PRIMEIRA VEZ LENDO STARS CHRONICLES?
sim?
Eu, Austin, estrela mais poderosa do universo (cof, cof) irei te ajudar: Vá ao Arquivo, ali no canto direito, e clique primeiro em março > a, vai ser o primeiro capítulo, e assim sucessivamente, se ainda estiver perdido, há um número grande como esse aqui em baixo que mostra o número do capítulo.

terça-feira, 25 de março de 2014

MAMA I'M IN LOVE WITH

6 EM BRANCO
Quando eu era pequeno depois de insistir muito, minha mãe me deixava assistir televisão até mais tarde, só que eu nunca aguentava, então no meio da madrugada sentia meu pai me pegando no colo e me levando na cama. Era uma sensação boa, de segurança e de conforto. Mas não mais...
Uma mão gelada me segurava e me arrastava pelo chão. Não era nada confortável. Abri os olhos e vi Chloe e Haro andando como prisioneiros, algemas nas mãos e resmungando.
– Me soltem! – Chloe gritava – Vocês sabem quem eu sou?
– Não interessa – a voz do que me arrastava surgiu.
Olhei para ele e demorei um pouco para entender sua aparência. Ele tinha fisionomia humana, sim, mas seu nariz era tão achatado que parecia que ele não tinha. Seus olhos e cabelos não eram pratas, mas sim um azul muito escuro que brilhava lindamente. Qualquer mulher invejaria aquele cabelo liso certamente. Usava roupas azuis escuras também e em sua cintura várias armas estavam já preparadas.
Estávamos dentro do local parecido com a Base que avistei descendo para Mercúrio, mas aqui era diferente. Não precisava de tanta luz, pois a luz do sol irradiava e penetrava por dentro da construção, iluminando tudo numa coloração laranja.
Continuamos andando até chegar a uma espécie de cela. Uma sala pequena, como um quarto comum, sem nenhum objeto. Nenhuma cadeira, nenhuma cama, nenhuma pia, nada. Somente três prisioneiros.
– Cadê os reais habitantes deste planeta? – indagou Chloe ao ser jogada – Vocês não são originários daqui!
Um dos guardas riu.
– Não somos mesmo, garota da Lua – respondeu.
– Então vocês são de onde?
– Você não precisa exercitar muito a mente para saber. Iremos dominar a galáxia – o que me carregou respondeu, aproximando-se da cela e trancando a grade.
Chloe fez seu habitual olhar raivoso, levantou chutou a grade. Sem sucesso. Ela caiu no chão frustrada.
– Chloe, não vale a pena – consegui dizer. Não sei o que estava acontecendo, mas eu estava sem ar e algo estava me impedindo de fazer tudo.
Ela pareceu não escutar. Batia a mão na parede e passava a outra nos cabelos prateados. Deduzi que ela deveria sofrer de claustrofobia.
– O que está acontecendo? – perguntei.
– Eles são habitantes de Plutão, Peter – respondeu Haro – Estão invadindo todos os planetas e viemos parar na Base mais próxima do planeta deles.
Chloe respirou fundo e xingou alto.
Encostei a cabeça na parede e tentei pensar na burrada que tínhamos entrado. Agora estávamos enclausurados por Plutão, quando o propósito era voltar para a Base o mais rápido possível com a notícia “conseguimos conter Plutão” e não “fomos presos por Plutão”. Continuei respirando forte e tentando pensar em alguma coisa a se fazer, mas nada se formulava em minha mente. Quanto mais eu pensava, mais com medo eu ficava.
– O que iremos fazer? – murmurei para Haro, tentando falar o mais baixo possível para os habitantes de Plutão não escutarem.
– Não sei – respondeu sincero – Precisamos de tempo para pensar e para conhecer uma saída.
– Precisamos de tempo – repetiu Chloe.
– É – confirmei.
– Já sei! – Chloe disse – Entre na onda, Peter.
Ela se levantou e foi até a grade. Bateu no ferro e começou a chamar alguém. Olhei para Haro e nem ele estava entendendo o que Chloe estava fazendo.
– EI! VOCÊ! – berrava ela – AJUDA!
– Chloe? – disse Haro.
Um guarda aleatório, mas com as mesmas feições dos outros apareceu. Chloe bateu a mão na grade mais uma vez e pediu para ele se apressar.
– Você tá vendo ele ali? – e apontou para mim – Ele é humano. Terrestre. Uma ameaça.
Fiquei paralisado. Chloe estava louca! Eles certamente iriam me matar depois dela ter dito que eu era uma ameaça, o que nunca é interpretado direito.
– Vocês, anões, deviam estudá-lo. A única chance disso é agora – ela disse e o guarda passou a mão no queixo, avaliando o que Chloe estava tentando por em sua mente – Vocês não vão colonizar a Terra? Então! – bateu as mãos.
O guarda chamou outro no final do corredor e em uma língua totalmente estranha sibilou algo. O outro concordou.
O primeiro abriu a grade e começou a andar lentamente até mim. Parecia que eu tinha alguma doença ou que eu era muito perigoso. Olhei para Chloe e vi-a fazendo um sinal de ok. Confiei.
– Hein – ouvi Chloe perguntando para o outro – Essa construção é feita de que? Está tão próxima ao sol...
O guarda prendeu mais uma algema em meus pulsos e me levantou tocando muito pouco, lançou os braços em direção a porta e entendi rapidamente “Anda terrestre” e fui.

Andamos por vários corredores, ele mantendo uma distância de mim e eu procurando alguma saída, como Haro disse. Não parecia existir uma. Mesmo conhecendo pouco a Base, tinha certeza de que essa era mil vezes maior por dentro ou a quantidade absurda de corredores fazia parecer.
 O guarda falava de minuto em minuto com alguém que vigiava alguma porta, mas eu também não compreendia nada. Viramos à esquerda e no fim do corredor havia uma porta branca. Acho que este era meu destino. Esperava que Chloe não tivesse me dado uma passagem só de ida me chamando de ameaça.
A porta abriu e um homem baixo de feições idosas como um humano, cabelos grisalhos e vestindo um jaleco apareceu sorrindo e acenando para mim.
– Então, este é o nosso novo terrestre – disse.
Não soube o que responder, estava meio atordoado com o que iriam fazer comigo. O guarda me empurrou e fui cambaleando até a porta. O homem sorriu mais uma vez para mim e pediu para entrar.
Meus olhos doeram ao entrar na sala. Era enorme, e excessivamente branca. Tudo era branco. Até a escuridão se tornaria branca. Várias máquinas estavam empilhadas e apitando. Na parede ao meu lado várias placas de raios-X estavam fincadas mostrando ossos quebrados e algumas partes que eu jurava que não existiam no corpo humano. Uma grande bancada com um corpo humano dissecado pairava no meio da sala. Fechei os olhos por um momento e agradeci Chloe. Talvez eu fosse o próximo substituto do defunto.
– Então... você não é de falar muito? – disse o homem – Sou Dr. Reynolds e você?
Olhei para ele e abaixei os olhos fitando o chão.
– Sou Peter – disse.
– Peter – analisou o meu nome por um momento – Então, vamos fazer alguns testes?
– Testes do que? – indaguei.
– Eles desejam saber qual é o grau de complexidade entre o seu organismo e o organismo dos que habitam Plutão e os planetas anões. Talvez vocês sejam mais parecidos do que parecem.
Assenti.
– Você já deve ter percebido que todos nós parecemos como humanos aqui – ele estava certo, antes quando alguém dizia algo relacionado ao universo, a primeira coisa que surgia em minha mente eram ETs verdes – Mas saiba que tudo isso é por sua causa. Você mudou todo o universo, sim, mudou, agora todos estão atrás de você, tentando imitá-lo ou te matar.
Tentando me matar.
– Como assim todos estão dessa maneira por minha causa? – quis enrolar mesmo já sabendo da resposta, principalmente depois que a palavra matar entrou em seu vocabulário.
– Quando soubemos que o novo guardião tinha saído da sua zona de conforto, o universo todo mudou. As estrelas mudaram de posição, algumas constelações estão mais agitadas, nebulosas estão se desenvolvendo mais rápido, o tempo e espaço está mudando. Aliás, o Sol vai se afastar do sistema solar para criar uma nova chance de recriar sociedades e Plutão irá participar deste novo projeto. Você poderia ajudar, levaremos sua família e quem você desejar para Ceres, o nosso primeiro anão habitável, estamos trabalhando nisso e já levamos três famílias Plutônicas para Ceres e os resultados são bons.
Não sabia o que responder. Se assentia, se dizia não, ou se acreditava. Dr. Reynolds contou uma versão totalmente diferente do que foi dirigido a mim primeiro. Uma versão amigável do que Plutão estava fazendo.
Ouvindo essa história, qualquer um poderia acreditar que Plutão estava certo.
Qualquer um, menos eu.
– Aham – concordei com a voz alterada demonstrando falsa compreensão – Você pode fazer os testes comigo sim, estou aqui.
Dr. Reynolds sorriu mais uma vez.
Não sei se menti bem, mas nos vinte minutos seguintes Dr. Reynolds fez vários testes comigo. Corri na esteira, fui testado com eletrodos, fiz respirações em um aparelho que parecia com os dispositivos que caem nos aviões quando eles estão caindo.
Mas o pior foi quando Dr. Reynolds me enfiou em uma máquina enorme como se fosse um ônibus espacial pequeno todo branco. Era escuro lá dentro. Ele prometeu que não doeria nada, realmente não doeu, mas a cara que ele fez quando eu saí de lá me deixou claro que algo de ruim tinha acontecido. Ele me olhava incrédulo. Examinou-me mais algumas vezes, ouvindo a batida do meu coração, pediu para eu correr mais um pouco pela sala, pôs mais eletrodos na minha mente e pediu para eu pensar um pouco sobre casa, sobre a minha família e sobre a proposta que ele tinha me ofertado. Pensei em carneiros pulando a cerca e praias.
Após tudo, ele parou em frente de mim e retirou os eletrodos e tirou um celular do bolso. Lembrei-me do meu e tateei o meu bolso, ele ainda estava lá.
Ele andava impaciente, olhando algumas folhas em sua mão e levando-as para a luz tentando descobrir alguma coisa.
– Alô? – disse ele – Passe para ele, por favor.
Sentei em um banco rezando para voltar a cela vivo.
– Vossa Alteza – quando ele disse isso, enrijeci a coluna, na certeza ele estaria falando com alguém importante – Estou com um deles aqui. Pelo o que os testes apresentaram: ele não é nada diferente.
Ele hesitou enquanto a Alteza falava em seu ouvido.
– Sim, mas... – e parou.
Apoiei os braços na mesa e vi vários gráficos, mas não entendi nenhum. “Relação: Sol e Doenças”, “Incidência Solar em Ceres” eram alguns destes.
Os papéis na mesa começaram a tremer, como se estivessem sendo balançados. Tirei as mãos da mesa e ela continuava mexendo. Senti meus pés pulando, como se o chão estivesse instável. Dr. Reynolds parou por um momento e tentou adivinhar o que estava acontecendo, ainda com o telefone na mão. Um solavanco levou a sala para direita e caímos no chão. Algumas placas de raios-x caíram e de dentro delas um cheiro estranho de lâmpada queimada surgiu.
– Príncipe Brandon? – gritava o Dr. Reynolds – Alteza, você está aí? Está ocorrendo alguma coisa aqui!
Nunca havia presenciado um terremoto, mas presumi que estava ocorrendo um. Um solavanco para esquerda ocorreu e rolei até debaixo da mesa. Dr. Reynolds continuava em pé com as mãos abertas tentando se equilibrar.
Talvez era essa a chance.
Levantei e tentei não cair, andei até a porta branca e abri. O corredor estava piscando vermelho e agora os solavancos estavam mais frequentes. Eu era jogado de um lado para outro do corredor, tentando segurar e apoiando nas paredes.
Um guarda apareceu no final do corredor e gritou algo que não entendi. Sacou a arma e começou a atirar. Joguei-me no chão gritando. Todo o local foi jogado para cima e fomos lançados até o teto. Voltei e bati de cara com o chão.
Dr. Reynolds apareceu ao meu lado, tentando fugir também. Levantei e o peguei pela gola.
– O que deu nos meus resultados? – perguntei e o corredor nos balançou para a esquerda fazendo ele se virar e ficar no poder em minha frente. Eu poderia estar morto neste momento.
– Branco – ele disse.
Em branco? Mas eu era humano. Havia nascido na Terra, tinha pais terrestres e meu resultado estava em branco? Era impossível.
– Mas por quê – indaguei.
Antes que ele pudesse responder, o guarda voltou a atirar e infelizmente acertou Dr. Reynolds na cabeça. Fechei os olhos antes de a explosão ocorrer e me abaixei. Sangue e pedaços do médico voaram em minha roupa e minha pele. Abri os olhos lentamente e o vi o guarda correndo pelo corredor, desesperado.
O celular do médico caiu próximo a mim. Peguei e coloquei no ouvido, tentando lembrar com quem ele estava dizendo.
– Alô? Alteza? Brandon? – disse.
Ouvi um ruído do outro lado da linha e me coloquei de joelhos.
– Quem é? – a voz disse. Era uma voz masculina, mas pelo tom, eu não daria dezoito anos para o dono dela.
– Pedro ou Peter, você que escolhe – respondi e sofri mais um tranco e cai da posição que estava – Estamos indo aí, acabar com você – ameacei. 
– Peter, você está entendendo tudo errado – Brandon disse.
– Entendendo tudo errado? Por sua culpa estou preso no universo resolvendo seus problemas e procurando meu pai, que não duvido nada que está preso por sua causa. 
– Não venha a Plutão agora!
– O que você irá fazer? Me matar? Já que eu sou uma ameaça?
Ele suspirou.
A ligação caiu.
Continuei deitado no chão, com o local tremendo e um corpo ao meu lado.
Brandon, Vossa Alteza, ou o Príncipe tinha me irritado. Esta base era dele. Essa tropa era dele. O guarda que tentou atirar em mim e saiu correndo servia a ele. O que mais ele dominava no universo?  Tudo?
Levantei em meio à tremedeira e fui andando apoiando pela parede esquerda. Virei a primeira a esquerda e dei de cara com Haro.
– O que está acontecendo? – gritei.
– Estamos procurando uma saída – ele respondeu.
– Está tudo tremendo – disse.
Ele continuou com a expressão normal e continuou procurando alguma porta que desse a algum local. Segui-o.
– É Chloe. Ela está balançando o local – revelou – há uma pequena camada de água entre as paredes para não sofrer ação do Sol, e Chloe tem grande influência sobre as águas e marés.
– E onde ela está? – perguntei.
– Na cela, dormindo.
Continuamos correndo, mas nada de acharmos saída. Tudo parecia voltar ao mesmo local de sempre. Passamos pelo corpo do Dr. Reynolds por umas cinco vezes e concluímos que não tinha saída.
Estávamos presos para sempre.
O local parou de tremer e imediatamente Haro olhou para mim assustado.
– Ela acordou.

Corremos até a cela sem esbarrar com nenhuma tropa e vimos Chloe com uma arma na cabeça. Era o guarda que tinha me levado à sala do Dr. Reynolds.
– Acho que é melhor pedirem para ela parar – ele disse sinicamente.
Assentimos e voltamos à cela.

Agora, estávamos sendo vigiados por cinco guardas em frente a grade e dois nas duas portas que davam entrada a nosso corredor. Chloe estava proibida de mexer com as águas do local novamente. Ou iríamos todos ser mortos.
Contei para eles o que ocorreu na sala e como foi a minha conversa com Brandon, o príncipe, no telefone. Chloe socou a parede ao ouvir esse nome.
– Eu sabia que ele ia dar problema, era só uma questão de tempo – disse ela irritada.
– Brandon, aquele das leis dos satélites? – perguntou Haro, com duvida.
– Sim – respondeu Chloe.
– Precisamos sair daqui e ir a Plutão – disse eu.
– Se você arrumar uma maneira, eu vou ser a primeira a correr para fora deste local. Você não percebeu que nosso ônibus também foi destroçado não? Vamos ir como? Voando? – ela disse.
Tinha me esquecido da queda que sofremos depois de sermos atingidos pelo meteoro na via comum. O ônibus tinha sido destruído mesmo. A ficha de que estávamos realmente presos aqui ainda não tinha caído, mas eu estava certo de que iria cair no pior momento.
– Plano B – diz Haro.
Olhei para os dois e não entendi.
– O que é um plano B? – eu sabia que era um plano no qual usávamos quando o plano principal, mas se o plano A, que foi causar a tremedeira no prédio não tinha dado certo...
– Sou uma estrela quase recém-nascida, tenho uma audição de uma constelação toda e olha que elas são piores do qualquer vizinho que você já teve na Terra – respondeu Haro.
Ele fechou os olhos. Olhei para Chloe que esperava apreensiva: olhava para os guardas e para Haro, quase ao mesmo tempo.
– O que ele... – disse, mas Chloe me deu um soco pedindo silêncio.
Haro estava concentrado, levando a mão nos ouvidos massageando-os.
– O elo? – ele sibilou – muito difícil de acontecer. Vai ter de ser pelo convencimento mesmo.
Chloe olhou para mim incrédula. O elo já estava feito e o Sol estava se afastando.
– Ele não vai querer. Temos que nos livrar dele. Tenho certeza absoluta – voltou a dizer Haro que estava escutando tudo o que estava sendo falado pelos corredores e repetindo.
De quem eles estavam falando? De mim? De quem?
– O que importa é que o Imperador já possui dois dos oito planetas conquistados. Só não se sabe se ele vai invadir a Terra agora ou pulará para os laranjas em Marte.
“Mas como os resultados que o Dr. Reynolds conseguiu antes de morrer, provaram que invadir a Terra será fácil como puxar a cauda de um cometa.”
– O que vocês estão fazendo? – quis saber um guarda virando-se. Os outros quatro se viraram e viram nós, quase virados para a parede e Haro com a cabeça baixa.
– Ele está descansando – respondi.
O guarda me encarou semicerrando os olhos negros e concluiu que eu estava falando a verdade. Voltou a sua posição inicial e Chloe e eu voltamos a ouvir Haro.
–... Vênus está totalmente sim, segundo os relatos, estão 100%.
– Ei, silêncio – outro guarda gritou e os outros riram.
Haro murmurava e eu não estava nem mais ouvindo.
– Calem a boca! – gritou outro erguendo a arma.
Chloe estava se irritando novamente.
– Ouviram não?
Ele ergueu a arma e Chloe ergueu a mão.
– Quem vai arriscar primeiro? Eu ou você? – disse ela.
Ele olhou com raiva e ela rebateu com o olhar fulminante. A tensão pairava no ar e por pouco uma briga não se iniciou. Chloe podia ser muito violenta quando quisesse, eu sabia disso, mesmo conhecendo-a somente há alguns dias.
Depois da quase briga, sentamos e ficamos esperando algo de bom acontecer. Finalmente, trouxeram algo muito ruim para comermos, uma mistura parecida com uma sopa de cor cinza. Chloe não quis comer, então Haro e eu comemos uma porção e meia cada um. Não era bom, mas eu já estava sentindo falta de comer. Lembrei-me da bolsa com comida em forma de pasta de dente. Tudo tinha sido perdido.  
A noite caiu e os guardas começaram a sair de pouco a pouco, depois de quase sete horas de nós três somente deitados ou sentados fazendo nada, eles entraram em consenso que não iríamos fazer nada mais e foram dormir ou fazer outra coisa.
Chloe e Haro não tinham mais ideias. Chloe não podia chamar nenhuma prima, pois Mercúrio e Vênus não tinham Luas. Haro ainda sentia a presença de seu irmão e eu sentia sono. Encostei-me à parede e dormi.
Em meu sonho, minha mãe e eu estávamos sentados num restaurante muito bonito, não era o Vidalia e parecíamos muito felizes, rindo de absolutamente tudo.
O garçom trouxe o vinho e minha mãe ria intensamente enquanto o líquido escuro preenchia a sua taça.
Ela ria tão naturalmente que nem parecia a  Mônica que eu conhecia. Seu rosto estava simples, sem muita maquiagem. Seus olhos castanhos claros estavam em foco e seu cabelo castanho cacheado balançava conforme ela mudava de posição na cadeira. Suas joias combinavam com o vestido branco que ela vestia e seu habitual pingente com um foguete brilhava em seu pescoço.
Todos diziam que eu era muito parecido com ela. Todos mesmo. Olhei para mim no espelho. Eu estava com a expressão de cansaço, como se eu não tivesse dormido por uns bons dias. Meus cabelos estavam grandes e caiam na minha testa, algo que eu e minha mãe odiávamos, e minha bochecha estava machucada, um arranhão descia até o pescoço. Minhas roupas também não eram as melhores: um moletom azul por cima de uma blusa habitual preta, jeans surrados           e sapatos escuros. Mas tudo parecia que já tinha sido usado várias vezes, lavado e perdido a coloração original. Eu estava horrível.
– Você não ligou nem um pouco por eu ter largado você por alguns dias? – eu, no sonho, disse.
Minha mãe me olhou e riu.
– Até parece! Senti saudades, mas você estava ajudando nosso vínculo – e seus dentes brancos entraram em meu campo de visão.
– Você sabe que não será fácil, nada fácil – disse.
– Eu sei.
E ela colocou a sua mão na minha. Olhei para a mão dela e vi em sua mão a minha pulseira. A arma, a bandeira, com minha mãe.
Olhei para ela e ela deu mais uma risadinha sincera.
– Não se esqueça delas.
­– De quem? – perguntei.
– Das estrelas – ela respondeu – Porque depois que elas explodem, todos os elementos que estão aí – ela apontou para mim – Fizeram parte um dia de uma.
E acordei.

Primeira coisa que fui checar foi meu pulso. Não estava mais lá a pulseira. Será que Chloe e Haro tinham notado? Eu não tinha nem percebido. 
Quando o sol começou a surgir novamente, senti as paredes um pouco mais frias. O sistema de refrigeração entre elas tinha começado a funcionar. Olhei para Chloe e percebi que ela queria muito causar outro terremoto, mas não podia.
Minutos depois, um guarda diferente apareceu na grade e anunciou:
– Jovem terrestre, habitante da Lua e estrela recém-nascida foram condenados à morte por sentença do Imperador. Execução no mais tardar de hoje.
E se foi.
Iríamos morrer.
Chloe olhou para mim e fitou bem os meus olhos. Senti que ela queria dizer alguma coisa, mas Haro a impediu.
­– Duramos muito.
Assentimos.
– O plano era só ir até júpiter, cortar um bendito elo escondido e voltar – disse Chloe.
–E ir resgatar meu pai em Vênus – completei.
– Ah é – ela fingiu saber que isto também estava nos planos.
– Agora Caronte ficará com a Lua, Sky não terá poder mais sobre ela, e o universo mudará de acordo com o que Plutão desejar – Chloe bateu na parede, dando um soco em seguida.
– E agora morreremos aqui – eu disse.
O ruim de saber que você irá morrer é que sua vida a partir daquele momento fica muito chata. A vontade de se mover some, os pensamentos bons se transformam em pesadelos dentro de sua cabeça e dá para sentir algo pesado tentando amassar seu coração.
Não havia nenhum guarda no corredor, ninguém se importava mais conosco.
– Como eles irão nos matar? – perguntei e os dois arregalaram os olhos, depois pensaram um pouco e viram que a pergunta não era tão estúpida.
– Por mim que me matem com um tiro na cabeça – Chloe disse, sem esperanças até na voz – Simples e rápido.
– Eu não posso morrer – disse Haro e nós dois entendemos.
Se Haro morrer, Herbig irá junto também.
E iríamos salvar Herbig, para Haro não ir junto caso acontecesse algo.
Ficamos em silêncio.

Trouxeram novamente a sopa cinza, mas ninguém ousou tocar. Daqui algumas horas nenhum de nós precisaria mais de comida novamente.
– Gente, eu acho que a pulseira saiu do meu braço na queda – confessei.
“Ah, agora nem faz mais diferença” foi o que os olhares dos dois me disseram.

O sol estava indo e nós também. A água já tinha parado de circular as paredes e sabíamos que dentro de alguns minutos, nossa hora de parar de circular também chegaria.
A porta do corredor abriu e guardas entraram. Seis guardas pararam na grade da cela para nos levar para algum lugar. Levantei com muito reluto e fomos andando, dando nossos últimos passos.
As mãos novamente encontraram as algemas. Agora elas estavam frias, frias como o corpo dissecado que vi na sala do Dr. Reynolds. Frias como as estranhas do médico que caíram sobre mim. Frias como as águas que circulam pelas paredes.
O silêncio mortal foi quebrado.
– Psiu.
Virei e uma explosão branca iluminou o corredor. Cai no chão tentando tampar os olhos com as mãos atadas. Ouvi os gritos de Haro e de Chloe e de alguns soldados que levantaram atirando. Fui engatinhando até o final do corredor enquanto o barulho de tiro zapeava em cima de mim. Vi Chloe e Haro fazendo a mesma coisa.
A porta estava bem próxima, só alguns metros e estaríamos livres desse corredor. Calculei rápido uns cinco metros. Quatro. Três. Dois.
Minha respiração parou, minha pupila estabilizou e meus músculos estagnaram. A pólvora descia pelo ar lentamente e eu lembrei.
“Pó estelar, é o único resquício de ajuda em nossas missões. Ele controla o tempo e espaço”
A pulseira.
Tudo voltou em um segundo e algo parecido com a gravidade me levou a colar meu rosto ao chão.
Me virei e vi um Austin totalmente diferente, com um moletom preto escrito “space invaders”, um jeans novo e tênis novos. Seu cabelo prateado estava totalmente bagunçado e usava um óculos sem lente.

– Trouxe a bandeira para enfiarmos nos olhos dos alienígenas – ele disse.

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