PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

domingo, 20 de abril de 2014

FELIZ UM MES DE STARS CHRONICLESS!!!!!

10 A ÚLTIMA VEZ

– Eu não sou o imperador, nem traidor, só fui tratar dos meus assuntos e infelizmente invadiu o espaço de vocês – explicou Plutão.
Chloe continuava caída no chão agora com a testa encostando-se ao gelo tentando pensar em algo. Ela se auto xingava e passava a mão em seus cabelos prata descontroladamente.
– Precisamos ir embora! – disse ela levantando seu rosto. Ela parecia desapontada consigo mesma.
– Eu não iria – avisou Brandon, o príncipe – Você sabe o que vai acontecer já.
Chloe relutou e deu um soco no chão.
– Merda!
– O que está acontecendo? – perguntei.
O príncipe franziu o cenho e olhou para Chloe, que assentiu.
– Tem muita coisa sobre o Universo que você não sabe, jovem descendente.
Ele virou para trás e voltou a subir as escadas. Olhei para o salão e não vi mais Plutão por ali.
– Me sigam – disse ele.
Apoiei-me em Austin e Chloe saiu do chão e subimos as escadas. Os degraus feitos de gelo eram escorregadios e nós três quase caímos muitas vezes, ao passo que Brandon subia como se fosse feito de material antiderrapante.
Subimos e demos de cara com um corredor enorme, cheio de portas que davam para vários cômodos – o que me lembrou um pouco a Base Lunar -, eu percebi que Austin estava agoniado já de ter que me levar, então tentei andar por mim mesmo. Dei dois passos e quase caí, ele me segurou e dei um sorriso retorcido meio que “Odeio precisar de ajuda”.
– Precisamos ir para uma sala vazia – disse Brandon.
Ele abriu uma porta de metal cinza e entramos em um cômodo não tão grande, mas sem nada. Nenhum móvel, nenhuma cadeira, nenhuma tecnologia, somente o chão e as paredes. Austin me pôs no chão encostado na parede e assim nos sentamos: nós três de frente a Brandon.
– Bom, peço perdão pela minha atuação lá em baixo – começou ele gesticulando.
– Ahn? – indaguei.
– Sim, atuação! Aprendi essa palavra com vocês terrestres. Não é assim que se diz? Como é? – ele fez uma cara de preocupado, mas curioso para saber a resposta.
– É atuação mesmo – respondi.
Ele suspirou em alivio.
– Bom, estou aqui para ajuda-los, contanto que vocês me ajudem.
– O que você quer? – falou Chloe grossamente.
– Eu estou cansado daqui, quero fugir, quero viver, quero parar de depender de meu pai. Odeio ficar em reunião, odeio ser de um Planeta que tenta todos os dias alcançar algo positivo, mas nunca consegue. Há anos que estamos tentando congelar o gelo daqui, mas nunca conseguimos.
– Ah, pelos anéis de Saturno! – disse Chloe e Brandon estremeceu – Vamos ir embora, não aguento mais essa baboseira.
E levantou.
– Você tem certeza que vai conseguir chegar à Lua a tempo? – disse ele com os olhos fixos no chão e Chloe parou de andar. 
Ele estava certo. Precisávamos de algo que nos levasse à Lua o mais rápido possível, agora que sabíamos que o inimigo era Deimos. 
– Se você for com calma, podemos salvar mais que uma pessoa, você sabe muito bem – ele falou.
– Do que vocês estão falando? – indaguei.
– Não sei se você vai acreditar, Peter, mas tudo o que está acontecendo já estava predestinado a acontecer, tudo isso sabe?
– Isso é mentira! – replicou Chloe e se sentou.
– James, o descendente de Júpiter, procurou por toda a galáxia uma estrela especial, uma que sabia o futuro, e ao achar, sugou todo o conhecimento que possuía e escreveu tudo em diários, cadernos, papéis. Dizem que citava um novo descendente que viria de um Planeta muito desenvolvido e que ele iria varrer o Universo com suas próprias escolhas.
– Varrer... – refletiu Austin.
Senti um arrepio na espinha.
– E no caso, sou eu? – perguntei.
– Eu não sei – respondeu Brandon mordendo o canto do dedo – Eu acredito que sim, porém há muitos descendentes que ainda não foram descobertos, só estão esperando o momento certo.
– E o que significa varrer?
– Eu preciso dizer? – disse ele.
Fiquei paralisado. Entendi muito bem o que ele tinha dito. Significava mortes, e seriam minhas escolhas que decidiriam cada vida que seria poupada ou ceifada.
– Como eu disse, precisamos voltar! – insistiu Chloe novamente.
– Somente se vocês me ajudarem – voltou a dizer Brandon.
Chloe olhou para Austin e os dois assentiram com a cabeça, como se tivessem chegado a um consenso, porém sem dizer uma só palavra.
– Levamos você junto conosco para a Lua, e de lá você decide o que você vai fazer da vida, tudo bem? – propôs Chloe.
O príncipe estudou a oferta.
– Eu quero fazer a diferença sabe? Só quero ser salvo agora, quero acreditar que o futuro sou eu que faço e não algo escrito sobre mim.
– E eu não quero saber disso – cantarolou Chloe.
– Ah, me deixa pensar um minuto – pediu o príncipe.
– Eu disse que era verdade, Peter, os arquivos existem sim! – disse Austin rindo como se tivesse descobrindo algo muito legal.
– Existem nada, eu não acredito nisso mesmo! – falou Chloe.
– Mas você nem leu – rebateu Austin.
– Quem disse que não? – retorquiu ela.
Os dois se encararam por um momento, senti a tensão no ar. Chloe de um lado com seu rosto firme e Austin com seu olhar de desaprovação.
– Eu vou! – exclamou Brandon.
– Você é filho de Plutão, certo? – perguntei para quebrar o gelo – Você não acha que ele irá atrás de você?



Brandon olhou para o chão por alguns segundos, provavelmente deveria estar pensando no quanto Plutão ficaria furioso se seu herdeiro fugisse. Olhei para Chloe e agora ela também estava pensativa. Este era um ponto fraco nosso, tínhamos de ir embora, mas não podíamos ir com outro fugitivo, já tínhamos Austin.
Um pensamento surgiu em minha mente, dando-me esperança. Era isso!
– Brandon, você irá nos levar para outra casa. Somente isso – disse.
– Como?
– Você vai informar para seu pai que irá nos levar para outro planeta para habitarmos.
– Do que você está falando? – perguntou Austin.
– De Ceres – falou Brandon com um brilho em seus olhos – Meu pai vai gostar muito da ideia de novas pessoas em Ceres, tudo lá está muito calmo para estar dando certo. Vamos!
Consegui levantar sozinho e dar alguns passos. Minha cabeça ainda doía, porém somente uma dor no fundo mesmo da mente, os efeitos da interferência solar em meu corpo tinham cessado. Toquei na pulseira e pedi uma proteção extra, algo que me ajudasse a não sofrer com isso novamente. Descemos as escadas de gelo e encontramos o local cheio de guardas azuis correndo para lá e para cá, preocupadíssimos e falando em uma língua muito estranha, inaudível e incompreensível.
– O que aconteceu? – perguntei a Chloe e Austin.
Os dois não souberam responder e vi a porta principal abrindo fortemente. Três habitantes azuis com conchas em suas mãos estavam parados ali, um levou a concha na boca e disse:
– Iremos ser atacados! Eles sabem que eles estão aqui! – e apontou para nós.
O som dos guardas azuis falando cessou no momento, todos olharam para os habitantes com as conchas e arregalamos os olhos. O caos tomou conta do salão, os azuis saíram correndo para fora e Brandon desceu as escadas desesperado.
– Venham! – gritou ele.
Descemos as escadas de gelo torcendo para não escorregar. Eu conseguia ouvir gritos em outros locais, súplicas e berros de agonia.
– BRANDON! – a voz grave de Plutão ecoou atrás de nós, virei-me e o vi parado no segundo andar – ATIVE TODA A PROTEÇÃO. 
– Ok pai! – gritou ele de volta.
Saímos do salão e vi como realmente Plutão era, já que estava com os olhos fechados. Havia um jardim muito sombrio, as flores congeladas e os projetos de árvores eram secos demais. Tudo parecia morto e triste. Austin me agarrou pelo braço e passamos o jardim e abrimos os portões de gelo. As ruas seriam bonitas, organizadas, o chão seria feito cuidadosamente com gelo em forma de paralelepípedos, se nada daquilo estivesse acontecendo.
Atrás de nós, havia o Sol, e graças às estrelas, não sofri novamente com nada, e na nossa frente um ponto enorme estava vindo, um ponto vermelho e brilhante. Brandon começou a correr para fora da fortaleza e o seguimos.
Na saída da fortaleza uma multidão de habitantes, tanto azuis tanto os normais, impediam a nossa passagem. Brandon, mesmo sendo o príncipe herdeiro de todo aquele Planeta e aquele povo teve de se espremer e pedir licença para conseguir sair. Chloe gritou: “Vou matar todos que estiverem em minha frente” e alguns saíram desesperadamente levando a mão na boca assustados. Aproveitei e segui Chloe e conseguimos sair, somente Austin que ficou preso na multidão, mas saiu em alguns segundos arfando.
– O que é isso? – dizia os Plutônicos.
Olhei para o céu e consegui ver o que eles estavam temendo tanto. O ponto vermelho era Caronte, o satélite de Plutão, seguido de um meteoro diferente. Ele era enorme, do tamanho de uma escola de ensino médio no mínimo e era rodeado por um anel, como os anéis de Saturno.
– Só tem uma pessoa que consegue realizar auras desse jeito – murmurou Chloe perplexa.  
– Deimos – completou Brandon.
O chão tremeu e vimos que pelos lados do Planeta, meteoros menores também com anéis estavam chegando. Estavam atacando Plutão de todos os lados.
– Peter, você tem que voltar para o castelo! São anéis magnéticos, vão quebrar a proteção de Plutão – falou Chloe, preocupada.
A descarga de desespero desceu pelo meu corpo novamente. Eu teria que voltar sozinho para o Castelo para me salvar e deixar meus amigos ali?
– Vamos todos juntos! – disse – Brandon, precisamos ir embora daqui!
O chão tremeu e nós quatro caímos e sofremos com outro tremor. Algo explodiu atrás de nós, virei o rosto e vi meteoros menores caindo em construções dentro da fortaleza. O fogo subiu em lareiras e os gritos voltaram. Deimos estava se vingando.
Levantei em meio ao tremor e voltei correndo para a fortaleza. O portão estava fechado.
– ABRAM PARA MIM! – gritei balançando o ferro gelado.
Os habitantes azuis olhavam para mim com ódio, deveriam saber que eu era da Terra e não queriam confiar em mim.
– ABRAM! NÃO ESTOU AQUI PARA ATACAR NINGUÉM – berrei.
Algo se chocou no muro da fortaleza explodindo o gelo. Todos nós fomos jogados deslizando pelo chão gelado pela força da explosão. Fechei os olhos e senti meu corpo mole. Estava começando novamente.  
 Caído nos destroços do muro havia uma mulher. Ela tinha as mesmas feições de Brandon e Plutão. Loira, cabelos caindo nas costas, olhos azuis e um lindo vestido vermelho. Reconheci pelo brilho que ela estava provocando no céu, Caronte.
– Caronte! – chamei tirando ela do chão.
– Quem és tu? – a voz dela era uma mistura de melancolia e depressão.
– Peter Allister, descendente da Terra – falei.
– Ah, foste tu que estavas na Lua durante nosso ataque a Deimos? – ela perguntou.
– Como você sabe disso? – ela estava olhando para o céu com um olhar desesperador.
– As estrelas falam meu jovem – respondeu.
Outro tremor.
– Preciso voltar para o castelo – eu disse.
– Vos precisa voltar para Lua, urgente – ela disse, preocupada – Sky.
Somente o nome de Sky me deu a clareza de tudo que estava ocorrendo. Sky estava em perigo. Deimos era o braço direito da Base Lunar, e nosso inimigo no momento.
– Brandon irá guia-los, volte para o Castelo e procure a sala dos espelhos!
Pulei por cima dos destroços do muro e comecei a correr pelas ruas de Plutão tentando chegar ao castelo o mais rápido possível. Cada explosão em algum local eu tremia de medo e desesperado. Eu não ouvia minha respiração. Corria somente entre os destroços de várias casas sendo explodidas por meteoros e soltando fogo para o alto. Alguns habitantes azuis estavam caídos no chão, alguns mortos ou simplesmente com feridas enormes e queimaduras. Era uma cena triste.
Uma fagulha de fogo caiu em meu cabelo e uma explosão ocorreu do meu lado. Voei para o alto, meu corpo todo queimando e cai na água. O chão havia explodido e embaixo do gelo, havia água gelada. Meu corpo foi de calor infernal para gelo glacial. Meu olho ardeu ao entrar em contato com o líquido gelado. Mergulhei e senti todo meu corpo queimando de frio.
Uma mão me pegou e me puxou para cima.
Deitei no gelo escorrendo água e abri os olhos, era Austin, ele estava totalmente fora de si. Seus olhos estavam arregalados e sua roupa totalmente queimada, ele parecia ter lutado em uma guerra que no mínimo durou uns vinte anos. Ele caiu no chão do meu lado e ouvi sua respiração forte, ele estava respirando! Pesadamente, mas estava.
Dei um tapa em seu rosto e ele piscou algumas vezes e caiu na real. Ele estava começando a criar sentimentos e sensações humanas, como medo e desespero, as quais nenhuma estrela possui.
– Austin! – chamei, mas ele ainda estava longe.
Ele olhava para trás toda hora, levantei e me sentei no gelo para ver também. Caronte estava em sua forma natural de satélite. Ela era enorme e estava na frente da Fortaleza Plutônica, protegendo sua casa. Vindo correndo pelo universo, o grande meteoro com anéis mostrava seu poder.
Alguns habitantes plutônicos azuis estavam subindo em cima de Caronte e levando consigo armas cinza, parecendo bazucas. Enquanto isso, ao nosso lado, meteoros pequenos continuavam destruindo a cidade por dentro e o grande xeque-mate viria com o ser enorme.
– Cadê Chloe e Brandon? – perguntei.
Austin não respondeu. Ele ainda respirava pesadamente, tossindo às vezes como se tivesse bebendo água e se sufocando com a mesma. Ele devia ter visto algo muito ruim para se desabilitar assim. Abracei-o e ele chorou.
– O que aconteceu? Austin?
Suas lágrimas desciam pelo meu ombro, fiquei em silêncio. E vi.
Brilhava como holofotes de shows, vários pontos grandes flutuavam pelo ar, diminuindo e aumentando a iluminação de propósito. Reconheci pelo alinhamento de três. As três Marias.
No meio, havia uma estrela enorme, o triplo das outras que brilhava espetacularmente. Órion.
O pai de Austin.
– Vem comigo – disse puxando ele pelo braço.
– Não posso – ele disse baixo e distante, mas mesmo assim consegui senti toda a dor que a voz dele proporcionava: medo, desespero, angústia, agonia, tudo junto em só um tom – Ele veio me buscar.
– Você não precisa ir agora, Austin, vamos, irei te salvar! – falei com pouca certeza, realmente eu não estava conseguindo lidar com ter que guiar uma jornada, quanto mais resolver problemas familiares.
– Eu prefiro morrer a me entregar – disse ele se levantando e pondo sua cabeça em pé.
E saiu correndo.
– AUSTIN! – gritei até o ar se expelir todo de meus pulmões.

Austin sumiu ao virar a esquina e não o segui, talvez ele fosse procurar Brandon e Chloe, que eu não fazia nenhuma noção de onde estariam no momento. Eu precisava ir ao Castelo visitar a sala dos espelhos antes de ir, como Caronte indicou.
Levantei do chão gelado e fui correndo para o Castelo, vi mais destruição e desespero. Ruas estavam interditadas com destroços de casas, prédios caindo, árvores secas impedindo a passagem e diversos corpos flutuando em águas geladas nos buracos abertos.
Atrás de mim, Caronte estava protegendo ainda a fortaleza, esperando o meteoro com anéis chegar, e vi Austin subindo nela, como os outros habitantes de Plutão. Ele parecia determinado, subia e encaixava uma espécie de faca na superfície rochosa do satélite para escalar. Pensei em gritar, mas eu não tinha mais tempo. Precisava entrar para ver o porquê de Caronte pedir para eu ir a esta sala e voltar e salvar Chloe, Brandon e Austin. Esta jornada era minha e cada falha seria por minha culpa.
Entrei novamente no castelo passando pelo jardim gelado e cinza, mas não olhei muito, segui reto para a porta. Abri e o silêncio pairava pelo ar. Se eu não tivesse vindo aqui antes, acharia que nunca foi habitado. Uma explosão e um tremor mais forte. Caí de joelhos no chão. Levantei e outro abalo. Estava ficando mais constante agora.
A escada estava rachada no meio de tanta vibração que recebeu, subi pulando como se estivesse jogando amarelinha para não pisar em algum local ruim e ela rachar por completo. Cheguei ao corredor e fui abrindo as portas. Salas vazias.
– Merda, Caronte – praguejei depois de abrir mais de vinte portas.
As luzes do corredor falhavam, parecendo uma festa, mas uma festa onde ninguém se divertiria. Continuei andando e achei a mesma porta que nós quatro entramos quando Brandon nos trouxe aqui. Abri.
A sensação foi estranha. Eu já tinha estado naquela sala, e não tinha nada. Agora estava repleta de espelhos nas paredes, no chão e no teto. Eu me via em todos os ângulos possíveis e via várias vezes eu mesmo. Minhas roupas estavam destruídas, meu casaco estava péssimo, queimado e rasgado em algumas partes. Meu cabelo chamuscado e havia um hematoma em meu rosto que estava ficando roxo. Sentei no chão espelhado e senti algo diferente.
No meu lado direito, eu via a Terra no espelho e no esquerdo a Lua. A Lua se remexia como se estivesse sendo sufocada e a Terra rodopiava mais rápido possível, agonizada também. Na parede da minha frente, vi um planeta vermelho marrom, Marte. Havia um ponto cinza rodopiando o planeta e tremendo também. Outro ponto apareceu em marte, mais escuro agora. O cinza e o escuro se tocaram várias vezes, até que o escuro bateu tão forte no cinza que ele voou fora de órbita. 
O ponto escuro flutuou saindo de perto de Marte e rodopiando encontrou a Lua. Caiu na superfície e sumiu. A Lua deu uma tremida, sabendo que algo tinha acontecido e todos os planetas se apagaram, deixando a sala em total escuridão.
A sala iluminou-se novamente quando o teto mostrou a Lua. Branca, plena e linda, era realmente um astro de beleza. Ela parecia tensa como se estivesse segurando a respiração. Algumas horas uma ponta escura aparecia do outro lado, mas a parte clara tremia a beleza clara voltava.
O lado escuro da Lua.
As coisas estavam começando a fazer sentido. O espelho da minha frente me mostrou a Base Lunar, uma adolescente e uma menina. Sky e Chloe, presumi na hora. Um homem de cabelos escuros e olhos excepcionalmente cinzas.
Havia em cima de uma mesa de metal uma mistura que logo reconheci como tinta para cabelo.
– Vou pintar seu cabelo, para eles não te reconhecerem – disse Sky.
– Tudo bem! – falou o homem.
– Tio Deimos, vamos explorar o meu lado depois? – disse a menina com animação.
– Ok! Precisamos descobrir mais coisas – e bagunçou o cabelo de Chloe.
E Sky começou a pintar o cabelo de Deimos.
O espelho escureceu e o do lado direito mostrou a Base atualmente. Reconheci a sala principal com a maquete com os planetas, a mesa no meio, os computadores e Herbig e Haro correndo um atrás do outro.
– É, ele não sobreviveu – disse Deimos, agora na mesma feição de quando o vi pela primeira vez.
Sky apareceu com toda sua graça na sala.
– Mande o próximo, então.
Austin apareceu no espelho mexendo nos computadores. Ele parecia alegre demais, era tão diferente o ver assim depois de o ver chorando.
– É o filho dele – falou.
– Mande primeiro os dois alertas – Sky sugeriu.
– Deimos – ponderou Chloe na mesa.
– Eu? Não faço mais isso! Lucy, por favor, nos dê a honra – ele respondeu.
Lucy, a estranha que vi na Base, estava deitada com a cabeça para baixo no puff prateado que sentei. Ela fechou os olhos e brilhou, brilhou tão forte que a sala iluminou por completo.
– UHUL! – gritou Chloe – Arrasou garota!
A sala se apagou novamente.
Eu tinha acabado de ver como Deimos havia chegado à Lua e como eles tinham reagido com isso. Quem era Sky e Chloe, e como eles me chamaram: “Ele não sobreviveu” ecoava em minha cabeça.
Meu pai não podia estar morto.
Ele me ligou.
O teto se iluminou novamente e agora Sky estava conversando com Austin. Eles pareciam estar em algum corredor. Sky checava com os olhos de dois em dois segundos para ver se não havia ninguém os vendo.
– Austin, você vai nessa jornada, entre no ônibus e dê impulso para eles saírem da órbita, será difícil, mas conto com você – disse sussurrando.
– Eu não posso sair, você sabe – ele respondeu.
– Shhhhhhhhhh! Ninguém vai saber.
Austin pareceu confuso.
– Eles vão vir buscar Deimos à força, precisamos tirar o descendente daqui urgentemente, ou senão ele vai atrás dele.
– E como eu vou saber quando devo ir me esconder no ônibus? – perguntou ele.
– Eu vou misturar as coisas por aqui, provavelmente acordaremos com um alarme e gravidade.
– Tudo bem, mas você só irá entregar Deimos né? Ouvi coisas ruins sobre suas ideias...
– Não se preocupe – disse Sky pondo a mão no ombro de Austin – Tudo vai dar certo, está escrito!
E apagou.
Tudo estava se misturando em minha mente como matéria escolar, tudo sendo jogado ao mesmo tempo. Muita informação para pouco tempo para digerir.
Levantei e os espelhos voltaram a mostrar eu mesmo. Minha expressão fundia-se entre surpresa, decepção, confusão e espanto. Mas era determinada. Eu estava determinado e no fundo do meu conhecimento, eu sabia o que, como, e porque fazer.
Eu tinha que ir atrás de Deimos e salvar Sky.
O espelho brilhou novamente.
Era meu quarto no Brasil. Minha mãe jovem chorava do lado do meu berço branco. As paredes estavam enfeitadas com elefantes, cavalos e cachorros correndo. Carrinhos, bonequinhos, ursinhos e roupinhas estavam jogados em um canto, havia uma réplica pequena da Terra pendurada junto com a lâmpada e na cômoda, um sistema solar de brinquedo.
– Você precisa ser o que o amanhã precisa, Peter – ela batia a cabeça na madeira no berço, chorando e soluçando.
E apagou novamente. Meu coração apertou. Eu precisava sair dali. Abri a porta e cai no corredor com outro tremor.
Eu me sentia completo agora. Eu odiava depender de Chloe, de Austin, de Haro para ter informações a cerca do que eu estava fazendo ali, qual era a minha conexão com aquilo tudo, e por que era eu. Eu sabia tudo.
Corri pelo corredor e cheguei à escada que estava rachada e derretida. Pulei e cai em cima do gelo. Mais um tremor, agora eles estavam mais constantes e mais fortes.
Uma explosão forte invadiu meu ouvido, o meteoro bateu na lateral do castelo, explodindo tudo. Joguei-me no chão, enquanto tudo se transformava em pó. Cobri minha cabeça para não ser acertado por nada.
Saí me arrastando e engatinhando até a porta. Não lembrava que demorava tanto para sair do castelo, talvez a situação estivesse ajudando a ficar mais lento o tempo, já que não tínhamos um controle de tempo/espaço no Universo.
Plutão estava em ruínas, não havia quase nenhuma casa em pé, tudo estava destruído, fumaça subia ao ar e se encontrava na atmosfera formando uma grande massa escura que impedia do Sol iluminar tudo. Parecia um grande dia nublado, triste e chuvoso, mas não era, era só triste.
Os corpos haviam se triplicado. Armas, arpões, e armaduras estavam partidas e espatifadas pelo chão que estava rachado e destruído. As ruas haviam se transformado em grande lagos com vários buracos no gelo.
Caronte estava lá na frente ainda, com vários habitantes ainda atirando e jogando seus arpões tentando destruir os meteoros menores, o maior, estava muito mais próximo. Calculei alguns minutos para a colisão.
Subitamente os muros da Fortaleza explodiram jogando gelo para todo o lado, Três meteoros explodiram no chão e a multidão que aguardava no portão desceu água abaixo.
Sai pelo jardim que estava em chamas, as flores gélidas tinham sido queimadas e as árvores secas nem ali estava mais.
Ouvi gritos de desespero vindo de cima de Caronte. Os guardas azuis estavam se comunicando. Avistei Austin. Eu precisava salvá-lo.
O anel do meteoro tocou Plutão, o abalo foi tão forte que fui jogado para cima como se estivesse agarrado em um elástico gigante. Meu corpo flutuou no ar por meio segundo e fui arremessado para o chão com brutalidade. Os restos dos prédios e casas destruídas tremeram com o terremoto e se reduziram a pó, cobrindo toda a visibilidade a um palmo de mim.
Segurei minha própria mão e avancei na escuridão proporcionada pelo pó negro. Sentia-me mais seguro me auto segurando, estava em meu pior pesadelo: não ter ninguém e nada para me ajudar. Imaginei Plutão como um grande quarto onde não há luz e mesmo que se tivesse, ela não iria me encontrar e muito menos me ajudar, as paredes, mesmo se eu encostasse nelas para tentar pedir ajuda, não iriam me ajudar, recusando qualquer envolvimento com o que acontece.
Tossi várias vezes até senti outra explosão seguido de um vento arrebatador, semicerrei meus olhos para tentar ver algo, mas o vento não me deixava ver nada. Caronte iluminou-se e consegui ver com um pouco de clareza o que esta acontecendo: O meteoro enorme tinha colidido com Caronte.
A explosão iluminou Plutão totalmente. Todos os habitantes azuis, os normais, e inclusive Austin que estava em cima do satélite foram jogados para o ar. O terremoto e o abalo racharam o chão imediatamente, destruindo todo o gelo. Ouvi a atmosfera rachando e os raios magnéticos do sol penetrando no solo. Dei um grito de agonia. Tudo estava sendo destruído.
Corri na direção do castelo enquanto Plutão era dizimado, não tinha volta, tínhamos arruinado um planeta todo. Eu deveria ter ouvido que não devíamos ir para Plutão. Só foi Deimos saber que estávamos aqui que mandou todos esses meteoros.
Corri pulando em locais onde o gelo parecia firme, enquanto os outros rachavam próximos a mim revelando a água que eu tinha caído.
Cheguei no jardim gélido de novo e um meteoro explodiu no momento na encosta do Castelo explodindo a porta e destroçando a entrada do castelo em pedras. O vento batia nas minhas costas e olhei para trás. Plutão agora era um mundo apocalíptico, um deserto aquático, Caronte não estava mais ali, o meteoro com anéis havia explodido e destruído a cidade toda e o terremoto estava embaixo de meus pés agora.
O chão rachou no portão do Castelo, alguns metros de mim. Corri sem ousar olhar para trás até um gazebo que se materializava no meio do jardim já destruído. Havia uma estátua de Plutão atrás dele e ela estava rachada ao meio. Subi no gazebo e esperei.
O chão tremia e eu segurava na base da construção aguardando. Minha visão era de um mundo diferente do que eu tinha visto: tudo estava em pó, ou em destroços. O gelo derretendo com o sol e rachando com o meteoro.
O gazebo balançou e se inclinou como um navio. Tentei ir para o outro lado agarrando ao chão de madeira, cambaleei por um momento e desisti. Rolei até bater de costas na madeira e esperei o gazebo inclinar-se por completo. O tremor balançava meu corpo como se estivesse em uma cadeira de choque.
 A madeira ruiu e a construção virou cento e oito graus e entrei na água gelada fechando os olhos e o nariz esperando o meu momento final.



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