PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

domingo, 20 de abril de 2014

felis pasgoa =^.^=

9 INVASORES

Quando Halley se transformou em sua forma de cometa, fiquei maravilhado. Ele era muito maior do que Ison e mais brilhante ainda. Fiquei com vergonha e com medo de subir em um cometa, então esperei Chloe ou Austin fazer isso primeiro para certificar que nada errado iria acontecer. Nada aconteceu e me senti livre para sentar. Era como estar em uma cama. Era plano e fixo, não teve ameaça de cair enquanto subíamos pelo céu, e aos poucos, Vitória foi virando somente uma cidade tão pequena que percebi que ultrapassamos a atmosfera e que o céu escuro começou a surgir novamente.
– Espero que ninguém tenha te notado, senão mudaremos toda a ciência – comentei para Halley e era verdade, não sei quanto tempo ele tinha antes de voltar, mas adiantamos tudo isso. Imaginei cientistas, estudantes de astronomia loucos pela volta de Halley sem que ninguém ou a tecnologia tivesse previsto, livros e conceitos sobre teriam de ser mudados.
– Geralmente eu apareço em intervalos de setenta e cinco anos, mas queria ficar de verdade por lá – ele disse – A Terra é tão organizada e de todos os locais que passei, foi o que eu mais gostei.
Lembrei-me de meu conceito de estar sozinho já tinha sido quebrado há dias. Desde que vi todas aquelas pessoas na Base, mais os guardas em Mercúrio, a cidade em Vênus, tudo isso ainda estava sendo processado, mas estava sendo aceito sem muita relutância de minha parte. Por que ignorar que estamos sozinhos? Que a Terra é a única que possui habitantes? Eu costumava pensar assim, mas hoje em dia, revisei toda essa teoria.
– Seu pai está furioso – voltou a dizer – Se eu fosse você, estrelinha, ficaria por aqui ou procuraria outra galáxia.
Olhei para Austin e sua expressão não mudou nem um pouco. Ele estava ligando muito pouco para seu problema com seu pai pra se importar.
– Não quero nem saber – disse Austin – Nunca mais voltarei a ser uma estrela, agora eu que não quero mesmo.
Permanecemos em silêncio por boa parte da carona, Halley era muito rápido, então em questão de segundos estávamos próximo à Vênus, mas não paramos porque meu plano era de parar na volta para a Lua, que brilhava agora como um ponto atrás de nós.
Apesar do pouco tempo, a sensação de estar novamente no Universo me animou um pouco e me deixou mais tranquilo. A minha mente traduzia para que aquele fosse um lugar seguro e brando.
– Vamos precisar parar em Mercúrio, estou cansado – disse Halley – E vocês são pesados.
Vi Mercúrio em minha frente e me impressionei em como chegamos tão rápido. Halley tinha usado outro caminho, sem ser a via das Irmãs Três Marias, talvez por ser um cometa ele tivesse benefícios maiores.
Halley se aproximou do planeta e fez um giro no ar, jogando nós três, despreparados, no chão arenoso. Cai e rolei por um tempo e ouvi-o rindo adquirindo velocidade e voando.
– Maldito – praguejou Chloe.
– E agora? O que vamos fazer? – perguntei.
– Achar algo que nos leve à Plutão.
Localizamo-nos em outra parte de Mercúrio que ainda não tínhamos visto. O chão agora era areia pura, como um deserto e a ardência do sol escaldavam em nosso corpo. Usei a pulseira rapidamente para me proteger e continuei andando. Às vezes a areia trocava de cor, de amarelo-ouro, ia para preto, cinza e por fim, tudo pareceu uniforme como saibro.
– Santa Galáxia! Não vamos nunca sair daqui? – disse Austin secando suor de sua testa. Não sabia que estrelas podiam suar.
– AUSTIN! – berrou Chloe.
Os dois arregalaram os olhos um para o outro.
– Eu estou suando! – bateu palmas – Até que enfim!
Austin comemorou, batendo palmas, rindo e fazendo gestos com os braços. Ele parecia muito alegre. Olhei para Chloe e nem uma gota saia dela. Austin suava tanto como eu estava suando dentro da proteção concedida pela pulseira.
– Não estou entendendo – disse.
– Austin está finalmente virando humano! – anunciou Chloe.
– Como assim? Austin é uma estrela!
– Era, meu amigão – ele disse rindo – Lembra do que eu disse quando nos conhecemos? Uma estrela em fase de transição.
Lembrei-me de Austin na mesa na Base. Onde estávamos todos reunidos para discutir o problema que estava acontecendo no Universo. Austin, Chloe, Sky, Haro e Herbig, Deimos, e Lucy.
– Como isso é possível? – indaguei.
– James me ensinou – ele respondeu.
– Isso é mentira – disse Chloe dando um tapa no braço de Austin que deu um grito.
– Quem é James?
– O descendente de Júpiter.
Chloe murmurou “Mentira” e Austin fechou a cara.
– Ele existiu ok! – ele berrou.
Chloe o olhou e riu. Percebi que Austin tinha se irritado mesmo com Chloe não acreditando nele e na história de Jones.
– Olha aquele ponto azul ali atrás do sol – disse Austin – São eles!
Há uma distância considerável de nós e do sol, havia Plutão, brilhando como uma estrela azul.
– Eles são meio burros né? – disse me lembrando das minhas aulas do ensino fundamental – Estão se matando, olha o sol derretendo-os.
– Eles são burros – confirmou Chloe com desprezo.
– Como chegaremos lá? – perguntei.
– Não faço ideia, se continuarmos andar aqui, nunca vamos achar nada.
– Vocês são seres do Universo, não possuem poderes não?
Chloe e Austin riram. Os dois bateram palmas desesperadamente tendo crises de risos. Me senti um idiota perguntando isso.
– Por que vocês estão rindo?
Eles continuaram.
Sentei-me em uma rocha que vi em minha frente com a cara emburrada já que os dois estavam me fazendo de bobo e senti meu celular. Meu celular. Tele transporte. Sky falando comigo enquanto eu estava no almoxarifado.
– Já sei o que iremos fazer! – disse eu, por fim. Peguei meu celular e senti que ele estava seco, agradeci aos astros internamente, pois após a queda no mar em Vitória achei seriamente que ele queimaria.
– Qual o código de Plutão? – indaguei.
Chloe me encarou e franziu a testa. Ela estava séria agora, não estava mais rindo, suas bochechas enrijeceram e sua boca ficou dura. Encarei-a de volta e tentei descobrir qual era o problema em perguntar o código de um Planeta.
– Não existe, Peter – intrometeu-se Austin antes que ela respondesse.
– Obvio que sim! Eu consegui ir para a lua, então é obvio que o código funciona em toda a Via Láctea, não?
– Não – disse ele rapidamente.
– Mas ele já foi um planeta...
– Já foi! – respondeu Chloe, duramente – Já foi, agora não é mais. O código é só para alguns locais. Ninguém sabe interpretar esse código direito, Sky demorou milênios para entender o código da Lua e não conseguiu achar nenhum outro que funcionasse.
– Mas...
– Mas o que? Você acha que você vai entender o código com sua experiência enorme aqui na galáxia?
Austin pôs a mão no ombro de Chloe, que percebeu que estava gritando. Ela olhou para o chão e respirou fundo. Via-se claramente que ela estava se irritando, não sei porque, mas sim, ela estava se irritando.
Me virei e voltei a mexer no meu celular, com o discador aberto, lembrei-me do código da Lua: *2#. Pensei por um momento.
– Ele me irrita as vezes e me lembra ele – dizia Chloe atrás de mim e Austin fazendo sons com a boca de negação.
Asterisco, dois e jogo da velha. O que isso tinha em comum?  A lua, o satélite natural, a Terra, o planeta e esses caracteres avulsos.
– Calma Chloe, esquece tudo isso – num tom sereno, Austin tentava acalmar Chloe que estava irritada por nada.
A terra, terceiro planeta. O código, três caracteres. A Lua, a segunda parte da Terra.
Digitei: *1#.
Apertei o botão de ligar.
A tela não mudou como na primeira vez, agora, um solavanco no estomago me fez fechar os olhos de vez. Senti tudo dentro de mim remexendo, o ácido dentro de mim queimando e balançando. A sensação foi péssima.
Abri os olhos e vi tudo diferente.
A sensação gelada do Universo tinha acabado com o Sol que batia em meu rosto. O vento brigava com a sensação de calor, os dois disputando quem iria prevalecer em mim. Em cima de mim, palmeiras verdes balançavam em harmonia. Pássaros cantavam no fundo, e o som de onda quebrando em rochas era maravilhoso. O ar era leve, com um leve cheiro salgado, e tudo pareceu por um momento o local mais perfeito do mundo. Andei por um pouco pela areia branca e me localizei em uma praia muito bonita. Caranguejos andavam pelo chão saindo de seus buracos e algumas pessoas estavam deitadas em cangas.
Embaixo de uma palmeira, um homem moreno, robusto e com vários apetrechos em seus braços tocava um tambor. Ele parecia feliz, com os olhos fechados e apreciando o ambiente.
Esse era o código. A Terra, o terceiro planeta, três dígitos. Mercúrio, primeiro planeta. Um dígito.
Apertei * e fechei os olhos, querendo que eu estivesse certo.
A sensação foi a mesma. Logo, eu estava em pé na terra arenosa de Mercúrio e Chloe e Austin gritando meu nome desesperadamente a alguns metros.
– Estou aqui – chamei-os – Entendi o código!
 Chloe me mirava com os olhos, incompreendida que consegui realizar algo que ela parecia ter certeza de que estava certa. Ela veio marchando como um soldado de guerra em minha direção com a cara emburrada.
– Você é sortudo, só isso – assentiu.
– Eu sou esperto – rebati.
– Não tanto.
– Ok, vamos ao que interessa? – interrompeu Austin – Precisamos ir a Plutão cortar o maldito elo, lembram?
– Sim, encostem-se em mim – disse.
Os dois tocaram minha pele e pela primeira vez percebi o quão gelado ambos eram. Os dois viviam no universo, então esse deveria ser o motivo. Passou pela minha mente que eu não sentia mais frio e nem percebia que não ventava como na Terra.
– Que demora – murmurou Chloe impaciente no meu ouvido.
– Estou indo – peguei meu celular e pensei por um momento. Plutão era o nono planeta do sistema solar, então o código dele eram nove asteriscos.
Digitei.
A sensação ruim bateu novamente, a emoção de se transportar pelo Universo não era nada atrativa, e prometi a mim mesmo naquele momento que só a usaria em últimos casos.
Abri os olhos e pisquei várias vezes para acostumar com o local. O chão era rochoso, mas coberto por uma grossa camada de gelo, que lembrava os lagos congelados de Washington. Havia grandes picos glaciais que me recordavam icebergs. A nossa frente um muro gélido de uma grande metrópole se erguia e muito no fundo, um castelo enorme rochoso.
Estávamos mais próximo do Sol, eu já o sentia penetrando pela camada de proteção dada pela pulseira. Olhei em volta e vi em cima de uma grande torre dentro da fortaleza uma construção estranha: algo parecido com uma roda gigante enorme e no local de cada banco, estava um cabo de aço. O elo, pensei. Porém não tinha ligado a nada.
– Vocês estão vendo o mesmo que eu? – perguntei.
– Sim – disse Chloe – O que é isso?
Austin deu um grito e caiu no chão gelado, olhei para trás e me protegi enrijecendo e fechando as mãos em posição de ataque, pois da superfície surgia algo estranho. O chão borbulhava como água fervente e fazia um barulho estranho. A água flutuou por uns centímetros e começou a tornar forma. Em poucos segundos um homem de uma estatura de uma criança se materializou em nossa frente. Ele era certamente o ser mais diferente que eu já tinha visto até agora: Era azul. Todas as partes do corpo eram azuis. Cabelo, pele, olhos, boca, língua, tudo. 
– Invasores! – disse ele e sua voz era fina, muito fina que senti vontade de rir.
– Não! – interviu Chloe – Não somos invasores, sou Chloe, desbravadora da Lua, satélite da Terra.
Austin soltou um grito abafado, enquanto o habitante de Plutão não aguardou um segundo e começou a gritar:
– INVASORA! INVASORA!
Chloe deu um passo para trás e eu fiquei parado. Aprendi na prática que cachorro bravo não vai atrás de quem está parado, talvez funcionasse com habitantes de Plutão.
Em segundos, o chão tremeu e vários nativos surgiram, eles traziam em suas mãos agora arpões e nós três nos encolhemos no meio da roda que havia se formado. Os plutônicos gritavam uns para os outros e o primeiro que nos encontrou tinha se perdido na multidão de habitantes idênticos.
– O que aconteceu? – perguntei aos dois que encostavam suas costas nas minhas.
– Se tivesse um código para se ferrar em Plutão, digamos que seria “Terra” – respondeu Austin.
Lembrei-me da história de Plutão deixar de ser um Planeta. Quem o deserdou foi o pai de todos, Sol, como Sky disse, porém quem deu mais apoio foi a Terra e todos seus habitantes. Realmente, estávamos ferrados.
Um habitante encostou a ponta do arpão em minha pele e queimou. Não queimou porque era quente, mas sim pela temperatura gelada que estava. Abaixo dos trezentos graus negativos com certeza. Soltei um gemido e ele berrou me imitando.
– Cala a boca! – gritou Chloe e ela levou uma cutucada de arpão de outro, deu um pulo e saiu correndo.
Os plutônicos azuis ficaram loucos. A raiva estampou seus rostos enquanto Chloe corria em direção ao portão da fortaleza gelada. Eles berravam e faziam sons que eram incompreensíveis e tentei entender porque eles eram assim, não consegui.
– E agora? – perguntei a Austin, mas ele não teve tempo de responder. O chão tremeu de novo e todos os plutônicos pararam de correr. O local onde estava borbulhando no chão brilhava e nisso, todos os seres azuis se ajoelharam no chão e abaixaram a cabeça.
A água não se materializou primeiro como os outros, o homem surgiu como mágica, do nada. Quase dois metros, cabelos pratas, pele clara e olhos azuis. Usava um terno azul marinho, calça preta e sapatos. Jurei que ele era um empresário. Em sua mão havia um arpão enorme prateado que modificava de forma toda hora, indo de arpão para algo parecido com cabo de vassoura, após um momento transformou-se em um bastão de beisebol. Austin e Chloe gemeram quando o viram. Ele parecia firme demais, como um pai que estava bravo. Forcei a mente para tentar lembrar, mas um ser azul disse alto:
– Vossa Majestade, Plutão.
E tremi quando ele terminou de dizer e Plutão tomou uma expressão rígida em seu rosto frio.
– Quem são vocês? – a voz grossa dele ecoou em meu ouvido. Era algo tão estranho, ver e ouvir algo de tão distante, parecia antigo demais e dava medo.
– Sou Chloe Selene, desbravadora da Lua, este é Austin Orion, estrela em transição e aquele é Peter... –e ela olhou para mim esperando que eu me apresentasse.
– Peter Allister, descendente da Terra – completei.
Plutão me estudou por um momento. O silêncio pairou e o encarei de volta. Ele não tinha ficado impressionado quando Chloe tinha dito que era da Lua igual seus habitantes, mas tinha ficado muito quando eu disse que era descendente da Terra. Devia ser outro código para não se dizer em Plutão.
– Interessante – ele disse friamente – O que devo a honra de uma raça que sumiu há séculos?
Olhei para Chloe tentando entender o que ele tinha dito com uma raça que sumiu há séculos. Será que eles não sabem que os humanos estão vivos há milhões e milhões de anos? Ela desviou o olhar e senti que aquilo deveria ser feito por mim, como se tudo aquilo tivesse ocorrido porque eu aceitei ir, e de certa forma, era minha responsabilidade.
– Nós viemos cortar o elo – respondi.
Plutão e os habitantes azuis caíram em gargalhadas. Agora sua arma mutante tinha virado uma espada enorme e ele balançava os braços e me afastei para não ser morto. Ele colocou a mão na boca e tentou falar algo, mas outra crise de riso aconteceu. Ele parecia um adolescente rindo.
– O elo... – e voltava a rir.
– Chloe! – resmunguei – Do que eles estão rindo?
Ela deu de ombros. Nem ela e nem Austin faziam ideia do que estava ocorrendo. Os seres azulados estavam batendo com a palma na mão no chão gelado imitando muito bem o que nós, humanos, fazemos quando estamos tendo uma crise de riso muito forte depois de rir uma piada muito engraçada ou ver uma situação muito cômica.
– Parem – ordenei – Do que vocês estão rindo?
O homem parou de rir gradativamente e voltou a ter sua expressão séria em seu rosto. Ele ajeitou o colarinho e voltou a dizer:
– Caro descendente, creio que você veio ao local errado – disse Plutão – Ainda não há elo aqui.
– Ainda não! – falei.
– E não vai ter por muito tempo, nossas tecnologias são falhas. Estamos tentando fazer o melhor para todos.
 – Melhor para todos? A Terra está congelada! – exclamou Chloe – Você está congelando os planetas telúricos e deixando seus problemas pessoais com o Sol interferir em quem não tem nada haver com isso.
Plutão semicerrou os olhos. Ele parecia confuso.
– Se a Terra está congelada, o problema é dela! – ele disse.
Tive vontade de dar um soco em Plutão, porém 1) Ele era o Rei de um planeta, e eu somente um humano, 2) Seres do Universo são violentos demais, vide Ison.
– Como ousa falar de minha mãe e de sua irmã assim? – falou Chloe, tensa e nervosa.
Plutão riu.
– Quem é você mesmo? – perguntou.
– Chloe Selene, desbravadora da Lua – respondeu Chloe com convicção do que estava dizendo, como se aquilo fosse um lema de toda uma vida.
– Pode repetir?
– Chloe Selene – bufou ela.
– Ah, ainda não sei quem você é... – ele colocou a mão no queixo pensativo – Só conheço quem governa o lado claro da Lua, é claro, o mais importante.
Chloe bufou mais alto e a vi fechando sua mão.
– Calma Chloe – murmurou Austin.
– Desculpe, minha amiga desbravadora – disse Plutão – Não sabia que essa história era particular.
O momento que fechei meus olhos para piscar foi o momento que Chloe partiu para cima de Plutão. Os dois se encontraram e soltaram uma luz fortíssima. O rosnado de raiva dela era a única coisa que eu ouvia.
– Você irá pagar pelo o que disse – gritou Chloe caída no chão e em um segundo fendas se abriram saindo água, ela estava fazendo o mesmo que fizera na prisão em Mercúrio.
Plutão transformou seu arpão em uma espada de fogo enorme que era coberta por uma proteção em forma de linha que explodia e deixava um cheiro muito forte. Reconheci imediatamente. A camada de ozônio.
Plutão encostou o arpão no chão e todo o raio de cinquenta metros tremeu. Os seres azuis tremeluziram e desapareceram. O chão e tudo dentro de mim tremeram ao mesmo tempo, já tinha presenciado alguns terremotos, mas a sensação de um terremoto é a terra tremendo, não todo o seu corpo internamente. Senti todos meus órgãos remexendo e tentando dançarem sem música. Cai no chão e Chloe e Austin também.
– Vocês devem respeito em meus domínios – ele disse calmamente – Agora se levantem, pois nós possuímos assuntos para resolver.

Quando cinco habitantes normais, ou seja, sem serem azuis, apareceram para nos carregar em algemas, me senti mais aliviado. Fomos andando até o portão assim: Austin e eu escoltados por um, e Chloe por três. Mas a sensação mudou assim que adentramos dentro da fortaleza de Plutão, tudo me deixou enjoado, com dor de cabeça e as pálpebras pesadas. A rua era feita de gelo, alguns nativos corriam patinando no gelo e rodopiando. Há alguns metros um conjunto de algo que deduzi serem casas se materializava. Casas simples, como um sobrado da Terra. Todos que estavam andando pelas ruas olhavam para nós, como se fôssemos algum produto sendo vendido ao ar livre.
Caminhamos até uma praça onde havia uma fonte e um templo muito parecido com os templos gregos.
– Por que aqui parece tanto a Grécia? – consegui perguntar depois de sentir minha bile parar de mexer.
– Não parece não – Austin disse e pensei se ele soubesse o que Grécia significava.
Pisquei e vi outra coisa. A rua havia mudado, era lamacenta e as casas de madeira possuíam vários habitantes nas janelas pendurados olhando e assoviando para nós. Balancei a cabeça. Eu estava com sono ou algo do tipo.
– O que está acontecendo? – gritei.
– Ele está sofrendo, Austin – disse Chloe andando em minha frente algemada acompanhada de três nativos não azuis.
– Parem – pediu Austin e ninguém nos deu ouvido.
Cai no chão fechando os olhos. Eles estavam pesados demais para ficarem abertos e minha cabeça doía muito. Abri os olhos no momento e pensei em ter visto Washington. O monumento, o sol, as árvores.
– Por favor, vocês não estão entendendo não? – pedia Austin com preocupação em sua voz.
Eu não conseguia abrir os olhos, mas conseguia ouvir tudo. Alguém falando em um ponto muito distante de onde eu estava. Um barulho parecido com o de um martelo trabalhando há alguns metros e as explosões naturais do Sol.
Um dos nativos respondeu algo que não compreendi.
– Ele não é de Netuno! Não o compare! – disse Chloe irritada.
Forcei a mim mesmo a abrir o olho e em uma fração de segundo com ele aberto me vi em um local muito bonito, verde e claro e uma grande construção parecendo um estádio mau acabado em minha frente: O coliseu.
– Eu estou louco? O que está acontecendo? – berrei.
– Calma, Peter, calma! – gritou Austin e ouvi uma explosão. Austin se transmutando em estrela. Alguns dos nativos deram um grito de espanto e saíram correndo, deduzi ao ouvir passos apressados.
– Peter – disse Chloe próxima a mim encostando sua mão gelada em meu rosto – É o campo magnético, é fatal para você. Todo o seu conhecimento está indo embora. Você precisa nos tirar daqui!
Apertei os olhos.
Como Chloe esperava que eu os tirasse dali. Eu estava com o rosto grudado ao chão de gelo, tentando mover meu corpo, mas não conseguindo e morrendo por dentro. Eu teria de fazer algo? Eu?
– É você que precisa nos ajudar – eu disse.
– Você é o dono desta jornada! Eu o trouxe ao destino que precisava trazer, fomos guiados por mim e por Sky até aqui, agora, só você pode nos salvar – ela disse e senti a sinceridade em sua voz.
– Como assim?
– Eu te levei a Mercúrio porque havia um ônibus guia, uma banheira que levava para a Terra, um cometa que nos levava para o Universo e uma ideia que você utilizou e pensou – explicou.
– Eu sabia que existia que o código existia! Você estava mentindo!
– Sim, eu estava – respondeu – Porque eu já sabia que você já estava tomando conta da jornada sozinho, como deveria ser.
Gelei.
O que Chloe tinha me dito me soou como uma coisa ruim. Jornada sozinho, como deveria ser ecoou dez vezes em minha mente em menos de um segundo.
– O castelo é imune ao campo! – gritou Austin se aproximando de nós.
Chloe me levantou e apoiou no ombro de Austin e fomos nos arrastando pelas ruas que nunca terminavam. A sensação de não poder abrir os olhos e pensar direito era péssima, porém a pior coisa era a dor física. O sol não queria que eu estivesse por perto, não mesmo.
– Vamos! – encorajou Chloe – Estamos quase lá.
Nunca havia passado mal de ir ao hospital as pressas enquanto estava na Terra. As febres, dores de cabeça, gripe, resfriado eram resolvidas com remédios conhecidos ou simples chás e se algum dia alguém resolver passar mal, não faça isso no Universo.
– Por favor, é urgente! – implorou Chloe e ouvi um portão rangendo abrindo. A sensação foi aliviante. Austin me colocou no chão e fiquei ali parado por alguns minutos sentindo as dores diminuírem.
– Acharam o caminho fácil – a voz de Plutão eclodiu no local onde eu estava.
– Sim, foi muito gentil de sua parte retirar a proteção natural do Planeta sabendo que estávamos com um habitante terrestre, muito gentil – rebateu Chloe com ironia e percebi que ela não havia gostado de Plutão.
– Eu poderia mata-los sem retirar nada – ele disse fortemente e tremi porque era verdade. Eu nunca havia conhecido um Planeta em sua forma natural, somente Sky e Chloe, Lua, e alguns cometas. Mas certamente, um Planeta é muito mais forte.
– Olha, viemos aqui porque recebendo um alerta que vocês, habitantes de Plutão, estariam fazendo um Elo com o Sol, para levar ele para outro local da Galáxia e formar um novo sistema... – disse Austin, porém Plutão o interrompeu.
– Formar um novo sistema? – e riu.
– Sim! – afirmou Chloe.
– Vocês acham que mudamos nossa localização para roubar o Sol para nós? Logo o Sol que me expulsou da família? Vocês são tolos demais, acreditam em qualquer mentira que é espalhada por qualquer Estrela ou Luazinha.
– Então por que vocês estão aqui?
– Você já percebeu que somos extremamente frios? Passamos milênios esperando uma simples luz solar chegar para nós e não chegava nada. Desenvolvemo-nos em meio ao frio e gelo, e agora está suficiente, tem gelo para fazer mil meteoros gelados e vender! Estamos aqui para nos descongelar, pois sabemos que nosso Planeta é tão bonito quanto Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, os telúricos.
– Telúricos? – perguntei.
– Sim, planetas com densidade – respondeu Austin ao meu lado.
– Mas e as colônias que vocês estão fazendo em outros planetas? – indaguei me entrosando na conversa – Vocês estão errados! O certo é cada um cuidar de seu planeta e não invadir o do irmão!
– Tecnicamente, estas colônias são nossas, porém vendidas para o Imperador fazer o que desejar com elas, não possuímos responsabilidade pelo o que estão fazendo – respondeu uma voz conhecida. Forcei meus olhos a abrirem e vi: um menino alto, loiro e com feições parecidas com as de Plutão. Ele parecia muito com um Terrestre, provavelmente seria o mais popular jogador de basquete da escola, se estivesse vestido corretamente. Ele usava uma túnica azul que prendia no pescoço e uma roupa branca por baixo, cheia de enfeites como desenhos de peixes, pássaros, leões. Um zoológico todo em sua roupa.
Ele não parecia nada contente, seu jeito de andar era como se estivesse cansado arrastando suas pernas descendo a escada transparente de gelo. Percebi onde eu estava: um grande salão com paredes azuis no estilo medieval. Nas paredes dependuravam tochas que quase entravam em contato direto com o gelo. Nativos azuis vestiam armadura completa e permaneciam nos cantos do local vigiando cada movimento nosso.
– Brandon – sussurrei e lembrei-me de quando estávamos em Mercúrio, presos na Base e o Dr. Reynolds realizou uma ligação para ele, e após morrer, eu troquei poucas palavras com a Alteza.
– Descendente – ele disse de volta.
Chloe, Austin e Plutão olharam para a cena assustados, levantei-me do chão e me pus em pé com ajuda de Austin.
– Você deveria ter escutado meu conselho – o príncipe voltou a dizer e a voz dele passou pela minha cabeça novamente “Não venha a Plutão agora!”.
– De onde vocês se conhecem? – murmurou Austin me cutucando.
– Depois eu conto – respondi.
Encarei o príncipe que já estava sentado em seu trono.
– Você é no mínimo cara de pau por ter coragem de dizer para eu me afastar daqui! – falei – Vocês  estão com meu pai! E vão afastar o Sol de nós!
– Duas afirmações falsas – ele respondeu na maior calma.
– FALSAS? VOCÊ ESTÁ LOUCO! – berrei.
– Sim!
– Você que está louco! Não viajamos a toa! – disse.
– Vocês vieram atrás do Imperador, Plutão, para cortar o elo e voltar para casa, porém como vocês já notaram não há nenhum elo aqui e mesmo que tivesse, seria só para descongelar a superfície e nos adaptar novamente – o príncipe explicou.
– Eu disse – Plutão se gabou.
– Mas vocês mandaram Caronte para nos atacar! – julgou Chloe.
– Atacar uma certa pessoa, e não a base inteira. Não somos vingativos desse jeito.
– Vocês estão atrás de quem? – perguntei.
– Digamos que estamos atrás de quem possui dividas conosco ainda, após usufruir de todos nossos benefícios e nossa hospitalidade – respondeu Plutão.
– Não pode ser – disse Chloe, decepcionada e caiu de joelhos no chão.
Austin foi andando até ela para ver o que tinha acontecido, e eu fiquei parado, não tinha muitas forças para andar tanto.
– Precisamos voltar! – gritou ela.
– Por quê? – perguntei.
– Isso foi uma armadilha, Peter! Não há elo maligno, não há Plutão ameaçador. Só há uma coisa: alguém que deveu tanto que teve que trair alguém e se refugiar em outro local que o escondesse.
 Um flashback surgiu em minha mente. Logo ao chegar à Lua, fui recebido por Deimos e ele disse que era chamado de traidor.
Tudo fez sentido.
Deimos era o traidor.



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