8 ✧ A MENSAGEM
Eu já vi muitos filmes onde os astronautas caem
de suas naves e descem flutuando para a Terra e depois tudo pega fogo e eles
morrem antes de chegar. Mentira.
Mesmo assim, nunca tive pretensão de descer à
Terra dentro de uma banheira com uma estrela fugitiva e uma habitante da lua,
sendo perseguido por outra estrela brigando com um cometa. Nunca.
– Haro – berrávamos nós três, tentando fazer ele
prestar atenção em nós.
Eu me segurava a borda da banheira como um bebê,
desesperado demais para gritar e com medo demais para tentar fazer alguma
coisa.
– Vamos morrer? – a única coisa que surgiu em
minha mente era isso, morrer.
Chloe me olhou com desprezo. Como se eu
estivesse perguntando por que o céu é azul.
– Diga você – disse ela.
– Diga eu o que? – perguntei.
– Estamos caindo, idiota. Faça algo! – gritou
ela.
Fiquei parado por um momento tentando processar
o que ela tinha dito. Olhei para cima e Haro e Ison continuavam brigando.
Quando senti um tapa na cara. Chloe havia me espatifado.
– Nos protege! – ela pediu.
– Como? – indaguei.
Ela pegou meu dedo indicador esquerdo e encostou
na pulseira que estava do lado direito. Senti algo dentro de mim diferente,
como se aquela pulseira estivesse me recarregando. A banheira continuava
descendo, e nada tinha acontecido.
– Não é possível que você seja ele – resmungou
ela.
– O que vamos fazer com o Haro? – Austin
perguntou enquanto os dois – em suas formas originais – se batiam pelo vácuo.
– Precisamos ir para a Terra – eu disse
confiante, como se já tivesse dito isso. – Precisamos voltar.
– Você está louco? – os dois exclamaram.
– É para lá que devemos ir para nos salvar e
tirar Ison de nossa cola – argumentei e os dois se entreolharam.
– Vamos – disse Chloe.
Coloquei a mão na pulseira se a energia
novamente me invadiu, mas naquele momento tive certeza do que eu estava
fazendo, tudo pareceu tão natural, o que pensar, como fazer, qual a ideia, mas
tinha um mau pressentimento a tudo isso também.
A borda da banheira pareceu ganhar várias cordas
que nos seguravam a algo no universo. Paramos por um momento no ar, suspensos e
ouvimos um grito.
Haro.
Haro caindo pelo ar.
O corpo de Haro passou por nós com tanta
velocidade que me desconectei com a pulseira e a banheira caiu a toda a
velocidade novamente. Nos aproximamos da Terra e senti novamente ar em meus
pulmões. Iriamos morrer.
Austin abraçou Chloe e falou alguma coisa que
ela não conseguiu compreender e empurrou ele. Olhei para baixo e vi dois morros
cobertos de neve e uma ponte enorme se materializando embaixo de nós.
Caímos cada vez mais e mais e comecei a perceber
onde iriamos cair: em uma ponte enorme e movimentada. Carros passavam ali a
toda a velocidade, descendo a estrada e em alguns segundos seriamos atropelados.
Não sei Chloe e Austin, mas de mim, eu tinha certeza.
Quando a banheira caiu sentimos o forte impacto
e pulamos por um momento. Um carro preto grande bateu na traseira esquerda de
nossa condução e rodopiamos pela ponte. Um outro veículo desviou de nós
buzinando sem parar. Rodávamos pela ponte indo em direção ao vão que dava para
um mar enorme.
Um carro preto bateu em nossa banheira e pegamos
impulso. Voamos pelo vão da ponte e caímos em direção ao mar. Peter gritando e
Chloe e eu segurando na borda.
A água estava geladíssima, e demorei alguns
minutos para conseguir mexer alguma parte do meu corpo direito, eu estava
submerso. Subi e vi a margem do outro lado, há uns vinte e cinco metros. Eu
fingi saber alguns estilos de nado, mas o que saiu foi uma mistura de bater mão
e pé ao mesmo tempo, mas que me levou a superfície novamente. Me joguei na
grama congelada e todo a neve derreteu ao entrar em contato com a água.
Peter estava cansadíssimo jogado no chão, e
Chloe trazia a banheira consigo. Ficamos arfando por uns minutos. Sem saber
onde estávamos, sem volta, e o pior de tudo: sem Haro.
Ninguém disse uma palavra sequer por minutos.
Chloe me fuzilava com os olhos, deixando claro a minha ideia fora péssima.
Austin não disse nada, porém notei que ele evitava em fazer contato direto
comigo.
– É possível que ele tenha... – eu disse e os
dois me encaram com suas faces raivosas e eu me calei imediatamente.
Andei por debaixo da ponte e encontrei uma rua
que fazia curva em volta de um prédio enorme. Reconheci que era um shopping
pela quantidade de carros, senhoras saindo de cachecol e sacolas de compras e
os nomes das lojas pela parede.
Havia um senhor saindo da porta e indo para seu
carro. Ele usava uma blusa de frio tão grossa e várias peças que logo imaginei
que estávamos no Canadá. Corri pela calçada tropeçando no gelo e cheguei em seu
carro antes que ele abrisse. Ele parou por um momento e levou a mão no bolso,
tateando por um celular.
– Hi, I’m not a thief – disse para o Canadense.
Ele me olhou e semicerrou os olhos.
– Where am I? – perguntei.
– Você é louco? – respondeu ele para a minha
surpresa.
– Aonde estamos? – falei tão embolado com medo
de ele partir que ele semicerrou os olhos novamente, mas por não ter entendi
nada do que eu tinha dito – Onde nós estamos, Senhor?
– Ah... – ele ajustou o cachecol em seu pescoço
– Estamos em Vitória, no Espirito Santo.
Demorei um pouco para processar. Eu vivia em
Vitória quando era criança e nunca sequer vi uma temperatura tão baixa. O sol
castigava furiosamente o verão e mesmo no inverno, fazia calor. E agora estava
nevando? Muito estranho.
Lembrei-me do que Sky tinha dito: Plutão estava
afastando o Sol pouco a pouco e levando para a nova civilização que Dr.
Reynolds tinha me contado.
Contei a notícia à Chloe e Austin, mas os dois
não estavam tão preocupados. Tentei gesticular, fazer eles prestarem atenção em
mim, mas sucesso. Chloe olhava as plantas de perto, e Austin uma construção
próxima o mar, ambos examinavam como se nunca tivessem visto nada igual.
Algo diferente chamou a minha atenção, tamanho
de criança, caído perto de um píer. Haro.
– CHLOE! AUSTIN! É O HARO! – gritei já correndo
para salvá-lo.
Escorreguei no gelo e cai enquanto corria. Me
arrependi por não ter ido patinar no gelo com a minha turma quando havia
excursões, agora o que me restava era cair.
Austin passou escorrendo por mim também porém
não caiu. Ele chegou próximo ao corpo de Haro e começou a sacudi-lo gritando
seu nome.
Lembrei-me do meu celular, tirei-o do bolso e
felizmente estava seco, assim como toda a parte inferior do meu corpo: o pedido
de proteção em Vênus estava se esgotando. A bateria estava em 57%. Voltar para
a Terra tinha suas desvantagens.
Disquei o número de Sky, o que ela tinha me
informado para ir para a Lua, porém nada aconteceu. Liguei para a polícia de
Washington (o único número que lembrava) e ninguém atendeu.
– Haro! Sou eu, Austin, acorda – dizia ele dando
tapinhas na cara de Haro.
Olhei para Chloe e sua expressão era de
preocupação, ela só estava observando a cena, olhando para o céu as vezes para
desviar o olhar.
Me levantei do chão e fui até Haro. Eu tinha
certeza que ele tinha se afogado, e eu obrigatoriamente havia comparecido à
algumas aulas de Primeiros Socorros.
Coloquei as mãos em seu peito e comecei a
aplicar pressão. Haro nem se mexeu. Pus mais pressão, e nada. Seus olhos
estavam fechados, como se estivesse dormindo e seu peito nem mexia, sinal que
ele não estava mais respirando.
Quando eu ia tampar o nariz dele para fazer
boca-a-boca, Chloe gritou:
– CUIDADO!
Um
meteoro enorme, como aquele que caiu em minha escola há alguns dias atrás
estava vindo em nossa direção. Dei um pulo para esquerda segurando na camisa de
Haro tentando escorregar com ele na calçada coberta de gelo, virei meu corpo e
senti uma ardência em minha mão. Ela queimava muito.
Chloe deu um berro de horror e ouvi o corpo de
Austin cair na calçada tentando chorar, mas não conseguia.
Eu estava deitado com o corpo todo torto,
segurando Haro, porém Haro não estava mais ali. O meteoro tinha caído em cima
dele, queimando ele e parte da minha mão.
Haro tinha morrido por minha culpa.
Outra explosão: outro meteoro, mas um colorido
caiu na grama. Chloe correu até ele desesperada e pegou um papel que estava
amarrado a ele.
– Austin – disse ela baixinho.
Austin se levantou a e caminhou até ela. A
expressão que ele fez foi amedrontadora. Não teve nem tempo de processar, pois
teve de jogar o corpo para dentro da água novamente quando outro meteoro
explodiu próximo aos dois. Estávamos sendo atacados de novo.
Me levantei e não quis nem olhar para Haro, que
estava começando a se desfazer em poeira estelar. Ele estava indo ali, na minha
frente, por minha culpa. E consequentemente Herbig também.
Talvez tudo isso foi um erro, um sonho. Eu não
assinei nada para ser responsável por tudo isso, nada. Alguém me escolheu para
ser o principal de um reality show de realidade virtual. Estou seguro deitado
em alguma cadeira e uma plateia está me observando e cientistas me estudam.
Nada disso está acontecendo.
– Peter! – o grito de Chloe me acordou e vi um
meteoro quase em minha frente.
Lancei meu braço para o alto e o meteoro
explodiu no ar em uma poeira branca.
– PAZ – gritei para o alto.
Eu estava cansado disso. Eu estava ajudando-os e
eles mandavam meteoros para atacar a mim e a meus amigos? Além de terem matado
um inocente. O que eles queriam mais de mim? Que eu resolvesse todos os seus
problemas de família? Eu já estava farto.
O céu pareceu se acalmar. Austin saiu da água
gelada e começou a bater o dente de frio, reclamando. Chloe se sentou e eu
comecei a andar passando a mão pelos cabelos, tentando entender o turbilhão de
pensamentos que passava em minha mente.
– Eu estou cansado – disse eu.
– É, nós também – disse Chloe – Precisamos
dormir.
– Não estou falando de cansaço físico. Estou
cansado, Chloe. Acabou tudo.
– O que você está dizendo?
– Chloe, não fui feito para isso mesmo. Não
mesmo. Olha tudo isso – apontei para os destroços – Estamos ajudando eles, e
ainda mandam meteoros para nos matarem.
Ela me estudou por um momento.
– Eles? – indagou.
– Sim, eles.
– Você não faz ideia de quem mandou esses
meteoros...
– Quem mandou então?
Austin finalmente disse:
– Meu pai, Órion.
O clima ficou muito pesado nos minutos
seguintes. A neve começou a cair e lembrei-me do inverno rigoroso de Washington
e de tudo que Sky tinha dito. Na região sudeste do Brasil nunca havia tido uma
nevasca, e agora, até a região tropical estava sofrendo.
O corpo de Haro estava desaparecendo aos poucos,
mas Austin quis fazer algo especial. Fomos até o cadáver e enquanto ele
desaparecia, Chloe abaixou-se em um lado, Austin de outro e eu para acompanhar
também me agachei.
– Que as estrelas sempre o acompanhem – ele
disse baixinho.
Algo desceu do céu, tive de fechar os olhos para
não me cegar. Iluminava tudo como lâmpadas, um aglomerado de pontos brilhantes.
– Não! – disse Chloe se agarrando do corpo de
Haro. Austin repreendeu-a e ela largou o corpo.
O brilho cessou por um momento. Eram meninas
jovens de idade de oito a nove anos que tinham uma aura linda, azulada, como
Ison. Porém o azul era angélica, e tremeluziam bastante. Não consegui contar
quantas eram, mas havia muitas.
– Plêiades, levem esta jovem estrela de volta
para o céu e clame por ajuda – disse Austin.
Elas se entreolharam e viram o corpo. Estudaram
ele por um momento e voltaram a cochichar.
– Ele foi morto pelo fruto da maldade – disse
uma Plêiade.
Austin olhou para baixo e assentiu. Parte da
morte de Haro era culpa de Austin.
– Ele não voltará? – perguntou impaciente Chloe.
– Infelizmente não, somente se quem o fez
redimir-se – disse outra.
Ficamos em silêncio.
– Estamos prontas – disseram em uníssono.
– Calma!
– interferiu Chloe – Precisamos de seu pó.
Chloe me cutucou. Entendi na hora o que ela
estava dizendo, assim, retirei a pulseira e coloquei em cima do peito de Haro.
As plêiades começaram a cantar e a aura delas brilhou mais forte. O brilho
intenso saiu de seus corpos e rodopiou pelo ar até achar o corpo de Haro. O
pequeno cadáver flutuou por um momento e começou a degradar mais rápido. O pó
que saia era colorido e estava se juntando à pulseira, agregando-se a cada grão
de areia multicor. Em um minuto, o que restou foi a pulseira flutuando no ar, e
nada mais do que isso.
A pulseira caiu no chão e assim as Plêiades
desapareceram.
Chloe caiu de joelhos no chão colocando as mãos
no rosto. Havia um peso enorme em meu coração e um fardo duplo em minha mão: a
queimadura do meteoro e a pulseira com os restos de Haro. Austin estava calado.
– Eu que o chamei para vir – Chloe lamentava.
Coloquei a mão no ombro dela e não disse nada.
Eu não era bom em lidar com mortes, aliás, nunca havia tido uma próxima, então
as palavras não me vinham.
E assim continuamos, até que a neve engrossou e
tivemos que entrar no shopping.
Chloe
ficou maravilhada. As roupas que ela via nas vitrines a deixou babando. As
vendedoras olhavam para ela e se assustavam, pois ela estava colocando seu
rosto no vidro e comentando várias coisas como “Por que isso não tem na Lua?”.
O shopping estava lotado, esbarrávamos todo
minuto em alguém, e as maiorias das vezes esbarravam em Austin que estava
apreensivo.
– Eu nunca vi uma multidão de terrestres assim –
comentou.
Eu ri tentando quebrar o gelo que estava nos
cercando. Aproximei-me dele para ensinar como andar em local lotado, eu os
guiei até chegarmos a um corredor que era a entrada dos banheiros. Perguntei se
algum deles queria ir, porém lembrei que eles eram do Universo, eu não queria nem
me olhar no espelho, mas entrando, havia um enorme. Lavei a queimadura em minha
mão e virei os olhos, ardia e doía como se eu tivesse queimado com óleo quente.
Encontrei os dois novamente e fomos andar mais
um pouco. Eu sentia fome, porém não tínhamos dinheiro, achei um dólar em meu
bolso, mas estávamos no Brasil, ninguém iria aceitar.
Entramos em uma loja com artigos de astronomia,
era muito bonita, me senti novamente no espaço – onde deveríamos estar –, no
teto estrelas cadentes voavam e um sistema solar desatualizado de isopor
flutuava. Nas prateleiras havia replicas de acrílico de algumas estrelas
famosas. Vi as Três Marias e me pus na frente, para Austin nem conseguir ver.
– Eu sei o que devemos fazer – disse Austin
levantando as mãos para o alto.
– Comprar! – o vendedor disse.
– Não – respondeu ele – Pedir ajuda a ele, olha!
– e apontou para a estrela cadente.
Chloe riu e Austin fechou a cara e cruzou os
braços, indignado.
– Você acha mesmo que ele vai te ouvir? – ela
disse.
– Por que não?
– Simplesmente porque você não vai ser o
primeiro e nem o último que vai pedir um favor, e além do mais, você sabe que
ele não orbita por essa época por aqui, tem uns bons anos desde que ele passou
pela última vez.
– Não vale tentar né?
– Mas de quem vocês estão falando? – perguntei.
– Vocês não vão comprar nada não? Vou chamar os
seguranças – alertou o vendedor, mas não demos ouvidos.
– Ele, Peter – e apontou novamente para o teto
onde a estrela cadente estava.
– Ele quem?
Austin abriu uma expressão de espanto. Acho que
ofendi quem ele estava falando.
– Como assim você não sabe de quem estamos falando?
– perguntou Chloe.
– Eu tenho que saber? Não sou um extraterrestre
– respondi.
– E eu não sou uma Terrestre, mas sei de tudo
dos humanos, aprendi português e inglês por sua causa, só para acompanhar o
momento que pedissem para eu tomar conta de um menino insensível como você.
– Calma aí, Chloe – interviu Austin.
Não soube o que responder, de verdade. O
vendedor pigarreou e agradeci a ele mentalmente, pois quebrou o clima
estressante que Chloe estava criando entre nós.
– Peter – chamou Austin e voltei a prestar
atenção – Estamos falando do cometa Halley!
Pesquisei em minha mente aonde de onde eu
conhecia este nome, pois era familiar.
– Ele é aquele cometa que passa de anos em anos?
– perguntei ainda com dúvida.
– Sim! – exclamou Austin.
– Bom, para vocês passam de anos em anos, para
nós, ele quase nunca aparece. Ele é período exclusivamente para a Terra, porque
os terrestres adoram endeusa-lo, porém há planetas que nunca o viram.
– E no que ele pode nos ajudar?
– Nos levando para Plutão? – quando Austin disse
o vendedor deu uma tossida violenta.
– Do que vocês estão falando? – perguntou.
Entreolhamo-nos. Ele era um simples terrestre,
assim como eu, mas não sabia que estávamos querendo ir para o Universo, e nem
sabia o que Austin e Chloe eram então tive de mentir:
– RPG.
Ele fez um gesto com a mão que significou para
mim “de novo esses nerds por aqui” e
pegou uma revista para folhear.
– E como o chamamos? – perguntei.
– Aumentando seu ego – Chloe respondeu.
Austin deu um pulo e pegou a estrela que estava
no teto. Ele olhou para mim e me entregou.
– Vai – disse ele.
– Isso aqui é uma estrela – rebati.
– Você é um burro mesmo, viu? – disse Chloe
impaciente – Olha a cauda.
– É um cometa – explicou Austin.
– O.k., e o que eu devo fazer? – indaguei.
– Chamar ele!
Percebi que eu já estava deixando os dois
irritados, então tentei ser um pouco rápido. Apertei o cometa de acrílico em
minha mão e comecei a dizer:
– Venha nos ajudar, Halley.
Os dois me olharam incrédulos.
– O que você está fazendo? – Chloe riu,
ridicularizando.
– Chamando o cometa – soei frágil dizendo.
– Está fazendo errado. Você tem que oferecer
algo, aumentar o ego, deixar ele curioso para saber quem você é – instruiu
Austin e pensei um pouco no que eu iria fazer.
O vendedor continuava lendo sua revista,
enquanto Chloe havia sentado em uma poltrona do lado de um Globo terrestre.
Austin continuava me encarando e quando nossos olhos se encontraram ele sorriu
e fez um “joia” com a mão direita, mostrando apoio.
– Cometa Halley, salve. Mostrando todo seu poder
em órbita da humilde Terra, você vem deslumbrando essa sua cauda maravilhosa e
exalando poder. Eu, Peter, o herdeiro terrestre, peço a vossa ajuda.
Necessitamos de alguém experiente que conheça toda este vasto universo e de
alguém que compreenda a sua importância para a raça humana e
extraterrestre.
Quando terminei de dizer, Chloe riu aplaudindo.
O vendedor começou a rir, batendo a mão no caixa que abriu caindo muitas notas
de dinheiro.
– Austin, a chance é agora – olhei para a minha mão
e o cometa de acrílico tinha desaparecido.
Fui até o caixa e peguei uma nota de cinquenta
reais e uma de vinte, corri gritando para me acompanharem. Chloe levantou da
poltrona e bateu em uma estante cheia de réplicas de estrelas que caiu fazendo
barulho. Austin corria do meu lado e desviávamos de todos tentando achar uma
saída. Viramos à esquerda e demos de cara com a praça de alimentação. Chloe
esbarrou em uma moça que levava yakisoba para sua mesa e tudo caiu em sua
roupa, Chloe se levantou e pediu desculpas. Corremos mais um pouco e localizei
uma rede de fast foods, dei o dinheiro para o caixa e peguei o pedido de um cliente
que estava esperando. A caixinha onde o lanche estava se encontrava ainda
quente e batatas fritas pulavam dentro. Eu sentia o cheiro.
– Não é hora para apreciar comida, vamos! –
gritou Chloe.
Olhei para a janela do shopping. Uma luz muito
branca – mais do que as plêiades e Ison – estava nos acompanhando. Era ele.
Meus pés já estavam doendo de tanto correr, o
cometa era rápido, e estávamos procurando uma porta que nos deixássemos sair do
local.
– Cuidado – berrou Austin.
Os vidros do shopping todos quebraram. O
estrondo foi absurdo. Halley estava dentro do shopping, caído no chão.
Ele era um homem branco com cabelos cinza e de
terno risca giz. Parecia um homem muito velho, mas empresário, bem sucedido em
seus negócios, investidor da bolsa de valores, no mínimo.
Ele respirou fundo e disse:
– Eu amo a Terra.
Aproximei-me e ele deu um passo para trás.
– Foi você que me convocou, estrela fugitiva? –
perguntou com medo.
– Não sou a estrela, ele é – apontei para
Austin.
Chloe levou a mão para a boca espantada. Austin
tinha convocado Halley e não eu.
– Eu me recuso a levar um refugiado – ele disse
como uma criança birrenta.
– Austin, eu não acredito! – exclamou Chloe
usando um tom de repulsa.
– Eu tinha de fazer algo, Chloe – respondeu.
– Você sabe que você foi contra as regras agora.
– E daí? Agora o universo todo sabe que eu estou
na Terra com um terrestre e uma habitante da Lua, vão nos caçar, sim, mas você
vai ficar com raiva por causa disso, porque ao invés disso você não vai cuidar
do seu lado apagado?
– O que você disse? – retorquiu Chloe.
– Eu amo brigas, pena que eles não são
terrestres porque na certeza eles iriam se bater – disse Halley ao meu lado –
Como é que vocês dizem? Pancada? Porrada?
– É – respondi – E eu preciso parar isso antes
que vire uma.
Enquanto uma multidão passava em nosso lado
gritando tentando sair do shopping em desespero, Chloe e Austin brigavam como se
não houvesse ninguém.
– Dá para parar vocês dois? – gritei – Ele já
está aqui e não importa quem o chamou. É a nossa única chance.
Os dois pararam e me olharam. Halley soltou uma
risada atrás de mim.
– Eu? Levar vocês para Plutão?
– Sim – respondemos.
– Para ser sugado e acabar como Ison que morreu
queimado? – após Halley dizer isso ele mexeu os ombros como se tivesse tido um
calafrio.
– Ison está vivo – disse eu.
Halley abriu a boca em espanto.
– Ison chegou próximo ao Sol, bem próximo e não
morreu, e você Halley, está com medo? – tentei soar convincente.
Ele analisou por um momento a proposta, mas
entendi que agora era a hora de persuadi-lo.
– Eu pago vinte reais terrestres – e mostrei o
dinheiro.
Halley olhou para o céu, mas a neve caia tão
pesadamente que ele desistiu da ideia.
– Ok, eu levo vocês, mas se alguém perguntar
qualquer coisa sobre isso, nem ousem em falar meu nome, digam que quem levou
vocês foi meu irmão gêmeo, Mailey – ele disse.
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