uma espécie de faca na superfície rochosa do satélite para escalar. Pensei em gritar, mas eu não tinha mais tempo. Precisava entrar para ver o porquê de Caronte pedir para eu ir a esta sala e voltar e salvar Chloe, Brandon e Austin. Esta jornada era minha e cada falha seria por minha culpa.
Entrei novamente no castelo passando pelo jardim gelado e cinza, mas não olhei muito, segui reto para a porta. Abri e o silêncio pairava pelo ar. Se eu não tivesse vindo aqui antes, acharia que nunca foi habitado. Uma explosão e um tremor mais forte. Caí de joelhos no chão. Levantei e outro abalo. Estava ficando mais constante agora.
A escada estava rachada no meio de tanta vibração que recebeu, subi pulando como se estivesse jogando amarelinha para não pisar em algum local ruim e ela rachar por completo. Cheguei ao corredor e fui abrindo as portas. Salas vazias.
– Merda, Caronte – praguejei depois de abrir mais de vinte portas.
As luzes do corredor falhavam, parecendo uma festa, mas uma festa onde ninguém se divertiria. Continuei andando e achei a mesma porta que nós quatro entramos quando Brandon nos trouxe aqui. Abri.
A sensação foi estranha. Eu já tinha estado naquela sala, e não tinha nada. Agora estava repleta de espelhos nas paredes, no chão e no teto. Eu me via em todos os ângulos possíveis e via várias vezes eu mesmo. Minhas roupas estavam destruídas, meu casaco estava péssimo, queimado e rasgado em algumas partes. Meu cabelo chamuscado e havia um hematoma em meu rosto que estava ficando roxo. Sentei no chão espelhado e senti algo diferente.
No meu lado direito, eu via a Terra no espelho e no esquerdo a Lua. A Lua se remexia como se estivesse sendo sufocada e a Terra rodopiava mais rápido possível, agonizada também. Na parede da minha frente, vi um planeta vermelho marrom, Marte. Havia um ponto cinza rodopiando o planeta e tremendo também. Outro ponto apareceu em marte, mais escuro agora. O cinza e o escuro se tocaram várias vezes, até que o escuro bateu tão forte no cinza que ele voou fora de órbita. 
O ponto escuro flutuou saindo de perto de Marte e rodopiando encontrou a Lua. Caiu na superfície e sumiu. A Lua deu uma tremida, sabendo que algo tinha acontecido e todos os planetas se apagaram, deixando a sala em total escuridão.
A sala iluminou-se novamente quando o teto mostrou a Lua. Branca, plena e linda, era realmente um astro de beleza. Ela parecia tensa como se estivesse segurando a respiração. Algumas horas uma ponta escura aparecia do outro lado, mas a parte clara tremia a beleza clara voltava.
O lado escuro da Lua.
As coisas estavam começando a fazer sentido. O espelho da minha frente me mostrou a Base Lunar, uma adolescente e uma menina. Sky e Chloe, presumi na hora. Um homem de cabelos escuros e olhos excepcionalmente cinzas.
Havia em cima de uma mesa de metal uma mistura que logo reconheci como tinta para cabelo.
– Vou pintar seu cabelo, para eles não te reconhecerem – disse Sky.
– Tudo bem! – falou o homem.
– Tio Deimos, vamos explorar o meu lado depois? – disse a menina com animação.
– Ok! Precisamos descobrir mais coisas – e bagunçou o cabelo de Chloe.
E Sky começou a pintar o cabelo de Deimos.
O espelho escureceu e o do lado direito mostrou a Base atualmente. Reconheci a sala principal com a maquete com os planetas, a mesa no meio, os computadores e Herbig e Haro correndo um atrás do outro.
– É, ele não sobreviveu – disse Deimos, agora na mesma feição de quando o vi pela primeira vez.
Sky apareceu com toda sua graça na sala.
– Mande o próximo, então.
Austin apareceu no espelho mexendo nos computadores. Ele parecia alegre demais, era tão diferente o ver assim depois de o ver chorando.
– É o filho dele – falou.
– Mande primeiro os dois alertas – Sky sugeriu.
– Deimos – ponderou Chloe na mesa.
– Eu? Não faço mais isso! Lucy, por favor, nos dê a honra – ele respondeu.
Lucy, a estranha que vi na Base, estava deitada com a cabeça para baixo no puff prateado que sentei. Ela fechou os olhos e brilhou, brilhou tão forte que a sala iluminou por completo.
– UHUL! – gritou Chloe – Arrasou garota!
A sala se apagou novamente.
Eu tinha acabado de ver como Deimos havia chegado à Lua e como eles tinham reagido com isso. Quem era Sky e Chloe, e como eles me chamaram: “Ele não sobreviveu” ecoava em minha cabeça.
Meu pai não podia estar morto.
Ele me ligou.
O teto se iluminou novamente e agora Sky estava conversando com Austin. Eles pareciam estar em algum corredor. Sky checava com os olhos de dois em dois segundos para ver se não havia ninguém os vendo.
– Austin, você vai nessa jornada, entre no ônibus e dê impulso para eles saírem da órbita, será difícil, mas conto com você – disse sussurrando.
– Eu não posso sair, você sabe – ele respondeu.
– Shhhhhhhhhh! Ninguém vai saber.
Austin pareceu confuso.
– Eles vão vir buscar Deimos à força, precisamos tirar o descendente daqui urgentemente, ou senão ele vai atrás dele.
– E como eu vou saber quando devo ir me esconder no ônibus? – perguntou ele.
– Eu vou misturar as coisas por aqui, provavelmente acordaremos com um alarme e gravidade.
– Tudo bem, mas você só irá entregar Deimos né? Ouvi coisas ruins sobre suas ideias...
– Não se preocupe – disse Sky pondo a mão no ombro de Austin – Tudo vai dar certo, está escrito!
E apagou.
Tudo estava se misturando em minha mente como matéria escolar, tudo sendo jogado ao mesmo tempo. Muita informação para pouco tempo para digerir.
Levantei e os espelhos voltaram a mostrar eu mesmo. Minha expressão fundia-se entre surpresa, decepção, confusão e espanto. Mas era determinada. Eu estava determinado e no fundo do meu conhecimento, eu sabia o que, como, e porque fazer.
Eu tinha que ir atrás de Deimos e salvar Sky.
O espelho brilhou novamente.
Era meu quarto no Brasil. Minha mãe jovem chorava do lado do meu berço branco. As paredes estavam enfeitadas com elefantes, cavalos e cachorros correndo. Carrinhos, bonequinhos, ursinhos e roupinhas estavam jogados em um canto, havia uma réplica pequena da Terra pendurada junto com a lâmpada e na cômoda, um sistema solar de brinquedo.
– Você precisa ser o que o amanhã precisa, Peter – ela batia a cabeça na madeira no berço, chorando e soluçando.
E apagou novamente. Meu coração apertou. Eu precisava sair dali. Abri a porta e cai no corredor com outro tremor.
Eu me sentia completo agora. Eu odiava depender de Chloe, de Austin, de Haro para ter informações a cerca do que eu estava fazendo ali, qual era a minha conexão com aquilo tudo, e por que era eu. Eu sabia tudo.
Corri pelo corredor e cheguei à escada que estava rachada e derretida. Pulei e cai em cima do gelo. Mais um tremor, agora eles estavam mais constantes e mais fortes.
Uma explosão forte invadiu meu ouvido, o meteoro bateu na lateral do castelo, explodindo tudo. Joguei-me no chão, enquanto tudo se transformava em pó. Cobri minha cabeça para não ser acertado por nada.
Saí me arrastando e engatinhando até a porta. Não lembrava que demorava tanto para sair do castelo, talvez a situação estivesse ajudando a ficar mais lento o tempo, já que não tínhamos um controle de tempo/espaço no Universo.
Plutão estava em ruínas, não havia quase nenhuma casa em pé, tudo estava destruído, fumaça subia ao ar e se encontrava na atmosfera formando uma grande massa escura que impedia do Sol iluminar tudo. Parecia um grande dia nublado, triste e chuvoso, mas não era, era só triste.
Os corpos haviam se triplicado. Armas, arpões, e armaduras estavam partidas e espatifadas pelo chão que estava rachado e destruído. As ruas haviam se transformado em grande lagos com vários buracos no gelo.
Caronte estava lá na frente ainda, com vários habitantes ainda atirando e jogando seus arpões tentando destruir os meteoros menores, o maior, estava muito mais próximo. Calculei alguns minutos para a colisão.
Subitamente os muros da Fortaleza explodiram jogando gelo para todo o lado, Três meteoros explodiram no chão e a multidão que aguardava no portão desceu água abaixo.
Sai pelo jardim que estava em chamas, as flores gélidas tinham sido queimadas e as árvores secas nem ali estava mais.
Ouvi gritos de desespero vindo de cima de Caronte. Os guardas azuis estavam se comunicando. Avistei Austin. Eu precisava salvá-lo.
O anel do meteoro tocou Plutão, o abalo foi tão forte que fui jogado para cima como se estivesse agarrado em um elástico gigante. Meu corpo flutuou no ar por meio segundo e fui arremessado para o chão com brutalidade. Os restos dos prédios e casas destruídas tremeram com o terremoto e se reduziram a pó, cobrindo toda a visibilidade a um palmo de mim.
Segurei minha própria mão e avancei na escuridão proporcionada pelo pó negro. Sentia-me mais seguro me auto segurando, estava em meu pior pesadelo: não ter ninguém e nada para me ajudar. Imaginei Plutão como um grande quarto onde não há luz e mesmo que se tivesse, ela não iria me encontrar e muito menos me ajudar, as paredes, mesmo se eu encostasse nelas para tentar pedir ajuda, não iriam me ajudar, recusando qualquer envolvimento com o que acontece.
Tossi várias vezes até senti outra explosão seguido de um vento arrebatador, semicerrei meus olhos para tentar ver algo, mas o vento não me deixava ver nada. Caronte iluminou-se e consegui ver com um pouco de clareza o que esta acontecendo: O meteoro enorme tinha colidido com Caronte.
A explosão iluminou Plutão totalmente. Todos os habitantes azuis, os normais, e inclusive Austin que estava em cima do satélite foram jogados para o ar. O terremoto e o abalo racharam o chão imediatamente, destruindo todo o gelo. Ouvi a atmosfera rachando e os raios magnéticos do sol penetrando no solo. Dei um grito de agonia. Tudo estava sendo destruído.
Corri na direção do castelo enquanto Plutão era dizimado, não tinha volta, tínhamos arruinado um planeta todo. Eu deveria ter ouvido que não devíamos ir para Plutão. Só foi Deimos saber que estávamos aqui que mandou todos esses meteoros.
Corri pulando em locais onde o gelo parecia firme, enquanto os outros rachavam próximos a mim revelando a água que eu tinha caído.
Cheguei no jardim gélido de novo e um meteoro explodiu no momento na encosta do Castelo explodindo a porta e destroçando a entrada do castelo em pedras. O vento batia nas minhas costas e olhei para trás. Plutão agora era um mundo apocalíptico, um deserto aquático, Caronte não estava mais ali, o meteoro com anéis havia explodido e destruído a cidade toda e o terremoto estava embaixo de meus pés agora.
O chão rachou no portão do Castelo, alguns metros de mim. Corri sem ousar olhar para trás até um gazebo que se materializava no meio do jardim já destruído. Havia uma estátua de Plutão atrás dele e ela estava rachada ao meio. Subi no gazebo e esperei.
O chão tremia e eu segurava na base da construção aguardando. Minha visão era de um mundo diferente do que eu tinha visto: tudo estava em pó, ou em destroços. O gelo derretendo com o sol e rachando com o meteoro.
O gazebo balançou e se inclinou como um navio. Tentei ir para o outro lado agarrando ao chão de madeira, cambaleei por um momento e desisti. Rolei até bater de costas na madeira e esperei o gazebo inclinar-se por completo. O tremor balançava meu corpo como se estivesse em uma cadeira de choque.
 A madeira ruiu e a construção virou cento e oito graus e entrei na água gelada fechando os olhos e o nariz esperando o meu momento final.