2 ✧ A BASE
Eu
já tinha visto filmes sobre viagens espaciais e se eu não estava louco, eu
estava na superfície rochosa da lua ou em um estúdio muito parecido. Talvez
jogaram algum gás em mim no almoxarifado, perdi a memória e acordei assim, com
o apresentador do programa atrás de mim.
Quem
dera.
Eu
estava realmente pisando no chão cinza rochoso, à minha frente eu via várias
crateras, e o breu imenso no céu. Se eu não estava errado, um passo que eu
desse me faria pular involuntariamente e daqui alguns segundos eu morreria sem
ar. Prendi a respiração e finalmente olhei para trás.
Atrás
de mim, havia um homem de estatura normal, com roupas normais, como um
habitante comum da Terra, porém algo era diferente: seus olhos. Seus olhos eram
de uma coloração cinza, mas brilhavam tão forte que pareciam ser prateados,
assim como seu cabelo, que tinha a cor platinada também. Ele carregava algo
muito parecido com um walkie-talkie e
me olhava com uma expressão engraçada, querendo rir.
–
Pelos anéis de Saturno! O que você está tentando fazer? – ele perguntou e não
aguentou, riu.
Eu
queria responder, mas meu interior dizia: Não!
Abra a boca, ou se mova e você vai virar um Pedro flutuante pelo espaço.
Tentei acenar para ele apontando para a minha boca, mas não aguentei, soltei
todo o ar e arregalei os olhos, achando que estaria morto.
Mas
nada aconteceu.
–
Você não percebeu que você respirar aqui não, Terrestre? – ele indagou e
começou a andar, respirei fundo e dei meu primeiro passo. Não voei, e nem fui
arremessado para cima – Seu pai era mais inteligente.
Meu
pai. Lembrei-me de sua voz.
–
Quem é você? – perguntei.
Ele
se virou e disse de um modo irônico:
–
Alguns me chamam de Deimos, o traidor, vamos lá, comece você também!
Eu
nem sabia quem ele era, mas se tinha ocorrido alguma traição, creio que não
seja da minha conta, então apenas ignorei e continuei andando.
Deimos
e eu andávamos pela superfície lunar, e eu ainda não estava entendendo nada.
Quando chegamos a uma espécie de barco, resolvi parar, cruzei os braços e ri.
Barco na lua? Existe água na lua? Pedi explicações e com muita má vontade
Deimos jogou as palavras como se fosse cuspe:
–
Estamos entrando no Imbrium agora, um mare lunar, ou você vem comigo no barco,
ou pode nadar no silício por si só.
–
Mas não existe mar na lua! – rebati.
Deimos
ligou o walkie-talkie e chamou
alguém.
–
Como ele é chato! – resmungou.
O
barco que Deimos deu o nome de Phobos – diz ele que não serve para nada, só
balança para lá e para cá – navegava por algo cristalino, mas eu sentia que
estávamos deslizando por alguma coisa. Não sabia o que era silício, mas se ele
não quis tocar, eu também não iria querer.
Deimos
conversava no seu walkie-talkie algo sobre estrelas e constelações chatas e eu
observava vários pontos no céu brilhando. De primeira, só via escuridão, porém
olhando fixamente, vi até coisas se mexendo.
–
EEEEEEEEEEEEEIA Carpatus! – ele gritou como se estivesse guiando um cavalo.
Foi
quando eu vi, uma grande cadeia montanhosa tinha se materializado em nossa
frente. Era enorme, como um arranha céu. Estávamos passando por dentro de duas
montanhas parecidas com o Grand Canyon. Se eu estava realmente na lua, como
ninguém tinha visto isso pela terra?
Passamos
pelas grandes montanhas e batemos em uma rocha. Deimos se levantou e fiz o
mesmo. Saímos do barco e voltamos a andar pela superfície. Foi então que eu vi.
A
alguns metros de distância, estava um enorme prédio parecido com o pentágono
americano. Era enorme, do tamanho de um estádio de futebol. As paredes eram de
metal e não avistei nenhuma janela, além de um portão enorme.
Aproximamos-nos
e no canto direito do portão havia um teclado colorido, que deveria ser para
colocar a senha. Deimos apertou vários botões e em questão de segundos, o
portão desapareceu, sumiu e entramos.
Dentro
dos corredores largos e iluminados do local, Deimos andava na frente
rapidamente, como se já soubesse aonde ir comigo. Eu olhava afinco a todo
detalhe: as luzes que pareciam não acabarem, as portas com vários nomes
estranhos que não consegui ler, pois Deimos me apressava.
Entramos
em mais uma porta e no meu campo de visão surgiu um local enorme, do tamanho de
uma quadra escolar, cheio de pessoas com fisionomia humana, correndo para lá e
para cá com papéis e walkie-talkies na mão. Havia vários monitores enormes nas
paredes, computadores, e uma réplica do sistema solar pendurada no teto.
–
Bem vindo à Base – Deimos disse.
Depois
de algum tempo parado na Base, sentei-me em um puff prateado e esperei
acontecer alguma coisa. Deimos parecia muito ocupado, pois sempre alguém estava
atrás dele, dizendo algo ou entregando algum papel para ele avaliar, no qual
ele olhava com cara de desgosto. Outro menino, também de expressão prateada
entrou no portão e gritou “Ela está chegando” e Deimos gritou bem alto “Você já
disse isso mil vezes, Austin, cale a boca ou enfiarei um meteoro nela”.
–
OI! – algo do meu lado direito me chamou e tomei um susto.
-
QUEM É VOCÊ? – outra voz do lado esquerdo gritou no meu ouvido.
Virei
para os dois lados e vi dois meninos com cabelos cinza, aparentando seus nove,
dez anos, com bonecos de ação em suas mãos. O do lado direito apertava tanto o
brinquedo que a cabeça estava a pouco de soltar.
Ia
dizer meu nome, porém o do lado esquerdo me interrompeu:
–
Sou Herbig!
–
Sou Haro! – o outro disse.
–
Sou Pedro ou Peter – por fim disse.
–
Olha que legal que eu achei andando por aí – Haro mostrou-me o brinquedo – É tão
legal, mas é tão triste o jeito que os Terrestres jogam as coisas assim no
espaço. Não somos o lixão deles. Daqui a alguns anos estaremos iluminando o céu
e eles fazem isso com a gente ainda? É algo triste, nem o pó está dando mais conta.
–
Você fala demais, irmão – disse Herbig e Haro jogou o brinquedo em seu rosto.
Os dois se levantaram e correram um atrás do outro, escondendo-se atrás de Deimos,
que não gostou nem um pouco, e atrás do menino que já tinha dito mil vezes,
Austin.
Continuei
jogado no puff esperando algo de bom acontecer, eu olhava para o teto e via o
sistema solar: o Sol, Mercúrio, Vênus, a Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano
e Netuno. Senti saudades de Plutão.
Foi
quando ela entrou. Ela era alta, graciosa, pele pálida e olhos e cabelos
prateados. Usava um vestido que parecia ser seda, mas quando olhei de perto,
parecia mais metal transparente, dela irradiava uma aura imensa, ela brilhava,
cintilava e reluzia todo o ambiente. Todos pararam seus afazeres para fazer uma
reverência. Fiquei paralisado, pois não sabia o que iria fazer. Ela procurou
pelo local, avistou Deimos e gritou:
–
Cadê ele? – e imediatamente achei que se referia a mim.
Sentamo-nos
ao redor de uma mesa transparente no meio do local, o Sol, ficava exatamente em
cima de nós, Sky, se sentou e se apresentou: Luna Selene, ou somente Sky, a
imperatriz do satélite natural da Terra. Algumas pessoas a mais sentaram
conosco, o menino Austin, Deimos, uma menina muito estranha que não possuía cabelos
prateados e nem nada em igual com as outras pessoas no recinto, Lucy, e Herbig
e Haro, que tiveram permissão de sentar depois de muita birra.
–
Então, Pedro Peter – senti vontade de corrigi-la – Como eu lhe disse, estamos precisando
de sua ajuda.
–
Estamos mesmo na lua? Por que eu estou respirando normalmente? Eu não deveria
ser um astronauta usando aquelas roupas brancas e pesadas? Eu estou morto? – desabafei
perguntando tudo o que estava preso dentro de mim.
A
mesa toda caiu em risadas. Eles deviam estar achando que era no mínimo,
desesperado, mas a verdade era essa.
–
Sim, você está na lua, você não respira, pois você é o último, até agora da linhagem
que proveio da Terra, você tem benefícios no espaço e no tempo que até agora
você não conhecia, e como seu pai parou de trabalhar conosco, achamos viável
você nos ajudar. E não, isso não é a vida após a morte – Sky respondeu rapidamente.
–
Mas pode ser – disse uma voz feminina calma. Uma menina que ainda não tinha
visto se sentou à mesa, ela irradiava a mesma áurea que Sky, logo, percebi que
eram irmãs.
–
Chloe, cuidado com o que você diz – disse a menina estranha, Lucy.
–
Parem vocês duas – orientou Sky. – Então, Peter Pedro, você está cansado de estudar
sobre o universo correto? Só que você nunca teve a aula certa. Não importa
quantos filmes você já viu, mas você não conhece a verdadeira história e...
–
Infelizmente – resmungou Deimos e tive a certeza de que ele não tinha gostado
muito de mim.
–
Você está incluído nela – concluiu.
–
O quê? – questionei – Eu? Incluído na história do universo? Mas meu pai já era
astronauta, os problemas são dele e não quero que eles venham para mim.
–
Quem dera se você pudesse escolher, querido – ela voltou a dizer – O que
acontece é que, vou explicar bem devagar para que você não finja que não
entendeu ok? – parou e respirou fundo – Muitos milênios atrás, foram surgindo
as galáxias dominadas pelas Dinastias, a nossa, Láctea, é uma Dinastia
realmente forte e unida, temos parentes, primos, tios ao redor da galáxia,
então, o Senhor todo poderoso, meu avô, Sol, resolveu criar uma família por ele
mesmo, pois estava se sentindo só. Criou nove herdeiros, como você já conhece:
Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão, e cada
filho dominava um planeta. Quando esses filhos tinham filhos, eram gerados os
Satélites, como este que estamos agora, eu, Sky, sou filha da Terra, e você,
Pedro Peter, é descendente desta linhagem. O antecessor era o seu pai, porém,
explorando Vênus, perdemos o contato total com ele, e sobrou você. Infelizmente, ou felizmente, o destino traçado
há muito tempo atrás, incluiu você agora, e não cabe mais a sua escolha, vai
ser obrigação, poucos descendentes rejeitaram, e os que, não tiveram um fim
muito bom.
Pedi
um momento para processar tudo o que eu tinha acabado de ouvir. Era isso mesmo?
Eu não estava ficando louco? Porque parecia...
–
E quem são vocês? – indaguei antes de pensar em confiar em estranhos.
–
Eu sou Sky, imperatriz lunar.
–
Sou Chloe, desbravadora dos solos galáxicos.
–
Eu sou Deimos, a lua traidora.
–
Sou Austin, uma estrela em fase de transição.
–
Somos Protos! – gritaram os irmãos Herbig e Haro.
Sky
me lançou um olhar fulminante, esperando que eu já tivesse entendido tudo, e
disse calmamente:
–
Então, como eu disse, nós precisamos de você, pois seu tio, Plutão, está louco.
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