PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

quinta-feira, 20 de março de 2014

a

1 RESTRITO
O telefone começou tocar enquanto eu estava na cama deitado. Praguejei aos deuses e resolvi não atender, estava cansado demais depois da última noite. Tinha certeza que não era nada de importante, só alguém ou minha mãe querendo me avisar: está muito tarde para continuar dormindo Pedro/Peter, acorda!
Levantei da cama e fui tomar banho, quando a água gelada caiu na minha cabeça, sai pulando no banheiro. Havia esquecido que não tínhamos mais água quente. Ótimo, pensei. Saí do banheiro e fui me arrumar, peguei minha mochila e fui para escola.
Como sempre, a escola seria irritante ou essa nova superaria os limites. Estava morando em Washington, nos Estados Unidos, desde que meu pai sumiu pelo universo a fora, e fomos custeados pelo governo. Mas não adianta nada, porque parece que nem água quente existe nesse local.
Chequei o celular e vi várias notificações de aplicativos, redes sociais e o mais estranho: ligações restritas perdidas. Espantei, pois ninguém – mesmo – ligava para mim, e quando ligam, ligam restrito. Mas não era a primeira vez que este número restrito me ligava, desde os últimos meses sempre meu celular vibrava, atendia umas vezes, mas ninguém dizia nada e eu desligava achando que era trote.
O tempo estava ruim naquele dia, nevava e eu como um brasileiro nato achei tudo lindo de primeira vista, porém depois que foi conhecer as desvantagens. Meu lábio já estava ardendo, minhas mãos congelando, mesmo com todas as roupas que eu estava e sentir minhas bochechas para sorrir para algum conhecido era um milagre, que eu ainda não tinha dominado.
Entrei no ônibus rapidamente e sentei na cadeira preferencial, não que eu tenha algum problema, mas foi a primeira vazia que eu avistei. A viagem para a escola seria longa...
Peguei o livro de história e comecei dar uma lida. Pior do que estudar, é estudar em inglês. Sou fluente, moro nos Estados Unidos há seis anos, porém no quesito estudar e armazenar informações, na língua materna fica mais fácil. Nas minhas primeiras provas do Sr. Chang, escrevi as respostas em português, óbvio que ele ficou irritadíssimo por ter que traduzir e levou o caso para a diretoria, alegando que eu não estava preparado para saber inglês porque não tinha me desapegado do português. Fiz um show com o diretor, chorando e dizendo que a minha situação estava difícil e que ninguém estava me ajudando (tudo mentira) e o diretor Bernstein dobrou minha carga horária na escola, acrescentando Teatro, Culinária e Fotografia, pelo argumento de: você precisa se integrar mais com os alunos.
Tomei um susto quando algo começou a vibrar no meu bolso. Retirei o celular e vi no visor “RESTRITO”, devia ser um sinal para eu não ter que estudar. Atendi a ligação.
– Alô? – disse e todo o ônibus me olhou. Eu estava falando português em meio de vários americanos.
Ouvi um chiado do outro lado da linha.
– Que merda, pare de me ligar! – reclamei.
– Pedro? – uma voz conhecida ecoou em meu ouvido. Reconheci no momento, era a voz de meu pai. Meu pai, Joseph, ou José, o grande astronauta que sumiu no universo. Senti agulhas geladíssimas pinicando em minha nuca, enquanto meus pelos arrepiavam. – Eu ligo depois, por favor, atenda.
E desligou.
Fiquei parado por uns minutos até percebi que havia perdido o meu ponto. Levantei correndo do lugar e bati na janela. O motorista entendeu que eu queria descer e resmungou algo abrindo a porta. Pedi desculpas e ele gritou que não pararia para mim amanhã.
Cheguei à aula do Sr. Chang atrasado e ele somente bufou por uns segundos, achei que ele não se importaria, mas começou a dar um discurso sobre responsabilidade e fazendo comparações sobre o compromisso que os soldados que lutaram nas grandes guerras tiveram com o nosso de ir às aulas sem chegar atrasado. Senti a direta com sucesso.
Passei o resto do dia tendo aulas inúteis, alguns professores somente falando sobre o tempo, que era o pior que Washington tinha enfrentado em séculos e todos nós concordando, desenhando nos fichários ou mexendo nos celulares. Pensei na ligação e na voz parecidíssima com a do meu pai que ouvi. Eu precisava ligar para minha mãe e avisar. Pedi para ir ao banheiro a Senhora Masp e ela gentilmente deixou.
Sai aliviado e fui direto ao banheiro, peguei o celular e liguei rapidamente para minha mãe.
– Mãe! – chamei – você pode falar?
O barulho do fundo estava irritante, parecia que ela estava em um grande show de rock, porém era o trabalho dela. Ela arrumou um emprego em uma grande empresa de publicidade que para estimular a imaginação dos empregados fazia de tudo para descontrair o ambiente. Tinha dias que tocavam pop, tango, e outros dias que o zoológico mais próximo emprestava gravações de seus animais para tocar, bizarro, mas de lá saiam as melhores campanhas e os jingles grudentos mais chatos.
– Sim, pode falar.
– Um número me ligou restrito hoje e eu atendi. A voz era igual a dele... – não tive coragem de completar e dizer pai.
– Dele quem, Pedro? – indagou.
– Pai – respondi friamente.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
– Você deve estar louco – ela disse rindo – ou era outra pessoa e você tinha acabado de acordar e imaginou coisas.
– Não, eu não estou louco, era ele sim – afirmei – Eu me lembro da voz dele, ok?
– Ok Pedro, mas na próxima vez, pergunta quem é primeiro. Alguma coisa mais?
– Não, só isso – e ouvi alguém gritando Monica no fundo – Preciso ir, à noite jantaremos noVidalia ok? Tchau.
E ela desligou.

Saí do banheiro e enquanto andava pelos corredores da escola, ouvi um barulho muito alto. O desespero me preencheu rapidamente e abaixei no chão, pensando que seria um terremoto. Gritos invadiram os corredores e vários estudantes gritando e tirando os celulares do bolso para gravar o que estava acontecendo surgiram.
Levantei e segui-os, todos estavam de olho na sala da senhora Masp, esgueirei-me e pedi licença para pegar as minhas coisas. Alguns dos meus colegas de sala estavam saindo. Alguns gritavam, outros estavam paralisados com a mão no rosto e uma expressão de choque, entrei na sala e vi pelas janelas. Uma enorme bola de fogo estava a alguns metros da sala, um meteoro – como alguns estavam berrando no fundo - olhei com mais precisão e vi o tamanho, era enorme, queimava e tinha derretido toda a neve que estava em volta.
Ouvi “Somos cosplay do Arizona agora?” e alguns riram. Foi quando houve outra explosão, do outro lado do prédio, corri para fora da sala e vi: outro meteoro caiu, mas agora dentro da escola explodindo os armários do outro lado do corredor. Havia alguns alunos feridos e todos gritavam e ligavam para o socorro. Meu professor de física chegou ao corredor e deu um grito, estava espantado. Senti a vibração do celular e atendi mais uma vez o número restrito:
– Estou? Hello? Alô? Bueno? Oigo? – uma voz feminina falou.
– Que? – respondi saindo da confusão, tentando me afastar para ouvir direito.
– Alô? É Pedro Peter? – indagou.
– Um dos dois, sim – respondi e fiquei desapontado, a ponta de esperança de ouvir a voz de meu pai mais uma vez se foi.
– Pedro, Peter, Pedro Peter, tanto faz, irei ser rápida e precisa ok? Necessitamos de você com urgência – ela disse.
Outra explosão e o teto tremeu. A escola estava sendo atacada por meteoritos. Sai correndo como todos estavam fazendo, entrei na sala do almoxarifado e ouvi na ligação um som estranho, como o som que um carro de fórmula um emite passando em alta velocidade.
– Mas quem é você? – questionei.
– Meu nome é Sky, mais apresentações depois. Sua linha já está habilitada, só digite asterisco, dois, e jogo da velha e nos ligue, precisamos muito de você.
E a ligação caiu.
Ri por um momento. “Meu nome é Sky”, Sky, céu em inglês, e no mesmo momento ocorrendo uma chuva de meteoros estranha, e “sua linha já está habilitada” estava eu ligando para operadora de telefonia? Presumo que não.
A vida estava tão difícil naquele momento que resolvi arriscar. A chama de esperança de ouvir e ter informações a respeito do meu pai surgiu novamente. Peguei meu celular e vi: 59% de bateria. Abri o discador. Apertei asterisco, dois, jogo da velha. Parei por um segundo e pensei no que eu estava fazendo. Sendo vítima de um trote, é claro.
Gargalhei e apertei o botão de ligar.
A tela do celular mudou completamente. O número *2# brilhava na tela e em vez da contagem progressiva dos minutos da ligação iniciar, uma regressiva começou. Trinta segundos. Encarei meu celular e presumi que seria algum bug ou algum segredo da marca que eu não sabia no momento. Olhei para os altos e não vi nenhuma câmera, eles deveriam estar bem escondidos e eu passaria em algum programa hoje à noite ou amanhã, pegadinhas no mínimo.
No interior de minha mente a voz do meu pai ecoou novamente “Pedro?”. A voz da minha mãe “Você deve estar louco” e a voz da última pessoa estranha “Necessitamos de você”.
Quinze segundos.
Eu já estava rindo por dentro, me imaginando na televisão. Eu em casa, rindo com minha mãe no sofá e ela dizendo enquanto comia amendoim “Você é muito besta”.
Talvez depois de todo o país assistir minha pegadinha eu poderia virar uma celebridade, um viral da internet, ficar famoso. Abri um sorriso.
Dez segundos.
Aí talvez o Sr Chang parasse de reclamar comigo, e o Diretor Bernstein retirasse a grade curricular extensa que eu tinha, porque eu seria uma pessoa importante.
Cinco.
Quero estar ao menos sorrindo na televisão.
Quatro.
Pelo menos, quando a fumaça da pegadinha desaparecer, eu preciso estar apresentável.
Três.
Talvez o apresentador entrasse no almoxarifado com umas buzinas na mão e jogando confetes.
Dois.
Iríamos rir e eu daria uma bela entrevista sobre o medo que eu senti e perguntaria como eles recriaram tão bem meteoritos.
Um.
Zero.
Nada aconteceu.
Olhei para o celular, e onde estava escrito *2# havia mudado para “Lua, Domínios de Sky”, semicerrei os olhos tentando entender, quando a tela ficou branca. A tela, as paredes, e tudo que estava em minha volta. Meus olhos não aguentavam a clareza, fechei-os.
O som se fechou em meus ouvidos como o final de uma música que termina subitamente, e eu senti cada parte do meu corpo sendo transferida para outro lugar. O medo de invadiu mais uma vez, segurei o celular com força.
Minha cabeça começou a girar como se alguém me balançasse loucamente, quando finalmente a sensação de que a clareza tinha ido, abri os olhos com muita relutância, imaginando que a equipe de filmagem já estaria me filmando e estaria só esperando eu abrir os olhos para começarem a gritar e me zuar.
Eu queria que estivesse certo disso.
Abri os olhos e vi algo totalmente estranho. Eu estava pisando em um chão cinza, rachado e cheio de buracos. O céu estava escuro, mas bem no fundo eu via pontos brilhantes. Não havia cheiro, eu respirava tranquilamente.
Eu já tinha visto aquilo tudo em filmes, eu estava na Lua.

– Até que enfim hein, achei que nunca iria fazer a conexão – uma voz masculina ecoou atrás de mim.

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